Apesar de sua descrição mágica e deslumbrante, os feéricos compartilham semelhanças surpreendentes com os humanos em Corte de Espinhos e Rosas, uma série best-seller de Sarah J. Maas, onde as emoções superam as características físicas.
A história começa com Feyre Archeron, a protagonista dos três primeiros livros, cuja jornada abrange tanto crescimento interior quanto exterior. Ela abdica de sua vida humana para salvar sua família, seu povo e a si mesma, revelando coragem e gentileza ao enfrentar desafios.
No entanto, sua irmã mais velha, Nestha, não compartilha essas qualidades. No quarto volume, Corte de Chamas Prateadas, ela é vista como irritante, orgulhosa, difícil de perdoar, parecendo mesquinha.
A perspectiva muda quando exploramos o ponto de vista de Nestha. Ela é uma personagem complexa, merecedora de sua própria história. Compreendendo suas experiências, podemos vislumbrar a possibilidade de sua transformação, cura e aprendizado com os erros do passado.
A infância problemática de Nestha Archeron em Corte de Chamas Prateadas
Para começar, é fundamental analisar a trajetória da personagem desde a juventude. Como primogênita entre três irmãs, ela cresceu em uma família privilegiada com um pai envolvido no comércio de temperos.
Sua mãe, focada nas aparências perante outras famílias nobres, favoreceu Nestha, usando-a para alcançar suas próprias ambições. Isso transformou Nestha em um projeto para ascensão social desde tenra idade, distorcendo seus dons criativos.
Aos 12 anos, ela já considerava pretendentes para um casamento vantajoso. Sua irmã mais nova, Elain, também era peça-chave nos planos da mãe no mundo aristocrático.
Quando a mãe contraiu a doença do Tifo e faleceu, Nestha ficou devastada, perdendo a pessoa que a transformara em uma espécie de rainha sem coroa. Agora, se via como uma lâmina afiada abandonada no mundo. A negação durou tanto que o luto a consumiu, culminando no momento fatídico em que seu pai perdeu toda a fortuna da família.
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Os tempos difíceis
Ainda jovem, a personagem viu seu pai arruinado financeiramente, investindo todo o dinheiro em um empreendimento comercial marítimo e perdendo as embarcações. Ele ficou em dívida e ferido no joelho devido a agressões de credores, o que o deixou paralisado.
Além da perda da mãe, enfrentou a iminência da pobreza nos oito anos seguintes. A família se mudou de uma mansão para um pequeno chalé na floresta. Sem recursos e com o pai incapaz, Nestha e Elain contaram com Feyre para evitar a fome.
Apesar de ser a mais velha, Nestha não caçava no lugar de sua irmã mais nova. Guardava raiva contra o pai e acreditava que ele deveria prover mesmo em condições desesperadoras.
Movida por orgulho inflexível, permaneceu no chalé, gastando o pouco dinheiro em futilidades e concentrando-se em Elain, a única que a compreendia naquele momento.
Meses após a partida de Feyre, os navios que continham o dinheiro de seu pai foram misteriosamente recuperados, sugerindo um mistério que despertou suspeitas em Nestha.
Imune ao encantamento de seu captor, ela ousou investigar a verdade por trás desses eventos, aventurando-se na fronteira entre as duas terras em busca de respostas.
Feyre, ao tomar conhecimento das ações de Nestha, passou a enxergá-la de forma diferente, revelando sua compaixão e determinação ocultas por muito tempo.
De Humana a Feérica
Inicialmente, o relacionamento entre as irmãs e a família poderia ter melhorado após o gesto de Nestha. No entanto, a paz é interrompida quando surge uma ameaça de guerra contra Hybern, um reino cruel a oeste de Prythian.
Traídas por Tamlin, ex-companheiro tóxico de Feyre e governante da Corte Primaveril, Nestha e Elain são forçadas a entrar no Caldeirão, um artefato mágico que cria o mundo feérico.
Ao emergirem transformadas, ganham novos dons: Elain tem a clarividência, enquanto Nestha obtém um poder sombrio e aterrorizante. Esse evento enfurece Nestha a ponto de jurar vingança ao Rei de Hybern e ao próprio caldeirão:
Guerra e morte do pai
Após muitos desafios, a guerra finalmente chegou, e as três irmãs, agora feéricas, voltaram a viver juntas na Corte Noturna.
Acompanhando de perto os combates, Nestha usou seu poder aterrorizante para cumprir sua promessa de matar o Rei de Hybern, desencadeando-o após a morte de seu pai.
Embora tivesse pouco relacionamento com ele, a morte de seu pai a afetou profundamente. Ele viajou até o continente em busca de aliados para a guerra, contribuindo com três navios e um acordo vantajoso. Suas últimas palavras a devastaram.
Ao ouvir a frase, a personagem afundou em tristeza e depressão. No ano seguinte à Guerra, ela remoía os eventos, carregando o peso de ter sido submetida ao Caldeirão e a culpa por não salvar o pai ou sustentar a família no chalé.
A sensação insuportável de ter sido submetida ao Caldeirão, aliada à culpa por não ter conseguido salvar o pai e por não ter se esforçado mais para sustentar a família enquanto viviam no chalé, assentaram-se pesadamente sobre seus ombros.
Diferentemente das irmãs, que pareciam superar o passado, Nestha se deteriorava, usando bebida, jogos de azar e sexo como fugas.
Cassian: o guerreiro mais poderoso da história de Sarah J. Maas
O comportamento autodestrutivo de Nestha persistiu desde a infância até os 24 anos, levando-a a frequentar tavernas todas as noites e viver no pior bairro da cidade, sem perspectiva de futuro. Sua personalidade moldada pela mãe, somada aos eventos recentes, a afastou da maioria das pessoas que tentaram ajudá-la.
Feyre, agora governante da Corte Noturna com seu parceiro Rhysand, ficou insatisfeita com a atitude de Nestha. Esta recusava todos os trabalhos e usava a fortuna deles para autodestruição.
Para resolver a situação, Feyre e seu Círculo Íntimo ofereceram a Nestha duas opções: viver sozinha nas terras humanas ou mudar-se para a Casa do Vento, onde treinaria com Cassian pela manhã e trabalharia na biblioteca à tarde.
Cassian, conhecido como o guerreiro mais poderoso e general dos exércitos de Rhysand, era o único capaz de lidar com Nestha. Sua origem humilde e coração nobre o impulsionaram a resgatá-la do comportamento autodestrutivo.
Conhecendo-a desde que era humana, Cassian sempre se sentiu atraído por Nestha. Embora ela se afastasse, ele a salvou durante a guerra, provando o contrário de sua atitude.
A jornada de cura e o amor que trouxe esperança
A princípio, a tarefa de Cassian parecia impossível, mas como um guerreiro paciente e apaixonado por Nestha, ele persistiu.
Cassian enfrentou todas as provocações e insultos de Nestha, sabendo que suas ações eram motivadas por diversos fatores. Ele estava determinado a mostrar a ela um caminho para a cura.
No fundo, Nestha também tinha sentimentos por Cassian, embora relutasse em admiti-los. Ele representava tudo o que ela acreditava que nunca poderia ser: alguém gentil e altruísta.
Enquanto compartilhavam a Casa do Vento, a jornada de cura de Nestha se estendeu por meses, com treinos matinais e trabalho na biblioteca. No entanto, sua raiva consigo mesma ainda a atormentava. A cada sinal de progresso, ela recuava, desanimando ambos.
A situação eventualmente se tornou insustentável, e Nestha precisou deixar a cidade. Cassian a acompanhou até as montanhas além do território da Corte Noturna, onde ela finalmente se entregou ao remorso.
A personagem admitiu suas angústias, a vontade de desistir da vida, e Cassian ouviu atentamente, enxugando suas lágrimas. Ele, que também enfrentou seus próprios demônios, foi fundamental para mostrar a Nestha que, independentemente dos arrependimentos do passado, todos merecem amor, felicidade e perdão.
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Gwyn e Emerie: sua família escolhida
Nos livros da autora, uma característica marcante é a trope “Found Family“, em que encontramos nossa própria família, independentemente dos laços sanguíneos.
Além do amor de Cassian, Nestha construiu amizades especiais com Gwyn e Emerie. Apesar de vivências diferentes, as três têm um relacionamento baseado na compreensão e no desejo comum de superar o medo.
Gwyn e Emerie, vítimas de experiências traumáticas, abraçaram as dores de Nestha como se fossem suas. Em vez de fugirem, se apegaram ainda mais quando souberam de sua história.
Em pouco tempo, essas três amigas se tornaram inseparáveis, compartilhando interesses em leitura e música, além de uma incrível determinação. Essa força as levou a retomar o treinamento de guerreiras de elite, algo há muito esquecido.
As Valquírias em Corte de Chamas Prateadas
Nestha convenceu Emerie e Gwyn a treinar todas as manhãs para se defenderem quando necessário. Após algumas semanas de exercícios básicos, Gwyn propôs que aprendessem as técnicas das Valquírias, guerreiras habilidosas, mas extintas há mais de meio século. Elas adotaram essas técnicas e receberam o título de Valquírias Renascidas.
Além das habilidades de luta, aprenderam o Silenciamento Mental, que foca no trabalho da mente. Para curar feridas psicológicas e lidar com pensamentos corrosivos, Nestha usou o Silenciamento, às vezes com Emerie e Gwyn. Os resultados do treinamento físico e mental mostraram que podiam superar o medo e desafios.
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Continue estendendo a mão
O desfecho da jornada de Nestha é o mais significativo, pois ela decide abrir mão de seu poder para salvar a vida de Feyre durante o parto do primeiro filho.
Abdicando das chamas prateadas em seu interior, capazes de controlar mundos e forjar objetos mágicos, ela salva a irmã que a havia salvado diversas vezes.
Elain, que sempre soube que Nestha sairia da jaula em que estava trancada, também a perdoa. Com esse ato, Nestha cura o relacionamento com as irmãs.
Apesar de ser uma obra de ficção, a maior lição que Nestha Archeron deixa aos leitores é profundamente humana: quando perdemos algo ou alguém, é natural desejar que os outros compartilhem desse sentimento.
A personagem de Sarah J. Maas enfrentou a perda dos pais, a perda de sua humanidade e esteve à beira da morte. No entanto, graças às mãos estendidas em sua direção e à fagulha de esperança ao seu alcance, ela se reergueu. Encarou todas as adversidades que ameaçavam destruí-la e emergiu com a cabeça erguida.
A verdadeira chama que Nestha carregava não era aquela derivada de seu poder, mas sim a chama da escolha de viver, intensa e inapagável.
