Samantha em Sex and the City: o melhor e o pior da personagem

Samantha em Sex and the City: o melhor e o pior da personagem

Após fazer falta na primeira, Samantha Jones (Kim Cattrall) finalmente vai aparecer (em UMA cena!) na 2ª temporada de And Just Like That, em junho de 2023 na HBO Max. Melhor que nada. Afinal, o sequel de Sex and the City é um prato que pode até ser gostoso, como toda receita carregada de memória afetiva. Mas, sem Samantha, falta uma pimentinha.

Para muitos, Samantha sempre foi a protagonista moral e a razão principal para assistir à série. A personagem responsável por colocar o sexo em SATC, mas que não tem medo de ficar sozinha nem se humilha pra homem. É obcecada por transar mas não está disposta a perder o amor próprio pra isso: ela é que decide quando e com quem, e só transa se for para ter muito prazer e se sentir maravilhosa. E, acima de tudo, está disposta a defender as amigas incondicionalmente, sem julgamentos.

Samantha Jones

Mas Samantha em Sex and the City é uma personagem totalmente hiperbólica, uma fantasia de mulher empoderada imaginada por um homem dos anos 90. A sua vida amorosa era tão realista quanto a de uma super-heroína da Marvel em versão transuda.

Seus superpoderes? Uma autoconfiança além de toda imaginação e uma sorte de outro mundo. Em seis temporadas, nenhum dos seus incontáveis encontros com desconhecidos acabou sendo uma experiência perigosa ou traumática. 

Só que ela também é profundamente humana, surpreendentemente crível e coerente, graças ao carinho e entrega com que a Kim Cattrall construiu Miss Jones ao longo dos anos.

Grandes momentos de Samantha em Sex and the City

Então, enquanto a 2ª temporada de And Just Like That não vem, aqui estão alguns dos grandes momentos da Samantha em Sex and the City. Alguns bons e outros nem tanto. E, ainda, desejos e esperanças para a chegada da personagem na época atual. Seus bons momentos merecem até bullet points.

  • O melhor da Samantha nem tem sempre tem a ver com sexo. Ela também é ótima quando ativa essa autoconfiança sobre-humana para outros fins. Por exemplo, no episódio do verão escaldante. Para entrar com as amigas num clube com piscina, ela se passa por inglesa, improvisando um sotaque britânico e sustentando a lorota até o fim. Nesse mesmo episódio ela interage com a Ginger Spice em pessoa, Geri Halliwell.
Samantha (de costas) encontrando com a Ginger Spice, Geri Halliwell, em pleno dia de Nova York.
Samantha se encontrando com Geri Halliwell em Nova York.
  • A Samantha furiosa é uma das melhores Samanthas. Quando Richard (James Remar) trai sua confiança, ela cola pelo bairro todo cartazes xingando a cara dele: diva precursora dos exposed na internet. Um detalhe delicioso é que uma policial tenta impedi-la, mas muda de ideia depois de ouvir o que o Richard aprontou.
Samantha pregando cartazes de Richard nas ruas, com a foto dele e os avisos "Traidor" e "Mentiroso"
Samantha pregando cartazes nas ruas com a foto de Richard e os avisos “Traidor” e “Mentiroso”.
  • Samantha é polêmica, mas justa. Num restaurante, um menino de uns quatro anos está na mesa ao lado, aos berros e ela reclama que não é obrigada a aguentar isso, se ela mesma não quer filhos. O moleque se vira e joga no blazer branco da Samantha um punhado de massa, temperada com o que parece ser um molho pesto radioativo. Ela só respira fundo e comenta, “eu expus meu ponto, e ele o dele”.

Leia >> A maternidade retratada em “Sex and the City”

Momento bônus

  • Por falar em crianças, teve o dia em que Samantha Jones atacou de babá pro bebê da Miranda (Cynthia Nixon). Quando a cadeirinha vibratória que faz o pequeno Brady parar de chorar quebra, ela resolve a situação colocando ao lado do nenê um belo de um vibrador tamanho extra large. E funciona.
Samantha colocou um vibrador na cadeirinha do bebê de Miranda para ele parar de chorar.
Samantha ataca de babá em Sex and the City e esse é o resultado.

Grandes erros de Samantha em Sex and the City

Ser a protagonista paralela de Sex and the City tem seus reveses. Entre gordofobia, transfobia, classismo e tudo o mais, escolher os momentos mais problemáticos da série é um trabalho árduo. Mas é possivelmente na conta da “sincerona” Samantha que os roteiristas colocaram as situações e falas mais “politicamente incorretas”. 

  • A série toda é lamentável no que toca às questões raciais. Mas a maior vergonha alheia é quando, na 3ª temporada, a Samantha tem um affair com o Chivon (Asio Highsmith), um empresário musical negro. Ela sofre um risível “racismo reverso” por parte da irmã dele, Adeena (Sundra Oakley), mostrada como agressiva e irracional. O pior de tudo é que a Samantha acaba como supostamente mais progressista que os personagens negros, escritos com superficialidade extrema.
Adeena encarando Samantha e conversando sobre seu irmão.
Adeena conversando com Samantha.
  • Também tem o episódio em que a Samantha discute com as travestis, que se prostituem no bairro hipster para onde acaba de se mudar. É um show de estereótipos. Na época não se falava sobre linguagem inclusiva e as questões de gênero engatinhavam. Mesmo assim, o uso da palavra “tranny” (pode ser traduzido como “traveco”) poderia ter sido evitado.

Samantha (em primeiro plano) no meio da rua de seu bairro, conversando com as travestis.

  • Antes de Miranda e Che Diaz (Sara Ramirez) quebrarem todos os recordes do cringe e virarem piada no Twitter (“Hey, it’s Che Díaz!”), a Samantha foi a primeira não-hétero do quarteto. Lá na 4ª temporada de SATC ela namorou a pintora brasileira Maria (Sônia Braga), provando que as personagens desta série só podem ser bi/pan com pessoas latinas. O problema é que, antes disso, ela tinha se juntado ao coro de “achar esquisito” quando a Carrie ficou com um cara bissexual.

Leia >> Sex and the City: entre cosmopolitans, relacionamentos e problematizações

Samantha e Maria em Sex and the City se olham apaixonadas.
Samantha namorou a artista plástica brasileira Maria (Sonia Braga) na quarta temporada de Sex and the City.

O que esperar da Samantha na segunda temporada de And Just Like That

Então, o que o mundo de 2023 poderia reservar para Samantha Jones? Pode-se imaginar que ela teria uma visão cética sobre a era dos aplicativos, onde a enrolação é maior que a ação, sobre o novo puritanismo da Gen Z norte-americana e a positividade tóxica do Instagram. Na prática, será apenas uma rápida aparição, e só no final da 2ª temporada de And Just Like That

Samantha colocando os óculos de sol para cima, com um olhar impressionado em Sex and the City

E, como não vivemos num mundo ideal, e a função da Samantha em And Just Like That vai ser provavelmente aconselhar a Carrie (Sarah Jessica Parker) sobre seu novo interesse romântico, não custa sonhar que a Kim Cattrall vá exigir boas falas para sua personagem e ela tenha tempo de tela suficiente para dar, ou melhor, distribuir excelentes one-liners sobre a vida moderna e os relacionamentos depois dos 50.

Leia >> Aborto em “Sex And The City”: a decisão consciente nas mãos de populares personagens femininas

Crédito: colagem em destaque por Isabelle Simões.

Escrito por:

8 Textos

Redatora, formada em Jornalismo no início do século, moradora da internet, gosta de falar sobre coisas que não existem.
Veja todos os textos
Follow Me :