Crescendo Juntas: os altos e baixos do amadurecimento feminino

Crescendo Juntas: os altos e baixos do amadurecimento feminino

Dentro do universo cinematográfico, alguns filmes nos acolhem de maneira primorosa. Em Crescendo Juntas, dirigido por Kelly Fremon Craig e disponível na HBO Max, somos conduzidas ao passado através de Margaret Simon, uma personagem que nos faz vivenciar uma montanha-russa de emoções ao amadurecer na década de 1970.

Crescendo Juntas e as mudanças inesperadas na família Simon

Interpretada por Abby Ryder Fortson, Margaret cresce em uma família onde o cristianismo e o judaísmo se entrelaçam. Prestes a completar 12 anos, ela desfruta de uma vida tranquila, sem imposições religiosas, condizente com sua idade. No entanto, após retornar de um acampamento de férias, Margaret recebe a notícia de uma mudança repentina: a família está se mudando para o outro lado da cidade.

Diante dessa situação, a tristeza se instaura naturalmente. Margaret enfrenta a adaptação a uma nova escola e a convivência com colegas diferentes. Seus pais também precisam ajustar-se a uma nova rotina, enquanto a avó, antes próxima, lida com a distância imposta pela mudança na vida de Margaret, da nora e do filho.

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Rachel McAdams e Ben Safdie interpretam Barbara e Herb, os pais de Margaret
Rachel McAdams e Ben Safdie interpretam Barbara e Herb, os pais de Margaret (Imagem: Reprodução)

Da juventude à velhice: as diferentes fases na vida de uma mulher

Similar a Quase 18, filme dirigido por Kelly Fremon Craig, as grandes mudanças na vida das personagens femininas são o foco principal. Cada uma atravessa fases distintas, transitando entre juventude, idade adulta e velhice, refletindo dilemas únicos.

Margaret descobre, de forma inocente, como é evoluir como mulher em um novo ambiente. Sua mãe, após abdicar do cargo de professora para se dedicar à família, busca equilibrar a gentileza com suas próprias vontades. Enquanto isso, a avó, agora vivendo sozinha, precisa de algo que a distraia além das obrigações religiosas.

Numa época onde as situações familiares não exigiam tanto cuidado e compreensão, a narrativa entrega relações aconchegantes e um crescimento coletivo. Semelhante às produções de Greta Gerwig, as três personagens destacam que há muito a aprender umas com as outras, independentemente do parentesco e da diferença de idade.

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Margaret e a avó Sylvia (Kathy Bates) se relacionam de maneira encantadora durante o filme "Crescendo Juntas"
Margaret e a avó Sylvia (Kathy Bates) se relacionam de maneira encantadora durante o filme (Imagem: Reprodução)

A inocência na passagem da infância para a vida adulta

Explorando o gênero coming of age, Crescendo Juntas destaca de forma excepcional a pré-adolescência feminina.

Ao chegar em sua nova casa, Margaret conhece Nancy (Elle Graham), uma vizinha que frequenta a mesma escola. Ao contrário de Margaret, Nancy e suas amigas se mostram mais “evoluídas” em seus interesses, refletindo nos hábitos, vestimentas e aproveitamento dessa fase.

Margaret, Nancy e as amigas descobrindo a revista Playboy 
Margaret, Nancy e as amigas descobrindo a revista Playboy (Imagem: Reprodução)

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Com abordagem leve, o filme evoca memórias antigas em qualquer espectadora. As pressões durante a transição de fases e a constante necessidade de demonstrar maturidade, seja na escolha de lingerie ou no primeiro beijo, são exploradas como crítica implícita e provocam reflexão sobre os dilemas internos da protagonista.

Margaret, filha única com relação próxima à família, reflete emoções também em seus pais, principalmente na mãe, que já teve a idade da filha. A compaixão diante das mudanças em Margaret, tanto físicas quanto emocionais, é evidente.

A pressa para crescer, imposta por um sistema que força as mulheres a perderem a inocência muito jovens, ecoa o ponto de vista semelhante ao indicado ao Oscar em 2007, Little Miss Sunshine. Assim como em Crescendo Juntas, a história equilibra drama e humor ao explorar situações que, em certo momento, não exigem preocupação.

Are you there God? it’s me, Margaret

Assim como toda criança em desenvolvimento, Margaret busca respostas para desafios psicológicos, encontrando em Deus um refúgio surpreendente.

Apesar de parecer tendenciosa à primeira vista, a narrativa contradiz essa ideia. Criada em um lar com influências cristãs e judaicas, Margaret é incentivada a amadurecer antes de escolher sua crença.

Contatar Deus como confidente estabelece uma relação firme com o público. Sem respostas verbais do Ser Superior, Margaret deve descobrir sozinha como lidar com incidentes, como todas nós em algum momento.

Are you there God? it's me, Margaret
Um dos melhores destaques da trama é quando Margaret emerge, à sua maneira, nas conversas com Deus (Imagem: Reprodução)

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A frase “Are you there God? It’s me, Margaret” inspirou o título do livro e do filme em inglês. Judy Blume, autora do romance, lançou-o na mesma época em que a história se passa, envolvendo-se na produção do longa-metragem de 2023.

Apesar de ter mais de 50 anos, a narrativa mantém sua atualidade. A jornada de Margaret, repleta de abraços emocionais, evoca uma nostalgia gostosa. É surpreendente que essa joia cinematográfica tenha recebido tão pouca atenção até agora.

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Graduanda em Jornalismo com síndrome de Lady Bird. Criadora de conteúdo literário no @sohmagio, têm como filosofia de vida as obras da Ai Yazawa. Nas horas vagas, é fã e apreciadora da profundidade nas músicas do My Chemical Romance e da Taylor Swift.
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