[GAMES] #MyGameMyName: Dando voz para aquelas que já perderam seus nomes

[GAMES] #MyGameMyName: Dando voz para aquelas que já perderam seus nomes

Apesar da crescente participação feminina em jogos de todas as categorias, representando 53,6% dos gamers de acordo com dados de 2017 da PGB, a atividade ainda é considerada majoritariamente masculina e por vezes desconfortável para mulheres, fenômeno que tem sido combatido por meio de campanhas como o #MyGameMyName. O programa, criado pela ONG Wonder Woman Tech, além de desafiar garotos a jogarem com nomes femininos para se colocar um pouco no nosso lugar, também trouxe à tona a gravidade das agressões sofridas por mulheres nos jogos.

Assim como Letícia Lopes já nos mostrou em seu texto, ainda hoje a representatividade feminina deixa a desejar, sendo ela na personalidade e história das personagens ou em algo tão básico quando sua roupa, ou melhor, a falta dela. Porém a objetificação da mulher está longe de ser apenas contra as personagens, tornando as jogadoras um alvo ainda maior do machismo ainda presente na industria de games.

Marcelle Cristina, gamer mineira de 20 anos  nos conta como já chegou a usar nomes menos femininos para evitar assédios, mas nem isso ajudava. “Já teve mais situações como jogadores que perceberam que era uma mulher jogando e começaram a zoar toda vez que eu morria”.

Uma situação muito parecida aconteceu com Natália Sugano, que já desistiu de usar seu próprio nome em todos os jogos. A gamer que também estuda para ser uma designer de games ainda comenta que o machismo e os assédios vão muito além do que apenas durante a gameplay. “Até na minha faculdade, uma faculdade de games, tem machistas que não deixam as meninas do grupo opinarem na hora de criar um jogo só porque são mulheres e mulheres não jogam e não manjam“.

Que existem jogadores tóxicos em todas as plataformas não é novidade para ninguém, mas o que realmente assusta é a diferença que o gênero de alguém pode fazer em como os outros jogadores te tratam, sendo essa a violência que vem após a Marcelle se recusar a passar o WhatsApp ou a que vem após o indivíduo descobrir que está perdendo para uma garota.

“Eu tava jogando Gunz 2 e nessa época meu nick não era mais de menina. Eu era muito boa nesse jogo então eu tava matando muito a galera do outro time. Inclusive um cara que pegou birra comigo e resolveu me focar. Ele começou a ficar putasso e a me xingar, porém ele achava q eu era homem e me xingava tipo “viado” ” filho da puta” “arrombado”… daí eu tava achando engraçado ele putasso comigo e resolvi ver se ele ficaria mais puto ainda se eu dissesse que eu sou menina. Daí realmente aconteceu! Ele ficou 100% mais puto ainda por descobrir que tava morrendo pra uma menina! Daí os xingamentos ficaram pesados, tipo “sua puta” ” você é minha putinha” ” cade a sua coleira? Cachorra” ” vadia” “minha putinha escrava”, Nathalia conta, evidenciando a mudança de tratamento.

“Eu só ria da situação pq eu do mesmo jeito tava matando ele enquanto ele me xingava, mas foram fortes os xingamentos que ele me deu na hora que eu “virei” mulher pra ele.” Mas se engana quem acha que a diferença no tratamento entre homens e mulheres gamers é tão escancarada assim sempre. É o que Marina* nos relata:

“Estava fazendo uma incursão em Destiny 1 com um grupo de amigos do meu ex e ninguém tinha feito essa ainda. Depois de várias tentativas frustradas, um dos caras no grupo começa a falar com meu ex (eu estava no chat do grupo) pra ele explicar pra mim como jogar direito, como se eu fosse a única responsável por não estar dando certo, sendo que todo mundo era inexperiente na fase e outros caras errando. ”

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É óbvio que existem casos de assédio mais graves do que ter sua habilidade questionada simplesmente por ser mulher, mas são essas micro-agressões que deixam muitas meninas receosas de jogar online ou participar de comunidades mistas sobre jogos. E isso acarreta no menor número de mulheres como gamers profissionais, já que muitas acabam preferindo os jogos single player e se afastam dos jogos online – que são os jogos escolhidos para competições de e-sports.

Alguns dirão “Ah, mas jogar online é assim mesmo, tem que aprender a ouvir esse tipo de coisa”, mas só quem tem que lidar com esses comportamentos frequentemente é que sabe o incômodo de ter que aturar isso quando estamos apenas querendo nos divertir. O que o movimento #MyGameMyName busca é combater esse tipo de assédio e bullying, de forma a criar um ambiente mais saudável e que esteja aberto para todo mundo.

* Alguns nomes foram trocados a pedido das entrevistadas.

Texto escrito por Camila Losano, Letícia Motta e Wladiana Maria.

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Gamer, viciada em livros e gatos. Grande fã de jogos indies e histórias de ficção.
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