Histórias Assustadoras para Contar no Escuro: cuidado com o que você conta!

Histórias Assustadoras para Contar no Escuro: cuidado com o que você conta!

Se pararmos para pensar por alguns minutos, vamos perceber que o terror tem raízes bem profundas na infância. Histórias e cantigas de ninar, avós contando causos e lendas de arrepiar em visitas. Nos Estados Unidos, uma das tradições é de se contar histórias assustadoras ao redor de uma fogueira, em algum acampamento, assando marshmallows, e essa tradição acabou se consagrando na cultura pop.

Autores como R.L. Stine, que escreveu “Goosebumps”, são exemplos de como esse estilo se tornou popular. Temos também o autor Alvin Schwartz, que escreveu uma série de livros chamada “Scary Stories to Tell in the Dark”. Entretanto, somente um de seus livros foi publicado no Brasil, a obra “Histórias Assustadoras para Contar no Escuro“, com ilustrações de Brett Helquist. A edição saiu pela editora José Olympio e com tradução de Cristiane Pacanowski.

Se você ouviu os burburinhos de lançamentos de terror para esse semestre, deve ter notado que “Histórias Assustadoras para Contar no Escuro” estava entre eles. Com roteiro escrito por Guillermo Del Toro e direção de André Øvredal, o filme é uma adaptação do livro de Schwartz, mas não espere uma adaptação como estamos acostumadas!

A princípio, se você teve a ideia de ler o livro de Schwartz antes de conferir o filme, não vai adiantar nada, pois você achará o filme bobo. As histórias reunidas no livro são, em grande parte, realmente infantis e isso não é, de forma alguma, algo negativo, pois trata-se de um livro voltado para crianças, e mesmo que a adaptação para o cinema também seja de classificação livre, pois Øvredal e Del Toro queriam que esse fosse um filme para a família, ela difere e muito das histórias presentes no livro.

Histórias Assustadoras para Contar no Escuro
Cena de “Histórias Assustadoras para Contar no Escuro” (Imagem: reprodução)

Começamos com a frase “Histórias podem curar” e daí somos contextualizadas. Estamos no anos de 1968, em um halloween, enquanto a música “Season of the Witch”, da banda Donovan, nos apresenta alguns dos personagens. Os amigos Stella (Zoe Margaret Colletti), Auggie (Gabriel Rush) e Chuck (Austin Zajur) se preparam para pegar doces; Ramón (Michael Garza) acabou de chegar na cidade; Ruth (Natalie Ganzhorn), irmã de Chuck, se arruma para sair; e Tommy (Austin Abrams), o valentão da pequena cidade, junto com seus amigos, se prepara para destruir a noite das crianças.

Stella é uma garotinha apaixonada por histórias de terror que quer ser escritora. Pelo destino, junto com Auggie e Chuck, acabam conhecendo Ramón e decidem mostrar para ele uma das histórias mais pitorescas da cidade: a casa dos Bellows, a mais antiga família da cidade, que teve um passado trágico: dizem que sua casa é assombrada graças à filha mais nova da família, Sarah Bellows (Kathleen Pollard).

Sarah contava histórias para crianças através das paredes, quando tais crianças se atreviam a chegar perto o suficiente para terem qualquer vislumbre dela. A família a deixava isolada do resto do mundo, então todos da cidadezinha tinham a curiosidade de vê-la. Quando Stella e seus amigos vão até a casa assustadora, despertam e são perseguidos por algo, e esse algo conhece seus medos, suas angústias, seus problemas e ansiedades. São através das histórias que esse algo persegue as crianças.

Histórias Assustadoras para Contar no Escuro
Cena de “Histórias Assustadoras para Contar no Escuro” (Imagem: reprodução)

Histórias Assustadoras para Contar no Escuro” não é uma adaptação comum. Os realizadores não adaptaram integralmente as histórias, pois seria extremamente complicado. No entanto, existe no filme algumas histórias que estão no livro, como O Dedão do Pé (no caso da versão brasileira, pois outras histórias da versão original também estão no filme). Entretanto, o que o filme faz é adaptar o sentimento da juventude de estar com seus amigos e passar por um medo enorme juntos, sendo imaginação ou não, além de desesperadamente aprender a lidar com aquilo e sobreviver. As histórias podem não estar todas adaptadas no filme, mas o sentimento está e muito bem feito.

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Infelizmente nem tudo é perfeito. Uma parte do filme é desnecessária e não acrescenta em nada na trama. Existe a menção da possibilidade que antigas empregadas da família Bellows, negras, tivessem ensinado alguma magia negra para Sarah. Mesmo que isso seja desmentido depois, ainda sim é uma menção desnecessária, que não insere nada para a narrativa. Podemos considerar que a intenção foi a de demonstrar que não devemos atribuir certas coisas à magia, ou algo assim, mas não foi muito bem utilizado pela narrativa.

Histórias Assustadoras para Contar no Escuro
Cena de “Histórias Assustadoras para Contar no Escuro” (Imagem: reprodução)

No geral, a adaptação de Øvredal e Del Toro é interessante pelo sentimento e esforço de trazer uma obra cheia de elementos naturais sobre histórias de fogueira, cantigas e sonhos. Se você gosta da adaptação mais recente de “IT”, “Goosebumps” ou sente saudades da antiga série “Clube do Terror”, pode sentir-se nostálgico com “Histórias Assustadoras para Contar no Escuro” ou pelo menos garantir uma boa diversão no cinema. 

Uma das grandes mensagens de “Histórias Assustadoras para Contar no Escuro” é que você precisa tomar muito cuidado com as histórias que conta, pois elas podem curar, mas também podem machucar.


Edição realizada por Gabriela Prado e revisão por Isabelle Simões.

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Formada em História, escreve e pesquisa sobre terror. Tem um afeto especial por filmes dos anos 1980, vampiros do século XIX e ler tomando um café quentinho.
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