Dentre as diretoras mais influentes do século XXI, Sofia Coppola carrega uma forte identidade junto de suas produções. Concentrando-se nas personagens femininas, a estética de seus filmes é facilmente reconhecida pelos tons pastéis e pelo destaque dado aos objetos que remetem ao cotidiano “modesto” das mulheres.
Ao se basear no livro de memórias Elvis e Eu, de Priscilla Presley, Sofia reitera a habilidade com a seleção de escolhas narrativas. Mostrando um lado menos conhecido da vida pessoal de Priscilla e do ex-casal, a história evidencia que, ser um grande artista não lhe garante, necessariamente, um caráter exemplar.
Priscilla e o início de um conto de fadas
Antes da fama e da vida luxuosa, Priscilla Beaulieu era apenas uma jovem estudante do ensino médio. Foi através de um colega de Elvis que ela se aproximou do astro e começou a frequentar as festas na casa da família Presley.

Independente de sabermos ou não o desfecho do romance, fica claro que ele já começou de forma complicada. Priscilla, com apenas 14 anos, ainda era menor de idade e dependia da autorização dos pais para frequentar as festas. Já Elvis, com 24, estava servindo no exército americano numa base militar na Alemanha enquanto sua carreira permanecia num hiato.
O fato é que, no final da década de 1950, a questão da diferença de idade entre um casal não era tão problematizada quanto deveria. A ingenuidade se tornava o maior álibi das figuras masculinas para ganhar a confiança de mulheres mais novas. Com experiências limitadas e ideais mais inclinados para o lado fantasioso do que para o racional, Priscilla se tornou uma vítima da conversa genérica de Elvis.
(Des)ilusões amorosas
À primeira vista, Priscilla e Elvis formavam um casal invejável. Quando passaram a morar na mansão de Graceland, após três anos desde o início de seu relacionamento, a vida realmente se assemelhava ao que Priscilla imaginava. No entanto, foi apenas uma questão de tempo até que tudo começasse a ruir.
Longe da família, do continente onde nasceu e adepta da ideia de que era “madura demais para a idade que tinha”, Priscilla passava os dias na mansão, ora junto de Elvis, ora sozinha. Por estar morando na casa de uma das maiores estrelas do século XX, ela também precisou abrir mão da liberdade de sair desacompanhada. Mesmo quando sugeriu que poderia trabalhar meio-período enquanto ainda terminava a escola, Elvis se posicionou contra a ideia.

O trabalho de maquiagem e cinematografia do filme se destacam pela semelhança notável com os acontecimentos da vida real. As fotografias e a filmagem atenta aos detalhes, que são marcas registradas da diretora, complementam a atuação extraordinária de Cailee Spaeny e Jacob Elordi.
Pontos finais e recomeços
Cansada de permanecer na sombra de Elvis, suportando os escândalos e o temperamento hostil, não restam opções para Priscilla senão deixá-lo. O final, que foca em sua despedida da mansão de Graceland, é sensível e gera associações muito mais profundas para Priscilla do que apenas ex-esposa do “Rei do Rock”.

“Eu tentei focar na história dela como pessoa e esquecer o lado da fama, na esperança de que as pessoas possam entender o tipo de relação que eles tinham e aprender sobre os papéis femininos e as expectativas daqueles tempos”