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O Processo
CINEMA

[CINEMA] O Processo: A realidade kafkaniana por trás do impeachment de Dilma Rousseff

por Adriana Ibiti · 17 de abril de 2018
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O que os documentários de Maria Augusta Ramos têm em comum, é o fato de jogar a realidade em nossa cara. Foi assim com Justiça (2004) – considerado um dos cem melhores filmes dirigidos por mulheres a partir do ano 2000 -, Juízo (2007), Morro dos Prazeres (2013), e agora, O Processo (2018). Os três primeiros se encaixam no que a diretora chama de Trilogia sobre as leis para o cidadão. O último filme da trilogia, O Processo, mostra os bastidores do processo de impeachment da presidenta Dilma Rousseff, em 2016. Aliás, para quem conhece a obra do aclamado escritor tcheco, Franz Kafka, não é difícil relacionar o título do documentário com o nome do livro “O Processo“, que conta a história de Josef K., um homem julgado e condenado por um tribunal misterioso, sem saber exatamente do que é acusado.

Maria Augusta explica que considerou que o impeachment como um momento político fundamental na história do Brasil. Ela e sua equipe acompanharam, durante duas semanas, tudo o que acontecia tanto de um lado como de outro, nos bastidores do processo. Foram mais de 400 horas de gravações e 137 minutos de uma narrativa nua e crua, exibida no Festival de Cinema de Berlim, onde o filme foi lançado e premiado com o terceiro Melhor Documentário da Mostra, em fevereiro deste ano. Dia 15, o documentário estreou no Brasil, dentro da programação do Festival É Tudo Verdade, o mais importante do país. A repercussão e as reações da audiência podem dizer muito sobre o momento que vivemos agora.

Na imagem: Maria Augusta Ramos (reprodução)

O filme cumpre com a proposta da diretora: fazer pensar. Ela não dá respostas e não entrevista ninguém diretamente. Maria Augusta mostra fatos, conversas e lugares. Com esses elementos podemos raciocinar, descobrir e indagar o que aconteceu naqueles dias que antecederam a saída da primeira presidenta eleita do Brasil. Outra vez, a diretora irá nos transformar em testemunhas de acontecimentos, e veremos um pouco mais de uma realidade que não foi mostrada na grande mídia, apesar de que outros/as cineastas também tenham acompanhado o julgamento de perto, assim como Maria Augusta. E essa visão que teremos pode ser impactante, como todos os outros documentários dirigidos pela cineasta. Mais uma vez iremos descobrir que o acontece é muito mais complexo do que podemos ver nos noticiários, ler nos jornais ou na internet.

Maria Augusta gosta de câmera parada, da falta do som exterior ou de música, de cenas longas e da ausência de narração. A edição costuma dar o ritmo e conduzir a espectadora. A sensação é de ser levada por uma linha linear dos acontecimentos. A diretora faz cinema de reflexão aos moldes da cineasta belga Chantal Akerman, a quem, dentre outros/as, toma por inspiração.

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O primeiro longa metragem de Maria Augusta foi Brasília, Um Dia em Fevereiro (1995). Pode-se dizer que o filme é autorreferencial, já que um dos personagens é a estudante Letícia, alter ego da diretora. Nesse longa, vemos que ela inaugura uma constante em sua obra e opta por não entrar na vida dos personagens. Sua câmera limita-se a focar o universo social onde estão inseridos. O distanciamento formal do que está sendo filmado se estabelece desde o primeiro plano. O lugar da espectadora é o de uma intrusa.

Maria Augusta Ramos é conhecedora de realidades distintas e sabe diferenciar, perfeitamente, que tipo de sentimentos ou acontecimentos provocam o sofrer e/ou retratam debilidades sociais que merecem ser mostradas. Tudo isso, sem menosprezar nenhuma realidade.

O Processo

A cineasta reúne elementos que compõe cada uma dessas realidades e os registra para que cheguem a espectadora de uma maneira que estimule o pensamento, comova e provoque a sensação de que mudanças são necessárias, além de que mais perguntas precisam ser feitas. O que vemos, nos impede de delimitar os papéis entre herói/na e vilão/ã. Temos a sensação que a justiça, enquanto instituição, agrupa em si as características do que é bom e do que é mau; que seus dispositivos de funcionamento social precisam de reparos e que, enquanto isso, estamos obrigadas a conviver com uma burocracia que pode transformar-nos em reféns de um sistema doente e ultrapassado.

O funcionamento da justiça no Brasil não mudou muito, desde 2004, quando Maria Augusta mostrou as atividades dos tribunais, no Rio de Janeiro. Ainda precisamos de bom senso, coerência e reformas nas leis. A maneira como os/as menores infratores/as são punidos e sua reinserção na sociedade, também não mudaram e continuam sem funcionar efetivamente desde 2008, quando Juízo nos colocou dentro dos tribunais que julgam estes/as adolescentes. As relações entre as UPPs e as comunidades do Rio de Janeiro continuam tensas, desde 2013, quando também testemunhamos, sob a ótica de moradores/as e policiais, as dificuldades e os desdobramentos dessa nova realidade.

E agora? Ainda podemos sentir politicamente os efeitos do impeachment de Dilma Rousseff. A economia continua incerta. As relações entre muitas pessoas, polarizadas entre dois lados extremamente opostos, continuam estranhas, ruídas e partidas. Parece que quase não há uma pessoa nesse país que não tenha sofrido com esses efeitos e, talvez, ainda não saibamos como lidar com eles. Possivelmente, por isso, o documentário O Processo possa trazer um pouco mais de clareza e veracidade, ou um pouco mais de tristeza e revolta. Quem sabe qual será o fim dessa história? O certo é que devemos guardar um pouco de esperança, pois vamos precisar.

O Processo estreia nos cinemas dia 17 de maio.

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Adriana Ibiti

Apaixonada por tudo relacionado ao cinema e ao audiovisual. Gosta principalmente de ver mulheres fortes e felizes nas telonas e nas telinhas. Por isso, depois de trabalhar muitos anos em televisão, decidiu estudar mais sobre o assunto e fez um doutorado no tema pra ajudar na reflexão do papel da mulher no cinema, e poder dividir opiniões e pensamentos com mais apaixonadas/os como ela.

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