Midsommar: o mal não espera mesmo a noite (e nem precisa)

Midsommar: o mal não espera mesmo a noite (e nem precisa)

Desde seu anúncio, “Midsommar” foi um filme que gerou todo tipo de burburinho e expectativa. Dirigido pelo mesmo diretor de “Hereditário“, Ari Aster, o trailer não nos deixava com tantas pistas sobre o que esperar. Sabíamos que algum ritual estranho estava acontecendo ali, que uma garota viajaria com seus amigos e namorado para esse ritual, mas mais do que isso, só poderíamos esperar pelo lançamento.

A pré-estreia aconteceu, e conferimos o filme no Noitão do Petra Belas Artes, parceiro do site, no dia 14 de setembro. O texto abaixo não contém spoilers.

O folk horror é um subgênero antigo dentro do terror. Encontramos alguns exemplos de obras desse tipo desde o final do século XIX, mas principalmente durante o século XX. Na literatura, os principais nomes que representam o gênero são M.R. James (1862–1936), Arthur Machen (1863–1947) e Algernon Blackwood (1869–1951). No cinema, os grandes representantes são os filmes “O Caçador de Bruxas” (1968), “O Estigma de Satanás” (1971) e “O Homem de Palha” (1973), dentre tantos outros. Houve uma grande quantidade desse tipo de obra nos anos 1960 e 1970, e de acordo com o que alguns estudiosos acreditam, isso se deu principalmente pelo avanço da filosofia hippie, pelo boom de rituais e imaginário pagão principalmente nos Estados Unidos.

O fato é que o folk horror lida diretamente com essa questão: rituais e misticismo pagãos, principalmente europeus, onde geralmente algum forasteiro, algum turista, acaba sofrendo algo durante essas celebrações, o que pode servir tanto como uma crítica a essas festas, como um aviso para que os americanos e pessoas de fora desses locais não se metam com o que não conhecem.

Midsommar” se encaixa perfeitamente no subgênero, desde sua concepção até a forma como foi feito. O filme se passa majoritariamente de dia (o que pode explicar o subtítulo nacional “O mal não espera a noite”), e sua sinopse é bastante simples: um grupo de turistas vai até um local isolado na Suécia para assistir um ritual que eles fazem a cada 90 anos.

Dani (Florence Pugh), que tinha acabado de perder os pais, vai com seu namorado (Jack Reynor) e os amigos dele, Josh (William Jackson Harper) e Mark (Will Poulter), para esse local a convite de Pelle (Vilhelm Blomgren), um habitante do vilarejo. Mas essa celebração realizada poucas vezes no solstício de verão acaba se mostrando bastante estranha aos olhos daqueles que vem de fora.

O ritual dura cerca de uma semana, e cada dia tem um significado e celebração especial, até culminar na coroação da rainha da colheita/primavera. Tem raízes em rituais pagãos de colheita, para se ter fartura. O midsommar, ou o solstício de verão, ainda é bastante comemorado em muitas partes do hemisfério norte, mas dificilmente com o mesmo nível e ideal que nos é apresentado no filme. Assim como tradições pagãs mais antigas, o ritual do filme celebra a vida e a morte com vida e morte, mas dizer muito mais que isso seria entregar spoiler de bandejas (e com flores ornamentais).

Midsommar
Dani (Florence Pugh) e seu namorado (Jack Reynor) em “Midsommar” (Imagem: reprodução)

O filme é completamente explícito, e é necessário que isso seja deixado claro. As mortes, o sexo, a nudez, tudo é explícito e mostrado claramente, o que pode gerar um enorme desconforto para aqueles que vão buscando um filme leve, ou talvez algo mais semelhante com “Hereditário”. Entretanto, “Midsommar” é diferente.

Mas, mesmo com tudo bastante explícito, é um filme muito limpo também. Não se assemelha em nada com a violência explícita de filmes de torture porn do início dos anos 2000, ou com os slashers dos anos 1980. O sangue não voa na tela, ele é utilizado de forma criteriosa por Aster, bem como a nudez e o sexo, para demonstrar o que ele quer: o corpo e a morte.

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Midsommar
Midsommar (Imagem: reprodução)

O filme de 2h27, é lento de forma certeira, da forma necessária para que você se apegue (ou não) aos personagens, conheça sobre eles e compreenda a história. O grande destaque é para a personagem de Dani, o que podemos chamar de protagonista. A perda, os problemas diários, sua própria personalidade, tudo nos faz compreender as escolhas e motivações que a levaram até o final. As atuações, os temas, a trilha sonora, os personagens, tudo faz com que você se mantenha preso na história, e acaba funcionando muito bem.

Midsommar” funciona do início ao fim, e é um dos grandes filmes de terror que tivemos esse ano. Dani é uma personagem incrível de acompanhar, e sua trajetória é muito interessante. Das coisas que ficaram do filme, uma delas é que a vida é assustadora demais, e sugestão é que vá preparado para assistir ao filme.


Edição realizada por Isabelle Simões.

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Formada em História, escreve e pesquisa sobre terror. Tem um afeto especial por filmes dos anos 1980, vampiros do século XIX e ler tomando um café quentinho.
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