Sombra e Ossos foi um sucesso. Apostamos alto numa outra matéria sobre esse universo de fantasia, e o mundo está respondendo. Após quase uma semana no primeiro lugar dos mais assistidos Netflix, voltamos para trazer nossa crítica sobre a forte primeira temporada que foi entregue.
O princípio de Sombra e Ossos é relativamente simples de entender: o mundo está dividido entre aqueles que conseguem e não conseguem executar a pequena ciência. Estes, são chamados de Grisha. Nesse mundo, existe a crença de uma Conjuradora do Sol surgir para abençoar o povo e destruir a Dobra das Sombras. Considere a Dobra como um Não-Mar cortando o mapa ao meio, e dentro dele, monstros assombrosos chamados de volcras.
Alina Starkov: a conjuradora do sol de Sombra e Ossos
Alina Starkov (Jessie Mei Li) é uma simples cartógrafa, excepcional em seu trabalho, mas sem poderes. Ela é recrutada para batalhar por Ravka, mas não para cruzar a Dobra. No entanto, ela não quer ser separada do seu melhor amigo Mal (Archie Renaux) e queima os mapas principais utilizados durante a travessia. E é nisso que a aventura começa: o trajeto é um desastre, as criaturas destroem o barco, mas um milagre acontece: os poderes de Alina despertam quando ela é pega para salvar seu melhor amigo.
Um ponto importante a ser levantado é que o Mal da Netflix conseguiu conquistar uma audiência que não possuía muito antes, com os fãs dos livros. E isso se deve aos esforços do talentoso Archie Renaux. Porém, no meio do desastre, o Sol finalmente brilhou, e todo o mundo ficou sabendo do acontecimento. Inclusive, esse é o grande fio da temporada: encontrar, capturar, salvar e educar Alina Starkov, a Conjuradora do Sol.
De imediato, Alina é levada para o Pequeno Palácio, um local onde treinam os Grisha de todos os tipos sob o comando do General Kirigan (Ben Barnes). E para os apaixonados pelos livros, ele já era conhecido como The Darkling. E a despeito de ser o vilão da saga, estamos diante de um dos personagens mais famosos da saga.
Ele e Alina, na verdade, foram os nomes estampados na capa da primeira impressão dos livros. Inclusive, a referência era romântica. Algo que eventualmente você terá de ler nas páginas de fantasia para descobrir tudo que acontece. E um aviso, desde já: existem diferenças entre a trilogia original e a adaptação da Netflix.
A principal delas, talvez esteja na agência de Alina, a Conjuradora. Ela quem conduz o fio da história, suas vontades, desejos e ambições navegam ao longo dos oito episódios. A Netflix está de parabéns por nos entregar uma protagonista dona de seus desejos sexuais, sua moral, e seus objetivos. Alina é teimosa e decide seu próprio caminho. E é extremamente satisfatório observar uma mulher que tem defeitos e agência. Sua agência, aliás, é responsável por diversas reviravoltas.
Devemos observar, também, a maneira que Jessie Mei Li conduz a série. Uma atriz que consegue passar suas emoções com o olhar, fisicamente, em tom de voz, e na voracidade com a qual abraça sua Alina. Ela entende a personagem, não a enxerga como uma luz salvadora sem problemas, e desse jeito, a humaniza. Existem duas relações principais dela durante o seriado, e elas são claras: Mal e General Kirigan. Ou Aleksander Morozova.
As mulheres no universo de Sombra e Ossos
Sobretudo, antes de se engajar nessas duas histórias, vamos falar sobre quem ela encontra lá dentro e merece um destaque: Genya Safin (Daisy Head). A Grisha é uma artesã que desenvolve laços com Alina e atende todas as suas demandas de maneira delicada e gentil. Isso até o episódio onde você descobre um grande segredo sobre ela, que quebra o laço entre elas, e o coração da telespectadora.
Os momento de Alina e Genya dentro do Pequeno Palácio são um suspiro de amizade feminina entre tantos que lá dentro estão apenas impressionadas, ou querem derrubar a Conjuradora do Sol; como, a princípio, Zoya Nazyalensky (Sujaya Dasgupta).
Vale comentar uma negativa sobre a personagem: seu comportamento preconceituoso com Alina por ela ser Shu. Em primeiro lugar, em um mundo de fantasia, existem diversas outras maneiras de fazer alusão ao preconceito sofrido no mundo real. Mas o Shu é obviamente uma alusão ao ódio asiático, e Zoya e outros personagens terem se comportado de tal maneira em um ano sensível como estamos, não deveria ser admissível. Zoya, felizmente, pode ser uma famosa mean girl como na descrição de tropes, porém ela não tinha essa característica nas obras de Leigh Bardugo.
Existem diversas mulheres no Grishaverse (nome dado pelos fãs ao Universo), e é incrível notar tanto a diversidade quanto o poder colocado nas mãos delas. Por exemplo, uma das personagens favoritas dos fãs é Inej Ghafa (Amita Suman). Além disso, a própria atriz falou em entrevista com a Netflix que a história dos Corvos na primeira temporada é apenas uma introdução para o mundo deles.
E nessa introdução, Inej é aquela com o background mais claro entre os três principais, ao menos por enquanto. Ficamos sabendo que ela vem de um lugar onde seu corpo era usado para abusos, e mesmo assim, nunca perde sua fé. Ela sempre acreditou que alguém viria Conjurar o Sol, também seguindo algumas regras, como nunca matar: regras quebradas por motivos emocionais durante a trama.
Não podemos nos esquecer também de Nina Zenik (Danielle Galligan), que carrega sua personalidade com muito talento. Entretanto, alguns fãs questionaram o fato dela não ser uma atriz gorda interpretando o papel, com o objetivo de trazer maior fidelidade aos livros.
Os Corvos de Sombra e Ossos
Chegamos ao trio mais admirável do momento: Inej, Kaz Brekker (Freddy Carter) e Jesper Fahey (Kit Young). Juntos eles carregam uma sinergia fantástica, além de uma amizade bonita, bela de se ver. Apesar de Kaz Brekker ser um mistério, o personagem vale ser assistido e desvendado, pois trata-de de alguém cujo passado é apenas riscado por cima. Provavelmente isso é algo que veremos com profundidade na continuação da série.
E é bem provável que Sombra e Ossos terá uma. Enquanto isso, Jesper é a grande alma da série. Todos se apaixonam pelo carisma do atirador, que nunca erra uma bala, e acha que sua aparência é…um tanto mais nova do que realmente o é. Kit Young foi um achado, pois ele consegue carregar comédia, drama, e um espírito que une o trio. De modo algum estamos falando mal sobre a química de Amita Suman e Freddy Carter, que carregam em olhares uma preocupação intensa.
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Kaz vai aos limites para proteger Inej, e Ghafa quebra suas regras pessoais e suas crenças para defender o líder. Eles vão ao limite um pelo outro, e você deveria ler os livros para se encantar ainda mais com a parceria e elo emocional entre os dois. Inclusive, uma das cenas mais bonitas e carregadas de emoção na série inteira pertence ao par, e será fácil perceber quando ela aparecer.
A magia no mundo Grisha
Etherialki, Corporalki, Materialki. Conjuradores, controladores do corpo humano e fabricadores. Todos eles possuem Keftas de cores diferenciadas, representando sua classe. Temos pessoas capazes de parar corações, curar feridas, controlar elementos, e pessoas que fabricam ou controlam metal, vidros, e aqueles que lidam com alquimia. Para fãs de fantasias recheadas com mitologia diversa, Sombra e Ossos é um prato cheio. Alina e Kirigan são Conjuradores extremamente especiais, tão raros quanto temidos.
General Kirigan, o Darkling
Um dos maiores destaques da primeira temporada foi Ben Barnes. Ele estava em todas as promoções, entrevistas, e é um nome já conhecido na Netflix depois de “The Punisher”. O ator conseguiu transmitir as emoções do vilão de forma quase… emocional. Vale informar que ele é completamente apaixonado pelo universo, além de ter uma compreensão própria do personagem. Se todos vão concordar com ele ou não, será algo da telespectadora. Mas em entrevistas recentes, ele disse para o Collider:
“(…) ele está tentando proteger seu pessoal, mas ele não tem mais um povo. Ele foi cortado, deixado de lado um pouco, então eu gostaria de explorar e ver o que ele faz, como um homem. Ele também pegou agora essa semente de sentimento real por Alina. Ele tem sentimentos, em sua busca pela paz e poder, e eu gostaria de ver o efeito disso nele. Essas são as áreas que estou mais interessado”.
Desde já, percebemos que Barnes traz consigo uma visão pessoal de quem é o General Kirigan, o Darkling, suas motivações e reais sentimentos. Leitores dos livros podem sentir uma diferença, mas estamos apenas repassando informações diretas do ator. Lembrando que ele é o mesmo homem que criou a Dobra, e os Volcra (pessoas pegas durante a conjuração e transformadas em monstros). Contudo, a relação Alina e Kirigan foi tão intensa, que Jessie Mei Li informou para a Harper’s Bazaar:
“(…) seria interessante ver esse outro lado dela que temos um vislumbre— o lado que é seduzido por seu poder e a possibilidade de uma vida com Kirigan. Eu daria qualquer coisa por essa oportunidade, e não sei, talvez um pouco má. Por que não?”
É apenas de se esperar que o fim da temporada não decrete o final da relação entre o Conjurador das Sombras e a Conjuradora do Sol.
Esperanças para Sombra e Ossos
O desejo que fica em quem assiste é o de renovação. Os planos são para seis temporadas – temos, porém, sete livros. Uma trilogia focada em Alina Starkov, uma duologia focada nos Corvos, e outros dois que não vamos brincar com spoilers mas são chamados “King of Scars” e “Rule of Wolves”.
No entanto, com o sucesso que a série anda fazendo, não será difícil conseguir ao menos a história de Alina contada do começo ao fim, e quem sabe, um encaixe com o mundo dos Corvos. Sendo o único ponto contra, o custo da produção. Não se trata de uma aventura barata: a Netflix investiu pesado em figurinos, coreografias, efeitos especiais e localizações.
Leia os livros, assista a série, e permita que o Universo te envolva. Talvez nem todos os personagens vão agradar todo mundo, mas alguma química vai te pegar. Algum duo, trio, amizade, romance. Essa é a verdadeira mágica do universo de Sombra e Ossos: seus personagens e a dedicação com a qual atores andam aplicando em todos eles. É uma série diversa, repleta de um elenco não-branco, com personagens LGBTQIA+, e suas histórias estão apenas começando!
Sejam bem-vindos e bem-vindas ao mundo de Leigh Bardugo. Agarrem seus livros, assistam a série, e deixem que essa fantasia de alto nível te leve para longe do mundo real.
Edição e revisão por Isabelle Simões.