Lançado em 16 de dezembro de 2021, Homem-Aranha: Sem volta para Casa, terceiro filme solo de Tom Holland como Homem-Aranha/Peter Parker, trouxe consigo muito humor, nostalgia, além de abrir espaço para uma nova fase da MCU, trazendo novas perspectivas para o multiverso dos próximos filmes e séries.
O filme tem seu início onde Homem Aranha: Longe de Casa (2019) acabou: com o exposed feito por Mysterio (Jake Gyllenhaal) anunciando para o mundo que Peter Parker (Tom Holland), aquele estudante comum, era o Homem-Aranha. A partir disso, o super-herói lida com o assédio moral da população, revoltada com a morte do Mysterio, além de enfrentar a perseguição escolar de colegas de classe e professores. Somando a isso, Peter é aprovado na faculdade e fica preocupado em arcar com os custos. Afinal, ainda que ele seja popular, não é rico.
Nas entrelinhas, Homem-Aranha: Sem volta para Casa traz mensagens essenciais: mostra como toda escolha sempre tem uma consequência, além dos recados para o público infantil, falando sobre a importância de usar o cinto de segurança e estudar matemática – essa última, em uma sacada sensacional.
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Peter como Peter
Assim que Peter tem noção do impacto que a sua exposição fez não só consigo, mas com quem lhe rondava – família, amigos, namorada -, ele busca alguma maneira de tentar reverter isso. Desse jeito, ele pede auxílio ao Dr. Estranho (Benedict Cumerbatch). Só que alguns problemas ocorrem no meio da intervenção do mago e, em vez de todos esquecerem que Peter era o Homem-Aranha, todos que conhecem o Peter Parker continuam sabendo quem ele é – inclusive de outros universos.
Desde o primeiro momento do filme, Peter reconhece que toda aquela situação ali é retorno das próprias atitudes. Então, o filme constrói a narrativa daquele jovem assumindo as próprias responsabilidades e tentando, ainda que não obtenha sucesso, reverter a situação. Desse modo, vemos a cada ato da obra, Peter amadurecendo, já que o peso de suas escolhas e o resultado de cada uma reflete sobre seu destino.
O processo de amadurecimento, inclusive, vai além da noção das consequências em relação às próprias atitudes. Diz respeito também a maneira em como ele absorve novos sentimentos – seja luto, decepção, medo – e com isso, abre espaço para a noção das escolhas e decisões que terá de lidar com os resultados que virão com isso. A audiência também verá que aquele Peter, inocente, bobo, brincalhão, também assumirá um perfil vingativo e raivoso, pois é consequência de sua mágoa. Logo, vão conhecendo o cenário de um Peter mais adulto.
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Se nos filmes do Aranha – solo ou com a participação do herói – isso parecia ser adiado. Aqui, foi feito de uma vez só. Ainda que, mesmo adultos, estejamos em um processo eterno de aprendizado com nossos atos, em Homem-Aranha: Sem volta para Casa esse processo ocorre durante o desenvolvimento do longa e consegue ser bem construído, já que é bem palpável e coerente à trajetória do protagonista; principalmente neste último filme.
Homem-Aranha: Sem volta para Casa, um novo olhar sobre os vilões
O feitiço fracassado de Dr. Estranho trouxe não só pessoas que conheciam o Peter, mas pessoas que também queriam destruí-lo: os vilões das franquias anteriores. Aqui, conta-se a fúria destes vilões. Além disso, houve espaço para uma possível redenção, em razão da empatia, simpatia e inocência desse Peter Parker. Portanto, com isso houve a premissa de fornecer uma segunda chance aos nossos já conhecidos e, surpreendentemente, queridos vilões. O público pode compreender um pouco das raízes maquiavélicas desses personagens.
Mesmo que em cada filme tenha sido construída uma trajetória de tais vilões, aqui conseguimos enxergar além. Eles não estavam esperando a oportunidade para serem maquiavélicos, pois houve uma profundidade em demonstrar que a maldade foi condicional e não intrínseca deles, como elemento da subjetividade.
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Cada um pôde ser trabalhado, mas Dr. Otto Octavius/Dr Octopus (Alfred Molina), de Homem-Aranha 2 (2004), e Norman Osborn/Duende Verde (Willem Dafoe), de Homem-Aranha (2002) conseguiram desenvolver essa premissa com uma profundidade e nostalgia que apenas seria possível com a presença desses atores. Se por um lado, Molina desenvolveu a empatia com os vilões e a compreensão com eles próprios, por outro lado, Dafoe foi desenvolveu um doloroso sentimento ambíguo de vingança e raiva, mas também da compreensão de que o Osborn estava muito perdido.
SPOILER: Plano de fundo nostálgico
Mas a verdade é que o carro-chefe do filme é a nostalgia!
Há quem possa dizer que o roteiro se escorou na nostalgia. Porém, a questão é que roteiro tem tanta informação que pode haver essa impressão. Contudo, a enxurrada de referências é deliciosamente bem aproveitada.
Além dos personagens vilanescos, os boatos eram reais: os três Peters são reais! Além do Peter Holland, temos o Peter Garfield (Andrew Garfield), de O Espetacular Homem Aranha (2012; 2014), e o Peter Maguire (Tobey Maguire), de Homem-Aranha (2002; 2004; 2007), que trazem um trio-aranha espetacular.
Contribuindo com elementos de cada qual com sua trajetória, eles colaboraram para o engrandecimento do Peter Holland, seja como pessoa, mas também herói. Os três tiveram uma química em cena fantástica, com Maguire maduro – assim como característico de seu personagem ser mais sério, mas também por ser o mais velho entre os três, como o Garfield sendo o mais doce (esse, inclusive, sendo o queridinho de todo o fandom assim que o filme saiu; finalmente, ele pode ter um roteiro que demonstrasse o melhor do Aranha do Garfield).
O que podemos esperar para os próximos filmes?
As expectativas para o multiverso são reais e já podem ser criadas. Com a cena pós-crédito desse terceiro filme, conferimos por quais caminhos que o Dr. Estranho passou enquanto viajava por outras dimensões. Ele não encontrou algumas de suas versões, como também encontrou as de Wanda.
Além disso, criamos altas expectativas pelo retorno de alguns antigos personagens – de outros universos e filmes –, afinal, foi um grande sucesso. E alguns detalhes disponíveis abrem margem para isso. Falando em multiverso, será que veremos Milles Morales, de Homem-Aranha: no Aranhaverso (2018), nos próximos filmes? É interessante, já que a premissa de Aranhaverso é, literalmente, conversar com o Homem-Aranha nas suas mais diversas versões.
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Homem-Aranha: Sem volta para Casa elabora cenas de ação bem orquestradas, tendo um roteiro convincente e efeitos satisfatórios, iniciando e encerrando ciclos dolorosos. Mesmo que o longa tenha quase 3 horas de duração, o entretenimento é garantido. A obra harmoniza ação e drama, com humor na medida certa. E o subtítulo não poderia ser mais coerente possível.