Mulheres Extraordinárias: As Criadoras e a Criatura

Mulheres Extraordinárias: As Criadoras e a Criatura

Visionárias. Sobreviventes. Revolucionárias. Mãe. Filha. Mulheres. As vidas de Mary Wollstonecraft e Mary Shelley são o tema do livro Mulheres Extraordinárias: As Criadoras e a Criatura, da poeta e biógrafa Charlotte Gordon. Lançado pelo selo DarkLove da Darkside Books, trata-se de uma extensa biografia que acompanhará a jornada de mãe e filha que, apesar delas conviverem por pouco tempo, compartilharam o mesmo espírito libertário de igualidade por onde passaram.

Wollstonecraft não chegou a presenciar o marco literário de sua filha Shelley, pois faleceu dez dias após o parto, de febre puerperal. Por outro lado, a genialidade de Shelley não existiria sem a figura de sua maior musa: sua mãe. A autora-mãe da ficção científica, que criou um dos maiores monstros atemporais no livro Frankenstein, lia e relia constantemente os trabalhos de Wollstonecraft como inspiração.

Mulheres Extraordinárias: Mary Wollstonecraft e Mary Shelley

Mulheres Extraordinárias: Mary Wollstonecraft e Mary Shelley

Considerada uma das primeiras feministas da história, Mary Wollstonecraft foi responsável pela criação da obra que desafiou diversos costumes da sociedade inglesa do século 18. Reivindicações dos Direitos das Mulheres foi publicado em 1792, numa época onde o papel das mulheres relacionava-se unicamente com o cuidado do lar e dos filhos.

“É assim, por exemplo, que a demanda por educação tem por objetivo exclusivo permitir o livre desenvolvimento da mulher como ser racional, fortalecendo a virtude por meio do exercício da razão e tornando-a plenamente independente”.

– Trecho de Reivindicações dos Direitos das Mulheres (1792)

A obra revolucionária de Wollstonecraft clamava por igualdade de gênero, buscando retirar a mulher do espaço privado doméstico e conceder a liberdade de inseri-la ao espaço público, através do direito a educação como conquista de sua independência.

Mary Wollstonecraft
Mary Wollstonecraft durante a gravidez de Mary Shelley. Retrato pintado por John Opie, em 1979. (reprodução)

Mary também foi uma abolicionista. Ela apontava a necessidade de uma libertação feminina abrangente que reconhecesse outras formas de opressão. Porém, os recortes de raça e classe ganhariam mais destaque a partir das visões de femininas negras norte americanas na década de 60. Wollstonecraft, assim, apresentou uma importante obra para a história do feminismo, mesmo sendo fruto de um pensamento liberal da época.

Wollstonecraft teve uma vida nada fácil. Sobrevivente de um pai abusivo, Mulheres Extraordinárias mostrará que a educação foi a principal arma utilizada por Mary para escapar desse ambiente opressivo e violento. Ao sair de casa com 19 anos, fundou uma escola em Londres junto com sua irmã Mary e sua melhor amiga Fanny Blood – responsável por expandir suas reflexões feministas. Após passar pela experiência de governanta, ingressou no ramo de traduções ao aprender francês e alemão. Foi neste período que Wollstonecraft começou a frequentar os círculos intelectuais e dar início a sua carreira literária.

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Dessa forma, a biografia escrita por Charlotte Gordon acompanhará grande parte dos desafios enfrentados pela autora visionária, que teve de enfrentar diversas dificuldades ao longo da vida. No entanto, parte da oportunidade que Wollstonecraft sempre lutou para conquistar, foi vivido em parte por sua filha. Mary Shelley teve o privilégio de receber a melhor educação que uma mulher poderia ter naquela época, graças ao apoio do pai, o filósofo William Godwin.

Mary Shelley
Mary Shelley (Imagem: reprodução)

Mulheres Extraordinárias mostrará a ascensão de Mary Shelley, que desde o nascimento foi vista como uma extensão da genialidade da mãe. Após o nascimento da filha, Godwin pediu ao amigo William Nicholson, especialista em fisionomias, para mensurar o crânio e os traços faciais de Shelley, que notou indícios de “memória e inteligência consideráveis“, além de uma “sensibilidade aguçada“.

Interessante observar que o único fator negativo apontado por Nicholson sobre a criança foi o fato dela ser “irascível em sua resistência“. No entanto, tal característica trata-se mais de um elogio do que um fator negativo. Mary Shelley teria se tornado quem foi se não tivesse utilizado sua resistência no mercado literário predominantemente masculino daquela época? Apesar de ter escrito um dos maiores clássicos da literatura mundial, estudada e lida por séculos, ela, assim como sua mãe, também teve que lutar para exigir o seu espaço por direito.

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Mulheres Extraordinárias é uma biografia completa de Mary Wollstonecraft e Mary Shelley, que mostra todos os percalços que mãe e filha tiveram que enfrentar em um mundo masculino e opressor. E mesmo após tantos anos, nós, mulheres do século XXI, continuamos enfrentando parte dessas opressões que mãe e filha lutaram para combater.

Conhecer a vida dessas criadoras é mais que um dever, trata-se de uma reparação histórica. O apagamento de figuras femininas históricas é algo ainda recorrente, portanto é imprescindível conhecermos a história daquelas que abriram portas para tantas outras mulheres. Encerrar o ano com essa leitura é uma inspiração fortalecedora para enfrentar os desafios do próximo ano. Obrigada por todo o legado, Mary Wollstonecraft e Mary Shelley!


Mulheres Extraordinárias As Criadoras e a Criatura (resenha)Mulheres Extraordinárias: As Criadoras e a Criatura

Charlotte Gordon (autora)

Giovanna Louise Libralon (tradutora)

624 páginas

Darkside Books

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Fundadora e editora do Delirium Nerd. Apaixonada por gatos, cinema do oriente médio, quadrinhos e animações japonesas.
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