Duna – parte 2: um novo épico do cinema!

Duna – parte 2: um novo épico do cinema!

O filme Duna: Parte 2 (2024) é a continuação da adaptação do romance de ficção científica de Frank Herbert, dirigida por Denis Villeneuve.

Retomando exatamente de onde o primeiro filme parou, esta segunda parte explora as consequências do golpe dos Harkonnen contra a casa Atreides, levando à morte do Duque Leto (Oscar Isaac) e à jornada de Paul Atreides (Timothée Chalamet) e sua mãe, Lady Jéssica (Rebecca Ferguson), para o deserto em busca dos fremen.

O elenco principal, incluindo Timothée Chalamet, Zendaya, Rebecca Ferguson, Stellan Skarsgard, Dave Bautista, Javier Bardem, Charlotte Rampling e Josh Brolin, retorna para dar continuidade à história. Além disso, novos personagens são introduzidos, com destaque para Florence Pugh, Austin Butler, Léa Seydoux e Christopher Walken.

Originalmente planejado para estrear no segundo semestre de 2023, o filme foi adiado devido a uma greve do sindicato dos atores de Hollywood, que impediu o elenco de participar da promoção da produção.

Rebecca Ferguson em "Duna: parte 2"
Rebecca Ferguson em Duna: parte 2 | Imagem: Reprodução

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Duna: parte 2 e o êxito de Denis Villeneuve

Com Blade Runner 2049 (2017) e A Chegada (2016), Villeneuve já havia demonstrado ser um diretor excepcional de ficção científica, aplicando sua visão autoral na construção de mundos e na representação de possíveis futuros. Agora, com sua adaptação de Duna, ele solidifica seu lugar como um dos grandes diretores do gênero.

Na primeira parte da história de Duna, Villeneuve apresentou um futuro distante, dez mil anos à frente, em um planeta alienígena dominado por areia e rochas. No entanto, em comparação com a segunda parte, o que vimos no primeiro filme é apenas uma amostra do que poderia ser criado.

Duna: Parte 2 amplia ainda mais o escopo da magnitude do planeta Arrakis e de todo o world building por trás da história de Frank Herbert. O material original é desafiador, mas Villeneuve se apega aos detalhes meticulosos criados pelo autor.

O estilo distintivo de Villeneuve está presente em sua versão de Duna. Ao filmar em locações reais e usar luz natural, o filme assume uma fotografia naturalista, mesmo sendo uma fantasia. Isso torna Duna (o planeta) quase tangível e fortalece o teor político da história.

Os momentos de destaque em Duna: Parte 2 incluem a expansão do universo da história. Desde a cultura dos fremen, que agora ganha ainda mais inspiração na cultura islâmica, até o mundo dos Harkonnen, os vilões da primeira parte da adaptação.

Digna de nota é a sequência de apresentação do personagem Feyd-Rautha (Austin Butler) e a luta no coliseu Harkonnen. Villeneuve e o diretor de fotografia Greig Fraser criam um espetáculo visual de tirar o fôlego!

Austin Butler em "Duna: parte 2"
Austin Butler em Duna: parte 2 | Imagem: Reprodução

A saga de Paul Muad’Dib Atreides em Duna: parte 2

Na segunda parte de Duna, os aspectos da profecia que cercam a figura de Paul são aprofundados, juntamente com a vingança que ele almeja contra aqueles que causaram a morte de seu pai.

Seguindo a estratégia de Jéssica, Paul procura fazer uso da profecia que o designa como o Lisan Al-Gaib, o grande messias salvador do povo fremen. Para mãe e filho, esse parece ser o caminho para tomar o controle dos povos do deserto e liderá-los contra os Harkonnen, eventualmente levando os Atreides ao trono do imperador.

Neste ponto, também testemunhamos o desenvolvimento da relação entre Paul e Chani (Zendaya), que na primeira parte aparece apenas em visões do protagonista. A personagem interpretada por Zendaya ganha um destaque muito maior nesta etapa da saga.

Zendaya na segunda parte de Duna
Zendaya em Duna: parte 2 | Imagem: Reprodução

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Há uma tensão representada entre aqueles que veem Paul como uma figura messiânica e aqueles que ainda o enxergam como um estrangeiro.

Chani, que na adaptação de Villeneuve não decepciona os que aguardavam uma interpretação digna da personagem, não é apenas a parceira de Paul, mas também questiona suas atitudes cada vez mais próximas do discurso religioso fanático.

As mulheres que controlam Duna

Em algumas entrevistas, o diretor explicou sua escolha consciente de explorar mais o aspecto anti-herói de Paul através das personagens femininas. Não apenas Chani, mas também Irulan, interpretada por Florence Pugh, desempenha um papel importante ao conectar os interesses de Paul com o império e seu papel entre os fremen.

Ao contrário de alguns grandes filmes recentes, nos quais personagens femininas mal aparecem ou são mal desenvolvidas, as mulheres de Duna assumem papéis importantes na história e têm o controle efetivo do mundo em que vivem.

Florence Pugh como Princesa Irulan
Florence Pugh como Princesa Irulan | Imagem: Reprodução

Essa escolha pode ter sido motivada pela insatisfação de Frank Herbert ao ver os leitores de Duna adotarem Paul como um herói.

Para o autor, seu protagonista é, na verdade, um conto moral, a personificação dos perigos representados por líderes carismáticos que adotam discursos religiosos. É uma advertência contra os perigos dos falsos messias.

O filme também critica o fanatismo, tanto religioso quanto político, e o fundamentalismo. Em uma fala, Chani diz: “ele teme os fundamentalistas“.

Dentro do contexto de grandes movimentações políticas baseadas na religião, os espectadores de 2024 podem concordar com Paul. A figura de Stilgar, interpretado por Javier Bardem, personifica esse fundamentalismo e fanatismo, seguindo um líder cegamente por acreditar que ele é o escolhido.

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Política e ficção científica

Seguindo os passos de autores de ficção científica do século XX, como George Orwell, Aldous Huxley, Isaac Asimov, Philip K. Dick, a história de Herbert é repleta de teor político, retratando uma saga de imperialismo e colonialismo e os extremos a que esses regimes podem levar.

O Império oprime Duna e o povo fremen pela exploração dos recursos naturais de seu planeta. Essa exploração se estende também à cultura do povo, que é manipulado pela ordem das Bene Gesserit por meio da profecia. Enquanto aguardam por um salvador, eles nunca se rebelam contra o controle do Império.

A história apresenta táticas de controle mental e exploração de recursos que ecoam as práticas coloniais. O contexto em que o livro foi escrito também nos leva a uma crítica contemporânea. No auge da Guerra Fria, EUA, Europa e URSS competiam pelo controle do Oriente Médio, rico em petróleo, desencadeando conflitos que persistem até hoje.

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Nesta adaptação de 2024, a cena em que o povoado fremen de Paul é bombardeado pelos Harkonnen se destaca. Vemos pessoas feridas sendo socorridas e fugindo, enquanto Stilgar descreve a situação como um ato de covardia.

Ao atingir inocentes com bombardeios aéreos, os invasores enterram a cultura do lugar nos destroços. É impossível não lembrar das imagens do massacre dos palestinos na Faixa de Gaza que circulam desde outubro de 2023.

Duna é uma das obras de ficção científica que se mantém sempre relevante com o passar do tempo. Villeneuve proporciona que esse conto moral fale com o mundo de hoje, tanto quanto com o de ontem e o de amanhã. Duna não é uma profecia, mas uma ficcionalização de histórias que se repetem.

Uma adaptação quase perfeita

Duna: parte 2
Duna: parte 2 | Imagem: Reprodução

Apesar da grandiosidade e do claro êxito que é a adaptação completa de Duna, há algumas ressalvas. Assim como na primeira parte, Duna: Parte 2 mantém o ritmo mais lento e contemplativo, embora não abra mão de momentos de tensão na história, os quais são mais frequentes aqui.

A forma como a irmã de Paul, Alia (Anya Taylor-Joy), foi adaptada também deixa a desejar. A personagem desempenha funções muito importantes no livro, as quais Villeneuve transferiu para Paul no filme. Adaptar uma criança de 4 anos com comportamento adulto é um desafio, e talvez essa tenha sido a melhor solução para a produção.

No entanto, há ainda destaques a mencionar, principalmente o elenco. Para aqueles que duvidavam do desempenho de Chalamet na segunda fase de Paul Atreides, essa deve ter sido uma grata surpresa. O ator se firma cada vez mais como um dos grandes nomes de sua geração, e Duna: Parte 2 contribuiu para isso.

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Zendaya se sai muito bem com o aumento de destaque da personagem e contracena com Chalamet de igual para igual. Florence Pugh nos deixa ansiosas por uma possível continuação da história de sua personagem, enquanto Austin Butler deixa o Elvis para trás e colore Feyd-Rautha como o personagem psicopata, mas flamboyant que ele é. Todo o elenco sustenta a escala da produção, entregando as performances necessárias para cada personagem.

Completando a experiência de Duna está a trilha sonora de Hans Zimmer. Arriscamos dizer que está ainda melhor do que a da primeira parte, pois transporta o espectador da sala de cinema direto para o cenário árido de Arrakis.

Messias de Duna?

Sendo assim, podemos afirmar que Duna: Parte 2 atingiu as expectativas dos fãs do livro, além de surpreender aqueles que não sabiam o que esperar.

O desfecho não chega a ser uma conclusão para a história, e Denis Villeneuve já revelou que tem planos de adaptar o segundo livro da saga, Messias de Duna, para encerrar a trajetória de Paul. No entanto, ele depende do aval da Warner para prosseguir com esse projeto.

Considerando o desempenho da bilheteria do filme no primeiro final de semana, a possibilidade de um terceiro filme é grande. Nos resta esperar por uma conclusão tão épica quanto a história de Frank Herbert!

Meme de Duna
Imagem: Reprodução da internet

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Historiadora e mestranda em Cinema e Audiovisual, com pesquisas voltadas para as relações entre os lugares ocupados por mulheres no cinema brasileiro. Apaixonada por arte, cinema e educação.
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