Hoje em dia temos uma quantidade imensa de possibilidades de séries na diferentes plataformas de streaming disponíveis. Há alguns anos, a produção televisiva aliada ao binge watching (maratonar uma série) vem desbancando o lugar antes preenchido pelo cinema a ponto de não somente atores de alto escalão consagrados nas nas telonas migrarem para a TV, como Julia Roberts e Nicole Kidman, mas também diretores clássicos antes críticos à revolução do streaming, como Martin Scorcese.
Esse post pretende restaurar um pouco da magia esquecida de uma história contada com começo, meio e fim em mais ou menos duas horas. De todas as plataformas, a Amazon Prime Video é a nossa escolhida como melhor lugar para encontrar verdadeiras pérolas do cinema mundial para todos os gêneros e gostos, além de uma ótima gama de filmes independentes que acabam fugindo dos grandes lançamentos e antes mais difíceis de encontrar.
Vamos por moods – já que cada dia temos uma necessidade diferente.
Para se divertir na linha indie
A Mulher Ideal (2007) conta a história de como Lars, um adulto anteriormente retraído, passa a se abrir para a vida depois de iniciar um relacionamento amoroso com uma boneca inflável. Tudo pode parecer obsceno na sinopse, mas garantimos que este pequeno filme independente, escrito por Nancy Oliver e dirigido por Craig Gillespie – que vai lançar ainda esse ano o filme Cruella, estrelado por Emma Stone -, é uma sopro de ar fresco em meio ao caos.
Mais adorável do que o próprio Lars, interpretado incrivelmente por Ryan Gosling, é assistir a forma como a família do protagonista e a pequena comunidade da cidade resolvem lidar com esse relacionamento incomum.
Lars e Bianca em “A Mulher Ideal” | Imagem: reprodução/Prime Video
Projeto Flórida (2017) é o segundo filme mais recente dessa lista – e apesar das cores tropicais e furta-cor do estado do título, esse filme pode passar batido na lista comum de prioridades. Nesta história original que é contada sob o ponto de vista das crianças, acompanhamos a jornada de Moonie (Brooklynn Prince) em um condomínio de apartamentos gerenciados por Bobby (William Dafoe).
Sean Baker escreve e dirige esse filme singelo que consegue lançar uma luz lisonjeira sob uma infância gerida nas proximidades do abandono do ponto de vista jurídico e social. A mãe de Moonie, Haley (Bria Vinaite), é uma jovem sem rede de apoio algum e que, apesar de não ser santa, ama a filha e tenta fazer o máximo para lhe dar uma vida o mais próximo possível da felicidade.
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Brittany Corre Uma Maratona (2019), dirigido por Paul Downs Colaizzo e estrelado por Jillian Bell, tinha tudo para cair no clichê da transformação da princesa, mas o filme transcende qualquer expectativa. Aqui a gordofobia é colocada em cheque no eterno embate com o exercício físico.
No longa, entendemos o conceito de fazer exercícios pelo amor ao corpo, jamais pelo ódio a ele. Não deixa de ser uma comédia romântica, o que é ótimo, porque ninguém está pronto para abrir mão delas tão cedo. Ainda temos exemplos a conta gotas, mas é possível sim subverter a fórmula do gênero sem precisar eternizar valores retrógrados e tóxicos.
Para se emocionar na linha indie
Diablo Cody tem uma parceria mais do que bem sucedida com Jason Rietman desde 2007, quando o mundo se apaixonou por Juno (Elliot Page). No último filme da parceria, Tully (2018), a roteirista traz um pouco da sua vivência de puerpério e consegue fazer uma metáfora sensível e assertiva sobre ser mãe na modernidade. No papel principal, Charlize Theron está incrível, como sempre. Tully promete grandes surpresas e um exercício muito válido de empatia e conhecimento em relação à solidão materna.
As vantagens de ser invisível (2012) é uma adaptação do bestseller norte-americano de mesmo nome, dirigido por Stephen Chbosky. O filme traz a eterna Hermione, Emma Watson, em seu primeiro papel como protagonista depois do filme da saga Harry Potter.
O drama coming of age conta a história de Charlie (Logan Lerman), um garoto sensível e introspectivo que é recebido em um colégio novo por um grupo adorável de excêntricos. Dentre eles o memorável Patrick (Ezra Miller) e sua crush, Sam (Watson). O filme garante cenas épicas ao som de Heroes, de David Bowie, e muitas emoções.
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Uma mulher fantástica (2017), filme chileno dirigido por Sebastián Lelio, foi indicado ao Oscar na categoria língua estrangeira – com alguns acenos à obra de Pedro Almodovar por trazer não somente os temas referentes a questões de sexualidade tão comuns à obra do madrilenho, mas também alguns elementos surreais.
A mulher do título é Marina Vidal (Daniela Veiga), uma garçonete transexual que acaba de perder seu parceiro e tem que lidar com a família do amado falecido e todos os preconceitos que envolvem a sua identidade de gênero, além de viver seu próprio luto.
Mistério, romance e thriller
O argentino O segredo dos seus olhos (2009) é um daqueles filmes que não tem como errar. Não importa o seu gosto cinematográfico: algumas histórias simplesmente entregam tudo. Dirigido por Juan José Campanella e estrelado pelo grande ator Ricardo Darín – que só não deve ter se bandeado por Hollywood porque não quis -, O segredo dos seus olhos é épico em todos os sentidos. Mistério, violência, amor, humor e amizade. O filme trata de paixões e arrebata nos plot twists.
Entrando na linha de histórias reais, A espiã (2009), de Paul Verhoeven, conta a história de Rachel Stein (Carice van Houten). Passado na Segunda Guerra Mundial do contexto nazista, Rachel é uma cantora judia que finge ser alemã para servir a resistência, se aproveitando do interesse de um oficial da SS.
A vida dos outros (2006) entra no contexto da guerra fria e da Alemanha Oriental. Dirigida por Florian Henckel von Donnersmarck, também foi indicado ao Oscar de língua estrangeira. Aqui temos um triângulo improvável vivido por Ulrich (Hauptmann Gerd Wiesler), um oficial da Stasi, polícia política alemã, que acompanha as escutas na casa de Georg Dreyman, um dramaturgo que vive com sua namorada, Martina (Christa-Maria Sieland). A trama envolve todos os dramas de um estado totalitário e a perda da dignidade humana no processo, mas também a empatia que pode nascer no meio de tudo isso.
Para dar uma viajada sem sair de casa
Amnésia (2000), escrito e dirigido por Christopher Nolan, foi talvez o filme responsável por ejetar o diretor ao Monte Olimpo de autores cinematográficos. O criador de Inception já trazia, na época, o emaranhado de acontecimentos complexos ao formar narrativas que o tornaram célebre. Em Amnésia acompanhamos Leonard (Guy Pierce) e a sua busca por tentar entender sua história já esquecida, formando um quebra-cabeças a partir de pequenas pistas que encontra pelo caminho.
Donnie Darko vem no ano seguinte, 2001, com Jake Gyllenhaal no papel título, um adolescente passando pela puberdade enquanto conversa com seu amigo imaginário assustador Frank, um coelho de tamanho humano com voz grossa. Nesse meio tempo, a turbina de um avião cai exatamente em cima do seu quarto, iniciando uma série de eventos sobrenaturais.
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Não poderia faltar uma animação na lista e ela vai entrar na linha de filmes um pouco estranhos. Criado na maravilhosa mente de Wes Anderson, O fantástico Dr. Fox (2009), ninguém mais ninguém menos do que George Clooney, é um raposo sem vergonha que precisa finalmente tomar seu jeito. Não precisamos dizer nada mais além do fato de que sua esposa, a Sra. Raposa, tem a voz de Meryl Streep.
Menção honrosa: clássicos de diretores consagrados
Um dos filmes mais subestimados da invejável lista de realizações de Martin Scorcese, a Ilha do Medo (2010) é uma obra de arte do suspense protagonizada por Leonardo DiCaprio.
Se você estiver em um clima clássico, nada melhor do que encarar o mais antigo dos binge watching com os dois primeiros filmes da trilogia do Poderoso Chefão. Nem precisa se preocupar em assistir o terceiro, apenas aprecie os caminhos da mente brilhante e obscura de Michael Corleone (Al Pacino), decore as falas épicas e seja feliz.
E para fechar com todas as honras, não poderíamos deixar David Fincher de fora, com seu sempre atual Clube da Luta (1999). Assista ao capitalismo decadente da visão genial de Chick Palahniuk, autor do livro que deu origem ao longa, além de Edward Norton, Brad Pitt e Helena Bonham-Carter em suas melhores formas.
Revisão por Gabriela Prado.