Red (Taylor’s Version): um álbum sobre as muitas faces do amor

Red (Taylor’s Version): um álbum sobre as muitas faces do amor

Desde que começou a jornada para recuperar os direitos sobre suas canções, Taylor Swift tem reiterado a singularidade de cada uma de suas obras, de forma que é difícil afirmar que o Red tenha sido um marco para Taylor quando cada um dos álbuns da cantora parece ter sido tão marcante para a sua carreira. Uma artista que é conhecida, entre tantas outras realizações, por se reinventar a cada nova era, torna a tarefa de escolher apenas uma obra prima um desafio quase impossível. 

Ainda assim, se havia alguma dúvida de que o Red é, no melhor dos sentidos, uma mancha de vermelho vivo na história da cantora, o Red (Taylor’s Version) atestou de vez a iconicidade da obra. 

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Taylor Swift no ensaio fotográfico para o álbum Red (Taylor’s Version) | Imagem: Beth Garrabrant

Red: o começo de muitas eras

Famoso por conter algumas de suas primeiras experiências com a música pop, o Red marca a carreira de Taylor por registrar seus primeiros passos para longe do country e por assinalar um padrão que a acompanharia pelo resto de sua jornada: o de não permanecer fixa a apenas um gênero e um estilo musical.

A tracklist do álbum vai do pop – em canções como I Knew You Were Trouble – até uma reminiscência do country que protagoniza os primeiros três álbuns da cantora – em músicas como I Almost Do. Após o Red, Taylor lançaria mais três obras dentro do gênero pop, sendo elas 1989, Reputation e Lover

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Dessa forma, o Red assinala uma passagem, um divisor de águas dentro da carreira de Taylor, separando duas séries de álbuns onde a cantora experimentou novos rumos para sua jornada artística. A artista volta a se aventurar com mudanças no estilo de suas canções em 2020, com o lançamento dos álbuns Folklore e Evermore. Posteriormente, as regravações do Fearless revelariam músicas do gênero country inéditas que foram descartadas da primeira versão da obra. 

Se hoje Taylor cria álbuns tão diversos e experimentais, como o Folklore e o Evermore, grande parte dessa ousadia se deve ao desenvolvimento artístico que começou com o Red e com os riscos que foram assumidos com o lançamento desse álbum. 

Red (Taylor’s Version) e a consagração do Red

No entanto, se o Red trouxe aspectos positivos para a carreira de Taylor, a regravação do álbum revisita, com mais segurança, alguns pontos que foram ignorados na primeira versão da obra. O acerto supremo é o lançamento da versão estendida da música All Too Well, uma das canções mais amadas pelos fãs da artista. 

All Too Well, apesar do favoritismo dos fãs, não foi originalmente lançada como um single. A música retrata um relacionamento mal sucedido onde a mágoa e a melancolia se unem. A versão lançada no Red (Taylor’s Version) conta com aproximadamente 6 minutos extras, totalizando 10 minutos de duração. 

Além do tempo a mais de música, All Too Well ainda ganhou um curta protagonizado pelos atores Dylan O’Brien e Sadie Sink, que revivem o romance retratado na canção. Partes adicionais da letra que foram descartadas no primeiro lançamento revelam uma relação com uma diferença de idade entre os personagens da música, bem como as repercussões negativas do relacionamento na saúde física e mental do eu lírico (diretamente inspirado na própria Taylor). 

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I’m a soldier who’s returning half her weight

And did the twin flame bruise paint you blue?

Just between us, did the love affair maim you too?

(Eu sou um soldado retornando com metade do meu peso

E a marca dessa chama cobriu você de tristeza?

Só entre nós, esse amor mutilou você também?)

Taylor Swift no ensaio fotográfico para o álbum Red (Taylor's Version)
Taylor Swift no ensaio fotográfico para o álbum Red (Taylor’s Version) | Imagem: Beth Garrabrant

Parece compreensível que, aos 23 anos de idade, em meio a um período bastante sexista da música, onde Taylor, em especial, era criticada por seus relacionamentos, a artista tenha escolhido descartar letras como I’ll get older, but your lovers stay my age (eu vou envelhecer, mas suas namoradas vão continuar com a minha idade). A verdade é que o começo da carreira da cantora envolveu um machismo que não perdoava sequer a fragilidade da juventude. 

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Agora, com nove álbuns e duas regravações repletas de músicas inéditas, aliadas à uma estabilidade maior em seus posicionamentos pessoais e um cenário musical um pouco menos sexista, Taylor tem mais liberdade para lançar quantas canções ela bem entender, explorando os mesmos temas de novo e de novo. Tanto o Fearless (Taylor’s Version) quanto o Red (Taylor’s Version) dão voz às visões originais de Taylor para obras que precisaram ser, de certa forma, contidas para atender aos apelos do mercado no período do lançamento.

All Too Well (10 Minutes Version) (Taylor’s Version) bateu o recorde de música mais longa a ficar na primeira posição da Billboard Hot 100. O título pertencia à clássica American Pie, de Don McLean, que permaneceu imbatível desde o ano de 1972. A cantora ainda bateu o seu próprio recorde como a cantora o maior número de canções a entrarem de forma simultânea no US Hot 100 (26 músicas). A artista ainda atingiu um alto número de reproduções em plataformas de streaming musical. 

Taylor Swift no ensaio fotográfico para o álbum Red (Taylor’s Version) | Imagem: Beth Garrabrant

Ainda assim, a canção resultou em muitas polêmicas por conta das especulações a respeito da vida pessoal de Taylor (e que voltaram aos holofotes com o lançamento do curta de All Too Well). No entanto, a decisão da cantora em enfatizar essa música registra a relação de Taylor com os fãs. 

Em diversos momentos a artista ressaltou que essa canção foi escolhida como single pensando especificamente no favoritismo dos fãs pela música. Antes do lançamento da versão estendida, era comum que Taylor incluísse uma performance de All Too Well em seus shows de turnês referentes a outros álbuns. 

Taylor Swift em cena do clipe "All Too Well (10 Minutes Version)", escrito e dirigido por ela.
Taylor Swift em cena do clipe “All Too Well (10 Minutes Version)”, escrito e dirigido por ela.

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Red (Taylor’s Version) e as muitas experiências com o amor

De acordo com Taylor, a canção que abre o álbum, State of Grace, ajuda a definir a temática do Red. Para ela, a música fala sobre as muitas faces através das quais o amor pode se revelar a alguém, com diversas experiências que podem resultar em finais felizes ou desfechos trágicos. 

“State of Grace’ é uma música que eu escrevi no começo do processo de criação desse álbum, e eu acho que ela ajuda a definir sobre o que o restante da obra se trata, com apenas uma frase.

Tem uma frase que diz ‘O amor é um jogo cruel, a menos que você o jogue bem e certo’. É uma espécie de aviso para o resto do álbum. Isso é o que vai acontecer se você jogar mal. Isso é o que vai acontecer se você jogar bem.

Quase serve como uma etiqueta de aviso perfeita para o resto do álbum. No momento em que você escuta a música, existem dois caminhos que podem ser seguidos, você pode ser bom para as pessoas, ou você pode jogar sujo, e ambas as consequências são refletidas nessa obra”.

Taylor Swift sobre State of Grace

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Taylor escreveu o Red quando era jovem e havia vivenciado relacionamentos que trouxeram diferentes experiências, onde a artista condensou na forma de canções. All Too Well (10 min version) é um olhar mais completo a respeito de uma dessas experiências e, assim como I Bet You Think About Me (outra música inédita), fala sobre se sentir diminuída em um relacionamento. “You laughed at my dreams, rolled your eyes at my jokes” (Você riu dos meus sonhos e revirou os olhos para as minhas piadas). 

De certa forma, a jornada do Red também é uma jornada para vencer essa figura diminuta, como um pedaço de papel amassado, e retornar à sua forma real, após experiências cansativas e dolorosas com relacionamentos românticos. O álbum, no entanto, não revela apenas uma face sombria do amor. Na canção Begin Again, Taylor fala sobre se reencontrar e viver uma relação com alguém que a ama e a aceita exatamente como ela é. 

Took a deep breath in the mirror

He didn’t like it when I wore high heels

But I do

Turn the lock and put my headphones on

He always said he didn’t get this song

But I do, I do

(…) 

I’ve been spending the last eight months

Thinking all love ever does

Is break and burn, and end

But on a Wednesday in a cafe

I watched it begin again

(Respiro fundo ao me olhar no espelho

Ele não gostava quando eu usava salto alto

Mas eu gosto

Tranco a porta e coloco meus fones de ouvido

Ele sempre dizia que não entendia essa música

Mas eu entendo, eu entendo

(…)

Passei os últimos oito meses

pensando que tudo o que o amor sempre faz

é quebrar e queimar, e acabar

Mas numa quarta-feira, em um café

eu o assisti recomeçar)

Taylor Swift no ensaio fotográfico para o álbum Red (Taylor’s Version) | Imagem: Beth Garrabrant

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Além do mosaico de corações partidos, o Red também fala sobre recomeços, dos reencontros de Taylor consigo mesma e com as suas esperanças no amor. Em seu ciclo de regravações, ela se reencontra com as versões perdidas de si próprias, que também lutavam para se acharem novamente. 

Por fim, o Red (Taylor’s Version) é uma carta de avisos e conselhos a todos os apaixonados, que encontram nas canções relatos das muitas experiências que alguém pode ter com o amor. 

Com recordes quebrados marcando um sucesso estrondoso, surpresas pelas quais os fãs aguardavam desde 2012 e lançamentos de músicas inéditas, o Red (Taylor’s Version) provou que ficará para sempre marcado na carreira de Taylor. Consagrando-se com canções pelas quais a artista será lembrada, o álbum deixou claro que moving out from him is impossible (superá-lo é impossível). Tudo ainda está na mente dos fãs, em vermelho ardente. 

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Formada em Jornalismo. Gosta muito de cinema, literatura e fotografia. Embora ame escrever, é péssima com informações biográficas.
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