A graphic novel Frida Kahlo – Para Que Preciso de Pés Quando Tenho Asas Para Voar? Nasce como uma proposta de fazer uma retratação histórica da vida da pintora entre os anos de 1936 – 1940, período no qual ela e Diego Rivera receberam, em sua casa, o político refugiado Leon Trotsky, considerado um dos grandes lideres da Revolução Russa. Em primeiro lugar é interessante justificar o uso do termo graphic novel e não HQ. Apesar de muitas pessoas afirmarem não existir diferença entre uma e outra ou ainda que elas são sinônimos, entende-se que a obra em questão é melhor definida como graphic novel por conta da sua extensão (longa), teor (histórico) e sua aproximação com o romance literário, não deixando, ainda assim, de ser uma História em Quadrinhos. Voltemos para a Frida…
Quando nos deparamos com histórias sobre mulheres, principalmente quando escrita por homens, é importante atentar-se que continua sendo uma história sobre mulheres. Vivemos em uma sociedade na qual a história da humanidade sempre foi a história do “homem” e naturalizamos a invisibilidade das mulheres nessa história, foi assim que fomos socializadas. Então, sem que nos queimem na fogueira da Santa Inquisição por levantar esse simples questionamento: Frida Kahlo – Para que preciso de pés quando tenho asas para voar? é uma história sobre Frida ou sobre Trotsky? Quem é, de fato, protagonista nessa história?
Diego Rivera e Leon Trotsky são personagens constantes na Graphic Novel. E não seria por menos, um era um renomado muralista e outro um líder revolucionário respeitado. Mas aqui, respeitados os seus papéis históricos, eles são apenas o marido e o amante de Frida. Nesses 4 anos de paixão, arte, traições e política, a graphic novel é narrada apenas por uma biografia, a de Frida.
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Recheada por uma vasta e densa contextualização histórica dos fatos, acompanhamos os desdobramentos através de um roteiro escrito sem pudor. O sexo, os flertes e os desejos estão ali de forma tão natural que às vezes esquecemos que não passam de traições políticas e amorosas entre os personagens. Temos a oportunidade de conhecer a pintora no início do que poderíamos chamar, talvez, de auge de sua carreira, quando ela começou a expor seus quadros em grandes galerias e quando, também, foi chamada pela primeira vez de Surrealista, título que ela negava com todo o vigor.
Quando adentramos na vida de Frida conseguimos entender essa negação. Não se tratava puramente de não concordar com a classificação que lhe foi imposta, a questão era maior. Frida pensava que sua arte refletia a sua realidade, a sua dor e, portanto, não poderia ser entendida apenas como um devaneio artístico – característica do movimento de Vanguarda que acreditavam que ela fazia parte.
Apesar da graphic novel ser rica e uma ótima biografia de Frida, ela peca em alguns pontos, como no fato de não deixar clara a bissexualidade da pintora e ainda de não traduzir o quão conturbado era o seu relacionamento com Diego Rivera. Vemos isso quando chegamos na parte em que se divorciam, mas nem de longe sentimos o mesmo como quando vemos um quadro da Frida. Ou seja, a graphic novel não transmite a alma da pintora, não nos traz “aquela sensação” perturbadora e sufocante que sentimos quando vemos a sua arte. Talvez isso seja proposital, mas podemos sentir que a Frida estava ali, sem estar, de fato.
Não queremos tirar o mérito da graphic novel, já que ela por si só consegue mostrar o seu valor, seja no seu conteúdo rico, como já mencionamos, seja nos seus complementos, que trazem um dossiê sobre a vida de cada personagem, além de uma indicação bibliográfica. Por isso, como admiramos declaradamente a mulher e artista Frida Kahlo, indicamos a leitura da graphic novel como uma ótima forma de entender a sua vida e como ela permeia e se conecta com tantas outras em um momento tão conturbado da história.
O roteiro de Jean-Luc Cornette é muito rico e os traços e cores da Flore Balthazar dão vida ao que talvez só ficasse no nosso imaginário. A graphic novel se encerra com o mesmo questionamento deste texto, com o qual desafiamos vocês a refletirem:
Para que preciso de pés quando tenho asas para voar?
Frida Kahlo – Para que preciso de pés quando tenho asas para voar?
Jean-Luc Cornette (Autor) e Flore Balthazar (Ilustração)
128 páginas
Obra cedida pela editora para resenha.
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