Disponível na Netflix, Workin’ Moms (ou Supermães) é uma série de comédia dramática canadense sobre – você adivinhou – mães que trabalham.
Kate, interpretada por Catherine Reitman, é uma workaholic, que luta para equilibrar seu papel de mãe com suas ambições profissionais. Anne (Dani Kind), Frankie (Juno Rinaldi) e Jenny (Jessalyn Wanlim), Sloane Mitchell (Enuka Okuma) são o grupo principal de amigas que se desenvolve em um grupo de mães liderado por Val Szalinsky (Sarah McVie).
Essas mulheres formam uma irmandade pouco convencional de pontos de vista. Como todo ambiente cheio de mães pressionadas pelas realidades distintas, as discordâncias existem. Mas, mesmo assim, o sentimento de irmandade prevalece.
Workin’ Moms: de mãe para mães
Workin’ Moms foi roteirizada e produzida – e de vez em quando dirigida – por Catherine Reitman. A atriz multitarefas – que também interpreta a protagonista da série, Kate Foster – fez tudo isso enquanto era recém mãe.
Desde o momento em que Reitman concebeu a série como uma mãe recém-nascida e depois a lançou com seu marido, Philip Sternberg, (que interpreta seu marido Nathan Foster) a história da personagem de Reitman foi profundamente pessoal. Ela era, dentro do próprio campo profissional, a realidade da personagem, o espelho. Literalmente a arte imitando a vida.
Com um elenco talentoso e roteiros perspicazes, Workin’ Moms é um verdadeiro retrato da vida de mães que conciliam a maternidade às outras esferas da vida – dentro e fora da bolha familiar. A série mergulha de cabeça na realidade das mães, mostrando sem filtros os altos e baixos que as mulheres enfrentam essa jornada.
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A obra retrata o conflito emocional que muitas mães enfrentam ao voltar ao trabalho após o nascimento de seus filhos, expondo as pressões sociais e as expectativas irreais que são impostas a elas. As personagens são complexas, cada um lidando com suas próprias inseguranças, desafios profissionais e conflitos familiares. Por outro lado, não vemos questões de classe como parte do enredo e temos como foco um grupo que, em geral, é bastante confortável em aspectos econômicos. No entanto, segue sendo um recorte relacionável em muitas esferas.
Workin’ Moms e a arte de tocar em “tópicos sensíveis”
Seios. Depressão. Amamentação. Fazer cocô no pós-parto. Fumar escondido, trocar leite por fórmula. Problemas dos filhos na escola, sexualidade, amizades tóxicas, afastamentos. Dores, traições. O caldeirão dos tópicos sensíveis é vasto e errar na receita é muito fácil. No entanto, a leveza com a qual Reitman conduz o roteiro faz com que qualquer pessoa se veja como as personagens. O recurso da linguagem descontraída é um trunfo da narrativa, e traz ainda mais familiaridade para a relação com o espectador.
Ainda que Supermães seja uma comédia, a série aborda temas sensíveis com uma delicadeza notável. Ela explora questões como a depressão pós-parto, a culpa materna, a pressão para ser perfeita em todas as áreas da vida e a falta de apoio social e emocional para as mães. Ao mesmo tempo, o roteiro habilmente entrelaça momentos hilários e situações cômicas, proporcionando um equilíbrio perfeito entre o riso e a reflexão.
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Para além da discussão de equilibrar os pratos da maternidade, a série discute quando isso não é possível. Como, na verdade, não há perfeição em nenhum campo e não tem problema. Mulheres, com ou sem filhos, falam coisas, tem tesão em coisas estranhas, riem umas com as outras.
Quando mães, a essa equação humana se somam as lutas contra depressão pós-parto e contra chefes que descreditam mulheres após a maternidade, além do malabarismo, com ou sem companheiros, para criar seus filhos. A estranheza com o novo corpo, ao sexo depois, com outro corpo.
Identidade e empoderamento na série Supermães
Workin Moms merece destaque pela abordagem honesta da maternidade moderna, e mais ainda: mostra quem são essas mães. Essas mulheres que seguem existindo mesmo depois dos filhos.
Kate, Anne, Frankie e Jenny apresentam diferentes perspectivas da maternidade, cada uma com suas próprias lutas e jornadas pessoais. A série é, em geral, um toque precioso de atenção não somente às personagens e suas lutas, mas a todas as mães que se procuram dentro da experiência da maternidade.
Supermães oferece uma representação positiva e empoderadora das mulheres, mostrando que é possível conciliar a maternidade com ambições profissionais e individuais e existir – com defeitos – fora do contexto da maternidade. Além do mais, mostra como é possível e importante a amizade entre as mulheres e como, muitas vezes, mesmo com pontos de vista distintos, mulheres são capazes de ser rede de apoio umas das outras.
O foco da série é a amizade entre mulheres
A amizade entre Kate Foster e Anne Carlson é uma das relações centrais e significativas da trama. As duas são melhores amigas e confidentes. Vale notar aqui que o romance se apresenta, existem pais e homens significativos nas vidas das duas. Mas, mesmo assim, a união entre elas é ainda mais importante e entra em foco diversas vezes, incluindo os contextos familiares de cada uma.
A conexão entre elas é construída com base em sua compreensão mútua e apoio incondicional. Elas se apoiam nas situações mais desafiadoras, compartilhando suas preocupações, alegrias e frustrações de maneira bastante crua. Através de suas conversas sinceras e momentos de apoio mútuo, elas encontram conforto e força para enfrentar os desafios diários.
Embora as duas tenham personalidades distintas, suas diferenças complementam uma à outra. Kate é mais impulsiva e enérgica, enquanto Anne é mais cautelosa e perfeccionista. Essas características criam um equilíbrio interessante na amizade, permitindo que elas se apoiem mutuamente e ofereçam perspectivas diferentes nas situações que enfrentam.
A amizade delas também é marcada por momentos divertidos e de camaradagem. Elas compartilham risadas, piadas internas e momentos de descontração, o que fortalece ainda mais o vínculo.
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No entanto, assim como em qualquer amizade, Kate e Anne também enfrentam desafios e conflitos. Elas têm diferenças de opinião e passam por situações que testam sua amizade. No entanto, o amor e o apoio mútuo sempre prevalecem, permitindo que elas superem os obstáculos e fortaleçam ainda mais a conexão.
A união de Kate e Anne retrata a importância das relações de apoio entre mulheres. Elas mostram que ter alguém com quem contar e compartilhar os altos e baixos da vida é fundamental, especialmente quando se trata da complexidade da maternidade. Essa amizade, em especial, é um elemento que acrescenta camadas emocionais e autenticidade à narrativa da série.
Ao combinar humor, sensibilidade e uma narrativa realista, fica quase impossível não se ver em alguma das histórias da série. Ainda que sejam mães, mulheres existem fora da caixa da maternidade. Supermães refresca a percepção de quem assiste e acolhe quem se relaciona.
Workin’ Moms é uma escolha valiosa, por mais leve que ela seja, justamente pela mescla habilidosa do hilário e o profundo. A narrativa sincera e envolvente proporciona uma experiência significativa ao público. Especialmente para quem é mãe.