Patas Sujas é um projeto criado no Estúdio Complementares, com roteiro de Cris Peter e ilustrações de SulaMoon (Ursula Dorada). O projeto concretizou-se através da campanha criada no Catarse, para juntar fundos para a produção da HQ Pétalas, onde Cris Peter é responsável pelas cores e Gustavo Borges pelo roteiro e arte. Como a campanha teve um grande sucesso, ultrapassando o valor pretendido de R$5.000,00 (conseguiram arrecadar mais de R$50.000,00 com 1.463 apoios), os colaboradores receberam recompensas extras, e uma delas foi o primeiro volume de Patas Sujas. A HQ será composta por 8 volumes, sendo que o primeiro será lançado no mês de novembro e o segundo foi confirmado por Cris Peter, para sair no começo de 2016.
Desde a primeira página, que contém uma linda mensagem de Cris Peter, já me encantei com a introdução da HQ. Como eu era também uma criança muito tímida; que tinha dificuldades de fazer novas amizades; e o meu maior sonho era ter um bichinho de estimação, me identifiquei imediatamente!
Patas Sujas conta a história de Na’az Ni, uma mulher que foi abandonada por sua tribo e acorrentada na neve em um vilarejo, pelo fato de ser considerada “diferente” do seu povo. Quando, logo após, uma turma de seres compostos por traços humanos e animalescos, acolhem Na’az Ni e procuram lhe ajudar.
A HQ tem um ar de conto de fadas. Na’az Ni parece uma princesa medieval. Os traços de SulaMoon são encantadores. A história provoca uma reflexão sobre a diversidade e o respeito com o próximo; sobre pessoas que não sentem-se representadas por esses estereótipos impostos pela sociedade em cada época. É uma história que apesar de ser ambientada numa era medieval, tem muito a dizer e refletir sobre o nosso mundo atual; onde o Estado sempre está sempre ditando conceitos e buscando padronizar cada indivíduo, como se cada um coubesse em uma “forminha aceitável”. O roteiro de Cris Peter é composto por várias frases encantadoras e memoráveis, como essa logo abaixo:
Quem é apaixonado por bichinhos de estimação vai amar Patas Sujas, porque é através desse vínculo de afetividade e empatia com os animais, que Cris Peter conduz parte da história no primeiro volume. Afinal, acredito que os humanos têm muito a aprender com os animais sobre amor, amizade, respeito e compaixão. Pois, ao contrário de muitos seres humanos, quando os animais gostam de alguém, eles não pensam nas diferenças como quesito.
“A história surgiu num verão muito relaxante que passei na praia com meus pais e meus cachorros em fevereiro de 2013. Eu estava viciada na banda Of Monsters and Men já havia um tempo e me apaixonei pela música “Dirty Paws”. Comecei a prestar atenção na letra que, apesar de não fazer muito sentido, foi uma grande inspiração para o desenvolvimento da história. É um grande sonho meu, desde a adolescência, escrever e publicar minhas histórias. Eu já sabia que queria criar algo que parecesse um conto de fadas, algo com uma protagonista feminina, que abordasse assuntos de amizade e a importância de valorizar mais a si e seus amigos. Algo com uma lição de moral diferente dos filmes que vi quando criança. A princípio,Patas Sujas deveria ser um livro ilustrado, mas com o passar do tempo comecei a querer mais e mais fazer uma história em quadrinhos. Eu desenho, mas não tenho tanta prática. Ainda tenho algumas limitações, então convidei a Ana Koehler pra desenhar. Com o tempo começamos a ficar muito atarefadas, mas ano passado eu, Ana, Ursula Dorada e Ariane Rauber criamos nosso estúdio (Estúdio Complementares), e foi aí que a brincadeira começou a tomar rumos sérios. Depois do meu livro teórico sobre cores que lancei ano passado, Patas Sujas seria meu próximo projeto com certeza. Mas a Ana também tem de desenhar o projeto próprio dela, o Beco do Rosário, e por isso, acabamos convidando a Ursula para assumir como desenhista. Na verdade todas nós temos um papel: Eu fiz os roteiros e farei as cores, a Ana fez alguns Character Designs, a Ursula assumiu os desenhos das páginas e a Ariane vai fazer diagramação e letreiramento.” – Trecho de uma entrevista com Cris Peter para o site Pipoca e Nanquim
Gostei muito do material que escolheram para Patas Sujas. A capa é feita com papel craft e lembra um convite, que transmite uma sensação intimista e reservada para o leitor. Ao abrir, me senti como uma “convidada especial” para mergulhar na história. Trata-se de uma história para ler com o coração e refletir sobre a diversidade dos seres humanos no mundo atual. Estou ansiosíssima para acompanhar os próximos volumes!