[LIVROS] A Vela do Demônio: Uma história noir escandinava, de Karin Fossum (Resenha)

A Vela do Demônio foi escrito em 1995 e embora seja o terceiro livro da série do Inspetor Sejer, o mesmo não é o personagem central da história, sendo a narrativa dos eventos dividida e também mostrada pelo ponto de vista dos criminosos.

Os suspenses policiais são uma grande tradição literária dos países escandinavos e vêm ganhando cada vez mais destaque no cenário internacional, já sendo considerados um sub gênero à parte entre os romances policiais. Graças à nova geração de escritores, como Stieg Larrsson, Jo Nesbø, Camilla Läckberg e Liza Marklund, entre outros, autores mais antigos estão sendo descobertos e ganhando mais atenção ao redor do mundo. Um desses autores já consagrados a cair nas graças do público internacional é a veterana Karin Fossum.

Karin Fossum nasceu em 1954 na cidade norueguesa de Sandefjord e é considerada por muitos fãs como a rainha escandinava dos romances policiais. Antes de se tornar uma escritora ela trabalhou em hospitais psiquiátricos e clínicas de reabilitação para viciados em drogas. Podemos perceber que essa experiência colaborou muito para sua forma de escrever e compor seus personagens, principalmente na formação do personagem central de muitos dos seus livros, o inspetor Konrad Sejer. As obras de Fossum já serviram de base para alguns filmes, entre eles “La ragazza del lago”, um filme de suspense italiano lançado em 2007.

Em A Vela do Demônio somos apresentadas ao charmoso Andreas Winther, um jovem problemático que passa seu tempo perambulando pelas ruas da cidade ao lado de seu amigo menos favorecido, Zipp, com quem divide suas bebidas e parte de seus segredos. Desde o começo do livro fica bem claro que a relação dos dois é mais uma amizade mais baseada na conveniência do que um laço profundo de cumplicidade. Em uma noite, após assaltarem uma jovem mãe e causarem a morte de uma criança, os dois decidem invadir a casa de uma mulher idosa e solitária para também assaltá-la, mas acontece que a vítima, Irma Funder, não é uma senhora comum.

Enquanto Andreas invade a casa de Irma, Zipp o espera do lado de fora, mas quando o outro falha em retornar e seu desaparecimento é reportado à polícia, Zipp se torna parte da investigação. É essa a situação que o detetive Sejer e seu colega Jacob Skarre encontram quando investigam a relação entre os crimes e o desaparecimento do delinquente da cidade.

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Ao contrário da maioria dos detetives e policiais das histórias de crime noir, Sejer é uma pessoa bastante decente, ele se importa com todos ao seu redor e trata todo mundo com respeito, das famílias das vítimas aos os suspeitos dos crimes. Ele possui todo um processo de investigação para tentar conhecer essas pessoas e entender o que se passa em suas vidas e em suas mentes para assim poder montar o quebra-cabeça que é uma cena de crime. O inspetor leva seu trabalho muito a sério e seu senso moral gera o respeito de todos que se encontram com ele. Sua fé na justiça e a necessidade de compreender a mente dos criminosos são suas melhores armas na busca pela verdade.

Os eventos descritos em A Vela do Demônio podem ser perturbadores para leitores mais sensíveis, por isso deixamos o aviso para quem se abalar com descrições gráficas de sofrimento e violência. Os capítulos misturam pontos de vista de vários personagens, o que é bem interessante, pois podemos saber tudo o que se passa em suas mentes e mergulhar em todas as nuances de suas personalidades.

Em A Vela do Demônio, o papel de Sejer é ponderar sobre questões como a solidão e as consequências de nossas ações que fogem do nosso controle, assim como o efeito devastador de um crime na vida de todos os envolvidos, sejam eles vítimas, criminosos ou investigadores. O livro é fácil de ler e não possui quebras na narrativa, o que torna a leitura rápida e mantém o leitor entretido, já que o foco da história não é um mistério a ser resolvido no final, embora ainda haja espaço para surpresas.

A Vela do Demônio foi publicado no Brasil pela Suma de Letras, que também é responsável pela edição brasileira de “Quem tem medo do Lobo”, outro título da série do Inspetor Serjer, mas infelizmente somente esses dois títulos foram traduzidos para o português, o que pode frustrar o leitor que queira acompanhar as histórias do inspetor.