[LIVROS] Infiltrado na Klan: Memórias de um policial negro que enfrentou a Ku Klux Klan

[LIVROS] Infiltrado na Klan: Memórias de um policial negro que enfrentou a Ku Klux Klan

Infiltrado na Klan é um livro de memórias escrito por Ron Stallworth, o primeiro detetive negro de Colorado Springs, em Colorado, Estados Unidos. Stallworth começou a trabalhar na política em 1972 e, em 1978, estava fazendo parte de uma das operações mais interessantes e estranhas da história: um policial negro infiltrado na Ku Klux Klan.

Lançado no Brasil pela Editora Seoman, com tradução de Jacqueline Damásio Valpassos, o livro foi adaptado para o cinema por Spike Lee (Do The Right Thing, Malcolm X, Ela Quer Tudo) e produzido por Jordan Peele (Get Out). O filme estreou no festival de Cannes em maio deste ano e tem a data de estreia no Brasil prevista para o dia 22 de novembro. O elenco conta com John David Washington como Ron Stallworth e Adam Driver como Flip Zimmerman, personagem que assumiu o lugar do policial Chuck na narrativa. 

Infiltrado na Klan

Stallworth era um rapaz negro em 1970, que decidiu participar do programa de cadetes do Departamento de Polícia, que recrutava minorias para serem agentes da lei. Ele nem imaginava que um dia estaria conversando com o “Grande Mago” da KKK. Quando mais novo, a vontade de Stallworth era ser Professor de Educação Física do Ensino Médio. Como futuro agente da lei, seus entrevistadores queriam que ele soubesse que sofreria ofensas de todo o tipo, mas que tivesse sangue frio o suficiente para abaixar a cabeça e seguir em frente, sem revidar.

O problema é que Stallworth era um jovem rebelde e não deixava as coisas tão baratas assim. Quando criança, sua mãe havia ensinado que jamais se deixasse ser chamado pela palavra com n (nigga, no livro traduzido como “crioulo”, é uma palavra de enorme ofensa no Estados Unidos), e ele havia inclusive brigado na escola em alguns episódios em que a palavra apareceu.

Stallworth começou sua carreira como detetive disfarçado poucos anos após se tornar policial, em uma investigação envolvendo os Panteras Negras. Em 1974/75, o líder dos Panteras Negras, Stokely Carmichael, estaria em Colorado Springs para um discurso e Stallworth era o único policial negro que poderia trabalhar disfarçado. Três anos depois, quando lia um jornal em busca de qualquer coisa que ameaçasse a ordem de Colorado Springs, Stallworth viu um anúncio para cidadãos que queriam se juntar à KKK. Ligou para o número indicado e, assim, se deu sua primeira grande investigação.

Infiltrado na Klan

Nesse período, a KKK tentava agregar novos participantes, por isso se declarava como uma organização não-violenta. Mas como ser não-violenta quando seus membros odeiam pessoas diferentes; odeiam pessoas por conta de sua cor; por sua religião; por seus antepassados? Esses foram só alguns dos absurdos com os quais Ron precisou lidar em seus meses como agente disfarçado.

Ron contou com grande ajuda de todo o departamento, mas principalmente de Chuck, um dos policiais que trabalhavam disfarçados na Narcóticos e que foi seu rosto durante toda a operação: Stallworth conversava com os chefes da KKK, e quem ia aos encontros era Chuck.

O livro de Stallworth tem uma narrativa fascinante que você não vai querer parar de ler. Com 216 páginas, a vontade de acompanhar as aventuras desse policial que ousou enfrentar a Klan nos anos 70, se disfarçando de homem branco, prende a leitora do começo ao fim. Além de tudo, Ron tem um ótimo senso de humor e demonstra como os membros da organização KKK eram absurdos e não tinham a menor noção da realidade naquela década. Um dos chefes estaduais, por exemplo, tirava suas ideias para incendiar cruzes – um dos ataques que a KKK costumava fazer para assustar a população – dos filmes de James Bond.

Mas Stallworth, mesmo sabendo que essas pessoas eram ridículas e não acreditando naqueles absurdo, mantém sempre em vista que aquelas eram pessoas perigosas, supremacistas brancos e racistas, sempre tendo em mente que a KKK, mesmo sem a força que tivera outrora, ainda era motivo para preocupação e ele não poderia abaixar a guarda.

Infiltrado na Klan

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Stallworth conta um pedaço de sua vida policial, que durou mais de 30 anos. Arquivos que ele não poderia revelar foram utilizados para que ele escrevesse essas memórias e pudesse compartilhar como foi passar meses lidando com homens que odiavam tudo que ele representava. O trabalho de Ron é impressionante e uma leitura bastante recomendada nesses momentos que enfrentamos tanto ódio e ouvimos tantos absurdos, como brasileiros a favor da KKK ou membros da KKK prestando homenagens a governantes brasileiros, por exemplo. 

A KKK é um movimento perigoso, que apoia o nacionalismo, a supremacia branca e que é anti-imigração. Seus membros pregam contra latino-americanos, contra negros, contra judeus e contra minorias. É uma organização que não merece respeito, que se utiliza do medo para lutar contra a diversidade. Mas Ron Stallworth, em 1978, provou que a KKK pode ser muitas coisas, mas que quando cidadãos se unem contra atitudes como essas, eles não tem muitas opções de ação, resumindo-se apenas a algumas poucas pessoas que se reúnem, mas que não tem real apoio da comunidade.

“Se um homem negro, auxiliado por um punhado de brancos e judeus bons, decentes, dedicados, de mente aberta e liberais, pode prevalecer sobre um grupo de racistas brancos, fazendo-os parecer os idiotas ignorantes que realmente são, então imagine o que uma nação de indivíduos que compartilham das mesmas ideias pode conseguir”

Infiltrado na Klan, Ron Stallworth, p. 09.

Confira o trailer do filme:


Infiltrado na KlanInfiltrado na Klan

Autor: Ron Stallworth

Tradução: Jacqueline Damásio Valpasso

Editora Seoman

216 páginas

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Formada em História, escreve e pesquisa sobre terror. Tem um afeto especial por filmes dos anos 1980, vampiros do século XIX e ler tomando um café quentinho.
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