CRÍTICA | The Handmaid’s Tale – 2×08: Women’s Work

CRÍTICA | The Handmaid’s Tale – 2×08: Women’s Work

A resistência, em geral, pressupõe uma aliança. Depois da primeira explosão, algo mudou no mecanismo de Gilead. Talvez uma coragem tenha sido incutida nos indivíduos daquele sistema, conduzindo-os ao começo de uma união. Mas há sempre um preço a se pagar pelas contravenções. Nenhuma revolta sai sem prejuízos – o que não significa que não devam ser feitas.

Sem flashbacks, o oitavo episódio de The Handmaid’s Tale foca apenas no que parece ser as consequências de uma virada. O foco se alterna entre o plot de Offred (Elisabeth Moss) e Serena Joy (Yvonne Strahovski) e o plot de Janine (Madeline Brewer). Assim, Women’s Work fala das mulheres e suas funções, e também dos laços que podem uni-las.

>> Leia aqui as resenhas dos episódios anteriores

The Handmaid’s Tale

Um homem contra duas mulheres

Os perigos da ausência de Fred Waterford (Joseph Fiennes) aproximaram a aia Offred e a esposa Serena Joy. Durante algum tempo, as duas compartilharam a missão de assumir as tarefas do comandante, estabelecendo uma rotina, mas também criando algo próximo de uma empatia.

Serena redigia, Offred revisava. Ambas estavam ligadas pela falsa posse de poder. Isto até que Fred retorna para casa, ainda mais insensível às dores das mulheres em seu entorno do que antes. Agora Fred é um sobrevivente. Nutre uma raiva velada por aqueles que ousaram divergir e fortalece o pensamento de que apenas Gilead e suas regras autoritárias podem salvar as pessoas.

Quando o homem de poder retorna ao lar, a dinâmica estabelecida se rompe, mas não sem deixar sequelas. Offred retorna à posição de aia, mas sabe como abordar Serena. Serena, por sua vez, retorna a uma posição mais frágil de esposa. A empatia criada pela companheira pode leva-la a quebrar as regras que um dia defendeu – e a sofrer as consequências por isso.

The Handmaid’s Tale

A doença de Gilead

Simultaneamente ao retorno de Fred, a filha de Janine adoece. Ninguém consegue dizer qual o problema da pequena Angela (ou Charlotte, como Janine a nomeou). E a possibilidade da morte da criança amedronta tanto aos pais adotivos quanto à esperançosa aia, que segue em sua rotina de estupros cotidianos.

Diante do desespero da amiga, Offred pede auxílio a Serena Joy para que Janine consiga ver a filha ao menos uma vez antes de algo pior acontecer. Em função da conexão criada entre elas, Serena atende ao pedido, sem saber que poderia sofrer consequências.

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O que um dia foi, pode retornar?

Serena Joy, ciente também do risco para o comandante e sua esposa e da dor que seria perder um filho que sequer era seu, busca meios de ajudar Angela. Observando a ineficácia dos médicos de Gilead, procura entre as econoesposas aquela que foi uma especialista um dia, contrariando Fred novamente.

O problema é que nem tudo pode ser restaurado. Gilead aconteceu. Durante anos, mulheres foram oprimidas por homens, mas também por outras mulheres. Durante anos, as mulheres foram impedidas de exercer funções para além daquelas estabelecidas. Durante anos foram aprisionadas por um sistema. E mesmo que ele se rompa, algo foi retirado delas.

Assim, uma médica grandiosa, nos tempos de liberdade, não necessariamente poderá salvar aquilo que talvez seja parte de um mal maior. Talvez algum dia ela tenha sido uma especialista, mas pode continuar sendo, depois de tantos anos sendo outra coisa? E ainda que pudesse, vidas nem sempre podem ser salvas. A morte está sempre à espreita, de muitas e variadas formas.

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Aquilo que permanece

Resignados, todos pensam que nada pode salvar Angela. O afeto pela criança acaba por unir momentaneamente comandante, esposa e aia, pois, apesar de tudo, não se pode engar que talvez aqueles cruéis pais nutram sentimentos pelos filhos que roubam de outras mulheres. Então, é cedida a Janine a oportunidade de permanecer junto a eles nos últimos momentos de Angela.

A mente humana desenvolve caminhos que ainda não são possíveis de se compreender plenamente. Quando Janine devolve à Angela a proximidade com sua mãe biológica, algo muda na criança. Afinal, elas se conhecem intimamente. Foram 9 meses de uma relação única. E aqueles poucos meses de separação não podem retirar da memória da infante o período em que Janine foi seu lar.

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Aquilo que adoece

Enquanto a pequena Angela se recupera, a relação entre Serena e Fred adoece. Fred não aceita que a submissa esposa tenha tomado as redes da casa e contrariado sua autoridade. Os anos de submissão e aceitação, o discurso de concordância, não significam nada para ele, ao mínimo sinal de revolta. E a resposta à “rebeldia” de sua esposa é, como sempre, a violência. Quando não se pode apelar à razão, apela-se à força.

A cena é dolorosa, pois evidencia o quanto nenhuma mulher está a salvo em Gilead. Mostra a humilhação de Serena, que é agredida na frente de Offred, aquela que, em teoria, sua inferior, mas que na prática está em posição igual. E como Serena apenas começou a romper sua crença infinita em Gilead, ainda não é capaz de admitir a dor e pedir ajuda, por mais que Offred mostre-se compreensiva.

Offred, por sua vez, sabe da condição de Serena. Sabe que, assim como ela, Serena é mais uma mulher dominada. E tenta usar sua condição para auxiliá-la. No entanto, algumas coisas se quebraram com aquela explosão. Entre elas, a tolerância de Fred. Resta saber se também foi quebrada a barreira que separava as mulheres sob um mesmo poder.

https://youtu.be/9sHTP6dME5Y

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Mestra em Teoria e História do Direito e redatora de conteúdo jurídico. Escritora de gaveta. Feminista. Sarcástica por natureza. Crítica por educação. Amante de livros, filmes, séries e tudo o que possa ser convertido em uma grande análise e reflexão.
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