Lançada em 27 de setembro de 2012 pela CBS, a série Elementary é uma interessante releitura das aventuras de Sherlock Holmes, personagem criado por Arthur Conan Doyle, escritor e médico britânico. Conhecido entre os amantes de histórias de mistério, o Holmes original é um investigador brilhante, e com ajuda de seu assistente e amigo Dr. John Watson consegue desvendar crimes a partir de pistas pouco convencionais.
Contando com 24 episódios, Elementary foi criada por Robert Doherty e apresenta uma versão contemporânea das histórias de Doyle. Com um total de 6 temporadas lançadas, as cinco primeiras temporadas estão disponíveis no catálogo da Netflix, e a 7ª temporada será a última da série.
A primeira temporada pretende apresentar ao público as principais figuras envolvidas no enredo e mostrar a perigosa disputa entre Holmes e seu arqui-inimigo Moriarty, outro dos personagens criado por Doyle. Contudo, é possível assistir os episódios de forma independente, já que cada um possui uma história com começo, meio e fim.
Elementary tem seus méritos, especialmente por transportar Holmes e Watson para o presente, recaracterizando-os para torná-los ainda mais interessantes. Entretanto, o número excessivo de episódios pode cansar a espectadora, já que a identidade de Moriarty será revelada apenas nos momentos finais da primeira temporada.
AVISO: O texto a seguir contém spoilers da série
Elementar, minha cara Watson
Sherlock Holmes, interpretado pelo britânico Jonny Lee Miller, atuava como consultor na Scotland Yard, até mudar-se para Nova York, onde passou a auxiliar a polícia local na solução de crimes como detetive consultor. Holmes é um dependente químico em recuperação e, por isso, uma acompanhante sóbria é contratada para auxiliá-lo no processo.
Joan Watson, vivida pela atriz norte-americana Lucy Liu, atuava como cirurgiã, porém, abandonou a medicina após perder um paciente. Sua inclinação por ajudar as pessoas acabou levando-a se dedicar a reabilitação de viciados em drogas e o acaso a aproximou de Holmes.
Inicialmente, a mudança de gênero de Watson parece acontecer com propósitos românticos, pois Holmes e Watson se afeiçoam reciprocamente com o avançar dos episódios. Entretanto, percebe-se que, na verdade, os dois possuem algumas similaridades e suas personalidades mostram-se complementares. Por isso, tornaram-se amigos e, consequentemente, parceiros.
Joan Watson é uma personagem esplêndida! Não apenas pelas características que possui, mas também pelo propósito em que foi inserida na série. Apesar de ter uma inteligência ímpar, Holmes é muito reticente com mulheres, afirmando por mais de uma vez a inferioridade feminina, porém, Joan obrigou-o a rever os próprios conceitos.
Watson não se intimida com o estilo de vida de Holmes, acompanhando-o desde o início em horripilantes e violentas cenas de crime. No começo, Sherlock vê a moça como um entrave, mas, ao notar que a inteligência de Joan rivaliza com a sua, passa a estimulá-la a participar ativamente das investigações.
Como dito por Holmes em um dos episódios, Watson é como ele: tem “fascinação pelo bizarro” e potencial para trabalhar como detetive. Com o passar do tempo, o talento investigativo de Joan também passa a ser reconhecido pela polícia e a jovem se empolga a ponto de largar a carreira como acompanhante sóbria para dedicar-se a aprender o ofício de detetive com Holmes. Justamente por isso, Joan foi responsável pelo desvendar de alguns mistérios importantes, chegando, inclusive, a salvar a vida de Holmes por mais de uma ocasião.


A determinação e a coragem de Watson encantam e impressionam. Ela tem tanto desejo de desvendar as pistas dos casos em que se envolve quanto Holmes, mas, diferente do colega, Joan é absolutamente empata e procura ajudar as vítimas de todas as formas, principalmente aconselhando-as.
Sua força não se mostra apenas durante as investigações, mas no combate ao assédio frequente de seus familiares e amigos, preocupados com o envolvimento de Watson com Holmes. Felizmente, Joan prova que o combate ao crime não é um ambiente exclusivamente masculino. As mulheres têm inteligência, força e coragem para transitar por ele e alcançar o sucesso.
Holmes e o Transtorno do Espectro Autista
À primeira vista, Holmes parecer ser um homem inteligente, mas bastante grosseiro. O relacionamento dele com os membros da polícia, os suspeitos e as vítimas por vezes é conturbado. Contudo, se analisarmos com cuidado, veremos que Holmes tem algumas características que o aproximam do Transtorno do Espectro Autista. Antes de prosseguirmos, vale lembrar que o funcionamento do cérebro de um autista é diferente do de um neurotípico. Por isso, os autistas veem o mundo de uma forma única, peculiar. E Holmes é assim.
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Seu fascínio pela solução de mistérios se assemelha ao hiperfoco que os autistas têm. Nada consegue dissuadir Sherlock a parar quando uma investigação começa. Não importa o perigo ou a adversidade. Ele não descansa enquanto não vê uma solução. Além disso, Holmes tem dificuldade em entender alguns ritos sociais e em se relacionar com pessoas.
Suas peculiaridades, no entanto, não são um problema. Watson e os membros do corpo policial conseguem entendê-las e respeitá-las e, com certeza, tal fato é mais um ponto a favor da série. Sherlock não é como a maioria das pessoas e não precisa sê-lo para ser aceito. Seria bom se todos os roteiros da série tivessem abordagens assim.