[MÚSICA/LISTA] Melhores álbuns feitos por mulheres lançados no ano de 2017

[MÚSICA/LISTA] Melhores álbuns feitos por mulheres lançados no ano de 2017

2017 foi um ano inesquecível para as produções artísticas feitas por mulheres. Ao longo dessa semana iremos relembrar alguns dos melhores lançamentos do ano.

Dessa vez fizemos uma lista indicando alguns dos melhores álbuns lançados em 2017 (nacionais e internacionais) realizados por mulheres. Confira!

Ash, de Lisa-Kaindé e Naomi Diaz 

 Melhores álbuns lançados

O álbum Ash (2017), é o segundo trabalho da dupla franco-cubana formada pelas irmãs gêmeas Lisa-Kaindé e Naomi Diaz. Ele dá continuidade à sonoridade afrofuturista apresentada pela dupla. Ampliando o gênero que elas batizaram de “negro spirituals” em seu primeiro álbum “Ibeyi” (2015).

Dessa vez, além de mesclar as batidas eletrônicas com elementos da cultura Iorubá e Santeria, elas também apostam em elementos mais pop em canções como “Away Away“, “Me Voy” e “I Wanna Be Like You“. E também mais poéticos, como na faixa de abertura “I Carried This For years”, em que se libertam do luto pela morte de seus entes queridos.

Sem deixar de lado o feminismo e a denúncia do racismo, narrados nas canções “No Man Is Big Enough for My Arms“, em que a dupla usa trechos de um discurso de Michelle Obama respondendo a um candidato acusado de assédio: “A medida de qualquer sociedade é como ela trata suas mulheres e meninas”. E em “Deathless“, em que Lisa-Kaindé narra um episódio de sua adolescência, quando foi presa aos 16 anos na França, suspeita de ser usuária de drogas ou traficante. Ash é um trabalho carregado de força, espiritualidade e questões contemporâneas, que se une com trechos mais íntimos das irmãs, resultando em um álbum carregado de significado e essencial na produção musical dos últimos anos.

Rimas & Melodias 

 Melhores álbuns lançados

Rimas & Melodias é o álbum de estreia do coletivo homônimo formado por cantoras, MCs e uma DJ. São elas Alt Niss, Tatiana Bispo, Drik Barbosa, Tássia Reis, Karol de Souza, Stefanie e Mayra Maldjian.

O grupo, bem como o nome diz, procura aliar as rimas do rap com as melodias do R&B, sem deixar ritmos como o trap e o funk de lado, e propicia o encontro criativo dessas mulheres que também mantém projetos solos. O disco se mostra uma arma de luta e resistência para mulheres, principalmente mulheres negras, com letras fortes e assertivas, versando sobre a negritude e as dificuldades já enfrentadas pelas artistas dentro e fora do mundo do rap. É interessante notar que a musicalidade do álbum é muito bem costurada, com faixas que nos trazem vários ritmos, mas sem deixar de fazer sentido no conjunto da obra.

O álbum foi gravado no Red Bull Station, dirigido por DIA, produzindo também em conjunto com Grou (a dupla produziu o álbum Outra Esfera da rapper Tássia Reis), além de contar com os produtores Deryck Cabrera e Nauak e direção vocal de D’Cazz. A produção executiva foi de Mayra Maldjian, junto com Julia Dejesus.

L.A. WITCH, de L.A. WITCH 

 Melhores álbuns lançados

Desde as décadas de 1940 e 1950, com destaque para os grupos de soul, doo-wop e surf music, a Califórnia apresenta-se como um berço de genialidade artística e musical. Na última década, o cenário californiano tem trazido boas surpresas nos âmbitos do garage e do surf punkWavves, FIDLAR, together PANGEA, The Growlers e Shannon And The Clams são alguns exemplos.

Em 2017, a banda L.A. WITCH reforça essa lista com seu disco de estreia, homônimo. Em nove faixas, L.A. WITCH passa um ar sexy, misterioso e sofisticado, não deixando de ser também um álbum divertido e dançante em alguns momentos. Formado por Sade Sanchez (voz, guitarra), Irita Pai (baixo, órgão) e Ellie English (bateria), o trio mescla garage punk, rock psicodélico e dream pop e tem influências de Buzzcocks e Gun Club.

Um corpo no mundo, de Luedji Luna 

 Melhores álbuns lançados

Um corpo no mundo é um presente que Luedji Luna entregou ao público este ano por meio não apenas do próprio corpo, mas também da voz, intelecto e uma estética – sonora e visual – marcante. Com força e delicadeza, todos os mencionados elementos se amarram e contam uma história. Ao longo de 11 faixas, o trabalho traz reflexões que investigam e evidenciam experiências que permeiam a identidade diaspórica de negros brasileiros ou que vivem no Brasil. Como define a própria artista, a obra é carregada de “saudade ancestral”.

Travessias, andanças, buscas, água, amor, não-pertencimento e coragem: o caldeirão de Luedji é recheado de referências, parcerias e sentimentos que ora emocionam, ora fazem dançar – e em todos os momentos, fazem pensar. Radicada em São Paulo, Luedji é nascida em Salvador e traz novas nuances não apenas para a capital baiana e nos modos de representá-la, mas também para a música da Bahia. Não é a toa que levou o Prêmio Caymmi de Música deste ano, tendo sido escolhida a artista revelação na categoria show, e foi contemplada com o Prêmio Afro 2017.

Leia também:
[GAMES/LISTA] Cinco dos melhores jogos com protagonistas femininas de 2017
[ENTREVISTA] Lívia Cruz e Meire D’Origem: Um papo reto sobre misoginia, empoderamento e legado na cena do rap nacional
[MÚSICA] Mulheres Negras no Rock: Mahmundi e as Brasileiras!

Com influências de jazz, MPB e ritmos afrolatinos, a banda que acompanha Luedji é formada por Kato Change (guitarras), François Muleka (violão), Aniel Somellian (baixo), Rudson Daniel (percussão) e Sebastian Ntini (percussão – e também o responsável pela produção do disco). Além do Brasil, Congo, Cuba, Suécia e Quênia engrossam o caldo de misturas culturais que envolvem o trabalho da cantora e compositora. Recentemente, o site da Red Bull fez um “faixa a faixa” com a artista, onde é possível conhecer melhor cada uma das canções do álbum.

Blue Lips (Lady Wood Phase II), de Tove Lo 

 Melhores álbuns lançados

Continuação do projeto anterior, “Lady Wood” (2016), Tove Lo mostra novamente que não é uma “artista de uma música só” – referência ao sucesso de “Habits (Stay High)”, seu hit mais conhecido e integrante de seu primeiro trabalho, “Queen of The Clouds” (2014).

Trazendo batidas mais leves, porém seguindo com electropop, Blue Lips (2017) segue cantando sobre o social e relações de modo explícito. Esse é o diferencial da cantora: enquanto muitas buscam tratar assuntos como sexo, auto destruição, drogas e afins de forma velada, Tove Lo é o próprio holofote jogando luz em questões carregadas de tabu. Mais uma vez com a interessante proposta de dividir o álbum em capítulos, é aguardado mais um curta metragem derivado do projeto.

Além de ter lançado o que é considerado pela crítica seu melhor trabalho até então, pode-se dizer que Tove Lo é essencial para a representatividade da sexualidade feminina na música: mulheres transam, se masturbam, podem ser igualmente decididas e destrutivas – sem contar que desde 2014 a identidade visual de seu trabalho é uma vulva.

Letrux Em Noite de Climão, de Letrux 

 Melhores álbuns lançados

Letrux é uma artista que embora não estando à vontade, estamos muito confortáveis com ela. Mais escritora do que cantora, Letícia Novaes e sua noite de climão cheia de sintéticos é o grande destaque da produção musical feminina em 2017.

Produzido com auxílio de crowdfunding e por muitas vezes reduzido pela crítica como um álbum que fala apenas sobre o fim de seu relacionamento, Letrux Em Noite Climão é além-senso comum. Na noite dançamos com letras sobre expectativas, descobertas sexuais, paixões e abraçamos assuntos que muitas vezes procuramos evitar: quem nunca vivenciou a situação relatada em “Ninguém Perguntou Por Você“?

Fazendo jus ao Prêmio Multishow ganho e sucesso nacional, Letícia é dessas artistas que fazem com que desejemos ser amigas dela, para falar sobre essas coisas da vida, do amor, dos astros e de como é ser mulher nesse meio difícil que é produção musical – “eita ferro!”. Definitivamente, não deixe esse trabalho incrível passar batido na festinha.

Salva-Vidas EP, de GEO 

 Melhores álbuns lançados

Embora não seja um álbum, é indispensável que o EP da cantora santista GEO conste entre os melhores trabalhos femininos de 2017. Primeiro EP da cantora – que antes apresentava singles – Salva-Vidas traz letras tocantes e arranjos profundos, configurando uma nova proposta para o pop nacional, o chamado “pop triste”.

Tendo começado com covers, é agora que a cantora começa a expor seus sentimentos em forma de música – mesmo o considerando difícil até então. É impossível não se identificar com ao menos uma das cinco músicas que compõe o trabalho, principalmente porque embora o disco seja para ambos os gêneros, GEO diz fazer músicas para mulheres, pois é o público de quem sua verdade mais se aproxima.

Primeiro passo de um longo caminho de sucesso, Salva-Vidas é um convite para abraçar suas dores e ao mesmo tempo se apaixonar pelo trabalho da cantora.

Leia também:
[OPINIÃO] A cena underground atual está nas mãos das mulheres e os homens não conseguem admitir isso
[MÚSICA] Mulheres Negras no Rock: As Guitarristas!
[MUSICA] Ekena: “Nó” é renascimento e sororidade em forma de música

Capacity, de Big Thief

 Melhores álbuns lançados

A sensação de ouvir Capacity (2017), da banda Big Thief, se parece muito com a experiência de escutar histórias marcantes de familiares pela primeira vez depois de adulta, e assim se deparar com a profundidade do que sempre se conheceu. A maior parte das canções de fato remetem à trajetória inacreditável de Adrienne Lenker, compositora e cantora, que demonstra neste álbum afeito ao folk-rock um dom raro de envolver a ouvinte em narrativas muito particulares, como na faixa Mythological Beauty, dedicada ao relacionamento com sua mãe e a um acidente na infância.

A intimidade da obra é cortante e exige ser sentida, resultando em momentos de violência e de gravidade que se opõem à naturalidade da forma de cantar de Adrienne e à sonoridade suave, como em Watering e em Coma. A contemplação dessa violência está presente desde a primeira faixa do álbum (Não me faça de tola/Existe uma mulher dentro de mim/Existe uma dentro de você também/E ela nem sempre faz/Coisas belas), mas divide espaço com a constatação de que não é a única força que move a compositora. A melodia incisiva e distorcida da faixa título carrega essa ideia como um mantra, e o trabalho da banda torna fácil de acreditar nisso: Faça o que quiser comigo/Presa em seu cativeiro/Aprendendo capacidade/Porque fazer tudo de conta/É realmente suportar.

Esse movimento entre a violência e a capacidade, além de construir uma obra intensa e sincera, deixa espaço para que canções cheias de ternura se destaquem no disco, como a poética Mary e Black Diamonds, aprofundando a sensação de familiaridade que se desenvolve com a trajetória da compositora. O resultado é de um álbum brilhante e único no ano, profundamente envolvente e que reflete essa complexidade de sentidos em um som com ar de naturalidade.

Tell Me You Love Me, de Demi Lovato

Tell Me You Love Me é o sexto álbum de estúdio lançado pela cantora Demi Lovato. Nele podemos notar o grande amadurecimento musical dela, que atualmente está com 25 anos. Comparado com álbuns anteriores é bastante perceptível a mudança na sonoridade e nas composições.

Logo após o lançamento do álbum, Demi liberou no YouTube seu documentário “Simply Complicated”, onde fala sobre problemas enfrentados por ela até o fim de sua adolescência e começo da vida adulta, como o consumo de drogas, abuso do álcool e o distúrbio alimentar. Também é possível ver os bastidores da gravação, além de ser muito bacana ver o processo de criação, gravação e como ela trabalha.

Ouvir o álbum depois de assistir ao documentário é uma experiência bem interessante. A impressão que fica é que compreendemos melhor a nova fase da Demi Lovato, uma mulher madura e mais segura de si que reflete em Tell Me You Love Me.

Esse texto foi escrito em conjunto com indicações de Tânia SelesClaudine Zingler, Paula Holanda, Maíra Valério, Vivian FernandesMaria Luísa e Rafaela

Escrito por:

289 Textos

Site sobre cultura e entretenimento com foco em produções feitas e protagonizadas por mulheres.
Veja todos os textos
Follow Me :