Desde 2004 partos não são mais realizados na famosa ilha de Fernando de Noronha. As moradoras grávidas passaram a ser obrigatoriamente transferidas para Recife três meses antes de dar à luz, tendo que ficar hospedadas num hotel durante todo esse tempo, longe de casa e da família. Ao saber disso, a diretora Joana Nin resolveu fazer o documentário, Proibido Nascer no Paraíso, investigando a situação.
Proibido Nascer no Paraíso é um filme-denúncia
O documentário acompanha Ione, Harlene e Babalu, três gestantes que gostariam de ter seus partos na ilha, mas são obrigadas, como todas as outras, a se deslocar para Recife mediante um ofício do Estado quando entram no terço final de suas gestações.
Muitos moradores da ilha acreditam que a medida de impedir partos locais foi planejada para que os bebês não possam reivindicar direitos no futuro. Dessa forma, as famílias tradicionais da ilha podem começar a ter dificuldades de conseguir concessão de terrenos para moradia ou para seus comércios.
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Fernando de Noronha é um distrito estadual de Pernambuco, com uma burocracia diferente e específica para a ilha. Os terrenos não podem ser vendidos, apenas concedidos pela administração local, vinculada ao governo de Pernambuco. Impedir o nascimento de pessoas lá, que teriam o registro de natalidade local, pode ser uma forma de dificultar a busca dessa população por direitos naturais à ilha, já que em suas certidões constará nascimento em Recife.
A luta de classes afeta todos os aspectos da sociedade
Em um momento, o documentário mostra o interior de um luxuoso hotel na ilha, que contrasta fortemente com a condição precária das residências dos moradores locais, salientando a desigualdade. O dono do hotel também menciona que seus funcionários são trazidos do continente.
Há igualmente várias imagens de turistas abastados se divertindo e aproveitando a exuberância da paisagem, contribuindo para deixar clara a visão de que o objetivo da administração da ilha é priorizar o turismo e o lucro dos empresários do ramo. A população local é tratada como um empecilho, que deve ser, aos poucos, removido.
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Joana Nin pretende fazer um filme de denúncia. Portanto, o documentário foca muito mais em investigar a situação, a burocracia e o tratamento impessoal dado às gestantes pelos agentes do Estado. O filme não entra muito a fundo na história de suas personagens; prefere ser econômico e usá-las para ilustrar a questão maior da proibição dos partos. Incomoda apenas um final muito em aberto. Quando achamos que vamos acompanhar até o fim a história da última gestante, o filme termina repentinamente.
Como denúncia, entretanto, Proibido Nascer no Paraíso cumpre muito bem sua função. O filme chega aos cinemas brasileiros em Abril.
Revisão por Gabriela Prado.