Em Os pares de sapato não acompanham as quedas, Maria Eugênia Moreira narra a história de uma mãe que enfrenta a perda do filho, o divórcio e a memória de uma amputação.
Vivendo com a constante expectativa de que o filho poderia voltar a qualquer momento, Célia considera deixar a porta aberta. A narrativa é permeada por dor, angústia e sofrimento.
Marcos tinha 29 anos. Célia chega em casa e recebe a notícia: “Encontramos o Marcos caído ao lado do prédio.”
Um diário de saudade
Célia carrega consigo a lembrança do filho, desde os passos pela casa até o simples ato de calçar os sapatos. A saudade é eterna, e o medo de esquecê-lo assombra, seria imperdoável para uma mãe. Em momentos de dor, questiona se o suicídio foi planejado, se há uma carta de despedida.
Célia e Heitor, seu ex-marido, vivenciam o luto de maneiras distintas. Enquanto ela se entrega à dor, angústia e sofrimento, ele se recolhe. Célia recorre a fitas VHS para manter a imagem do filho viva em suas memórias.
“A agonia do esquecimento é a mais imperdoável de todas. E existe um problema: o fator mortis é capaz de impregnar com cheiro de mofo e de flor de velório todas as imagens e lembranças e resquícios do morto, gerando uma película de sofrimento insuportável, de contração muscular.”
“Fui uma mãe que vestiu a maternidade. Tudo o que pude fazer pela felicidade e pelo bom desenvolvimento do meu filho, acredito que fiz.
Digo, de maneira prática: inscrevendo-o nas aulas de judô e natação, matriculando-o em uma escola cara e com valores construtivistas, dando bons brinquedos e boas roupas, fazendo viagens que sem ele seriam muito melhor aproveitadas, mas nas quais fiz questão de carregá-lo.”
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A finitude fascina e causa curiosidade, mas também instiga o medo. Célia nunca saberá o que aconteceu, pois a verdade está com Marcos. Sua voz angustiada ativa a sensibilidade pela dor, especialmente em relação a um tema ainda tabu: o suicídio do filho.
Sobre a autora
Maria Eugênia é escritora e graduanda em Psicologia na PUC-SP. Criada na divisa dos três estados (São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais), a autora de Urucum (Ed. Penalux, 2020) e Três Palmos (Ed. Penalux, 2021) sofreu, desde cedo, a influência da literatura local. Atualmente, reside na cidade de São Paulo, onde estuda e leva a vida.