Era Uma Vez em… Hollywood: entenda as controvérsias envolvendo o filme

Era Uma Vez em… Hollywood: entenda as controvérsias envolvendo o filme

Quentin Tarantino é um diretor de cinema que costuma ser bastante aclamado em vários ciclos, mas isso tomou um rumo diferente após a história com Uma Thurman vir à tona e seus pontos negativos, finalmente, chegarem na superfície. Seu último lançamento, “Era Uma Vez em… Hollywood”, tem recebido graciosas críticas sobre ser um exercício de amor ao cinema, na opinião de alguns, enquanto outros enxergam o filme com mais cautela: ou seja, existe uma balança de opinião comum, exceto por dois pontos controversos.

O primeiro deles é o tratamento da atriz Margot Robbie, que recebeu cenas adicionais antes da estreia devido a um embate do diretor com jornalistas numa conferência: Tarantino acabou adicionando mais cenas de Sharon Tate, interpretada por Robbie, e a atriz aparentemente está tão incrível que já gera expectativas para o Oscar.

Durante uma conferência da mídia para divulgação do filme, Tarantino foi perguntado sobre as poucas falas de Margot Robbie durante o filme. Ele simplesmente respondeu “Bom, eu rejeito sua hipótese“. Mas graças à edição, foram adicionados cerca de dois minutos a mais para Sharon Tate, depois da estreia em Cannes. Tarantino afirma que estendeu uma determinada cena do filme. 

Era Uma Vez em... Hollywood
Mike Moh interpreta Bruce Lee em “Era Uma Vez em… Hollywood”. Imagem: reprodução
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Existe ainda um segundo ponto, não retratado nem recuperável, que foi a visão de Tarantino sobre Bruce Lee durante o filme. Trata-se de uma cena o envolvendo que causou muita repercussão. Para não darmos muitos spoilers, vamos resumir apenas assim: Bruce teve uma participação brevíssima, onde agiu como um arrogante pretensioso, tomando um corretivo dos “hollywoodianos”. 

A cena gerou extenso debate e muita repercussão, e dentre todas elas, a mais interessante foi a coluna escrita pelo amigo de longa data de Bruce Lee e esportista com que ele conviveu: Kareem Abdul-Jabber, ex-jogador de basquete, uma lenda da NBA, ator e escritor, fala sobre o retrato de Bruce Lee no mais novo filme de Tarantino para o The Hollywood Reporter.

“Bruce Lee era meu amigo e professor. Isso não o dá um passe livre para como ele é retratado nos filmes, mas me dá alguma perspectiva sobre o homem que ele era. Eu conheci Bruce, pela primeira vez, quando eu era um estudante na UCLA tentando continuar o estudos de artes marciais que comecei em Nova York. Nós rapidamente ficamos amigos e desenvolvemos uma relação estudante-professor. Ele me ensinou a disciplina e espiritualidade das artes marciais, o que foi enormemente responsável para que eu fosse capaz de competir profissionalmente pela NBA, nos próximos 20 anos, com pouquíssimos machucados.”

Bruce Lee e Kareem Abdul-Jabbar
Bruce Lee e Kareem Abdul-Jabbar em 1978. Imagem: reprodução

Abdul-Jabber diz que apesar de ser um fã das obras de Tarantino, ficou desapontado sobre a escolha do autor de reescrever a história quanto ao papel de Lee. A própria filha de Bruce Lee chamou de um desrespeito ao legado de seu pai. Abdul-Jabber continua:

Criadores de filmes tem uma responsabilidade quando estão brincando com a percepção popular de pessoas históricas admiradas, de manter uma verdade básica quanto ao conteúdo dos seus personagens. A caracterização do Bruce Lee de Quentin Tarantino em ‘Era Uma Vez em… Hollywood’ não consegue fazer isso. Claro que Tarantino tem o direito de retratar Bruce da maneira que ele quiser. Mas ao fazê-lo de modo tão preguiçoso e de certo modo racista, ele falha como um artista e como ser humano. É isso que torna as cenas de Bruce Lee tão decepcionantes, pois não são baseadas em fatos, mas num lapso de consciência cultural.

Bruce Lee sempre falou apaixonadamente sobre o quão frustrado ele era com o estereótipo e a representação de asiáticos em filmes e na TV.”

Bruce Lee
Bruce Lee. Imagem: reprodução

Eu já estive com Bruce várias vezes quando algum idiota aleatório tentava desafiá-lo em público. Ele sempre negava educadamente e seguia em frente. A primeira regra do clube da luta de Bruce Lee era: não lute, a não ser que não exista outra opção. Ele não precisava se provar. Sabia quem era e que a verdadeira luta não era no tatame, mas sim nas telas, criando oportunidades para asiáticos serem vistos como mais do que estereótipos. Infelizmente, ‘Era Uma Vez em… Hollywood’, prefere os modos antigos“.

O ex-jogador expressa claramente sua frustração com uma cena que poderia muito bem ser conduzida de outra maneira, mas não o foi, por conta do suposto “fator Tarantino”, onde o diretor toma bastante liberdades. Acontece que essa liberdade, em específico, despertou reações mundo afora. Tarantino afirma a existência de um Bruce Lee que seus parentes, amigos e fãs refutam; e que vai de encontro ao que o símbolo do trabalho de Bruce em Hollywood, também representa. O diretor, porém, mesmo depois de várias críticas, continua segurando seu ponto. Segue trecho de Tarantino defendendo sua visão de Bruce:

“Bruce Lee era um cara meio arrogante. Eu não apenas inventei essas coisas. Eu o escutei falar coisas do tipo. As pessoas estão dizendo ‘Bom, ele nunca disse que poderia derrotar Muhammad Ali’, sim, ele disse… Poderia Cliff vencer Bruce Lee? Brad não seria capaz de vencer Bruce Lee, mas Cliff talvez pudesse. Se você me perguntar, ‘Quem venceria uma batalha entre Bruce Lee e Dracula?’ É a mesma pergunta. É um personagem de ficção. Se eu falar que Cliff pode ganhar de Bruce Lee, ele é um personagem fictício, então ele poderia vencer Bruce Lee.”

Fontes utilizadas e traduzidas:

Edição realizada por Isabelle Simões.

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