As Viúvas e o “empoderamento” com limites

As Viúvas e o “empoderamento” com limites

Baseado numa minissérie inglesa, As Viúvas é o novo filme do diretor Steve McQueen, estrelando Viola Davis como Veronica, a esposa do chefe de uma gangue de Chicago (Liam Neeson) que acaba morrendo com seus comparsas após um roubo mal sucedido. Ao ser ameaçada por criminosos caso não pague as dívidas que o marido deixou, ela decide convocar as outras viúvas para completar o que seria o próximo roubo da gangue, o qual envolve a família do político Jack Mulligan (Colin Farrell), que por sua vez está disputando uma eleição com o mafioso Jamal Manning (Brian Tyree Henry).

Nessa trama rocambolesca, pouco conhecemos verdadeiramente sobre Veronica, que fica limitada a carregar seu cachorro de grife por onde vai, e dispomos apenas de flashbacks que contam minimamente suas fontes de sofrimento – a perda do filho, ainda jovem, e, agora, a do marido. Os flashbacks entre ela e Liam Neeson pouco mostram do relacionamento entre os dois, limitados a alguns beijos na cama. 

As outras viúvas tampouco tem grande desenvolvimento. Talvez a única que consiga ganhar algum arco narrativo seja Alice (Elizabeth Debicki), que passa de ingênua submissa a minimamente disposta a correr riscos.

Durante o filme, a ação de todas elas está sempre ligada à sombra dos maridos. Elas agem porque foram impelidas por essa situação, e infelizmente não desenvolvem independência ao longo da narrativa. O máximo de “empoderamento” de que as viúvas dispõem vem embalado nos discursos de Veronica, sobre ter de desenvolver os “””culhões””” para fazer algo que só os machos fazem, como completar um roubo sem nunca terem participado do mundo do crime antes. 

As Viúvas

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O filme parece igualmente preocupado em aludir a diversas questões de raça, classe, corrupção, nepotismo, imigração, violência doméstica, e assim por diante, mas que parecem trivializadas no enredo pela falta de desenvolvimento adequado, mais parecendo cumprir uma função de lista de temas que deveriam ser abordados do que inseridos de forma orgânica à trama. É uma pena que o roteiro, escrito pelo próprio Steve McQueen e pela roteirista Gillian Flynn, deixe tanto a desejar, tornando o filme muito aquém às obras anteriores do diretor. 

A todos esses problemas de texto, somam-se algumas reviravoltas toscas no enredo, que deixam o filme um tanto cartunesco, suspendendo a crença na história. O tal roubo que as viúvas terão de performar também é mostrado num ritmo irregular, com algumas elipses sobre o seu planejamento, e intercalando com o enredo secundário do político de Colin Farrell, que toma mais tempo do filme do que deveria. Este político, inclusive, acaba recebendo mais atenção do roteiro no sentido de desenvolvimento de personagem, backstory, e tudo o mais, do que a própria Veronica. Não fosse a força da interpretação de Viola Davis, que sempre captura a atenção com seu enorme talento, a personagem teria poucas chances de conduzir o filme com eficiência. 

As Viúvas é um filme de ação bastante irregular, que se salva apenas pelo bom elenco. O filme estreia no Brasil hoje, 29 de novembro.

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Cineasta, musicista e apaixonada por astronomia. Formada em Audiovisual, faz de tudo um pouco no cinema, mas sua paixão é direção de atores.
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