Pagu: conheça a artista homenageada da 21ª edição da Flip

Pagu: conheça a artista homenageada da 21ª edição da Flip

A 21ª edição da Flip, Festa Literária Internacional de Paraty, vai homenagear Pagu, que foi jornalista, dramaturga, poeta, tradutora, cartunista e crítica cultural. Você já ouviu falar dela?

Pagu foi uma mulher à frente de seu tempo

Patrícia Rehder Galvão nasceu em 9 de junho de 1910, em São João da Boa Vista (SP). Atuou no movimento modernista e feminista e foi uma ativista contra o fascismo. Foi uma mulher muito à frente do seu tempo. Nos textos, é retratada com paixão e revolução.

Pagu é sinônimo de vanguarda. Ainda jovem, já era considerada uma mulher avançada para os padrões do início do século. Fumar na rua, usar roupas transparentes, cabelos curtos. Mesmo vindo de uma família conservadora, Patrícia já mostrava o seu lugar no mundo.

Pelo seu engajamento na luta ideológica e militância no comunismo, acabou se tornando a primeira mulher presa no Brasil, em Santos, litoral de São Paulo, no ano de 1931. Além de presa, sofreu tortura durante o governo de Getúlio Vargas. Foram mais de 20 prisões por perseguição política.

Não foi o suficiente para pará-la. Aliás, ela nunca parou. Pagu se destacou na imprensa, em publicações como Brás Jornal, Revista da Antropofagia, A vanguarda socialista, Suplemento Literário do Jornal Diário de São Paulo, A Tribuna, entre outras.

Pagu, anos 1920
Pagu, anos 1920 | Imagem: Reprodução

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Ainda na década de 30, ela lançou a obra Parque Industrial, sob pseudônimo Mara Lobo. O livro é considerado o primeiro romance proletário brasileiro. Seu desejo era escrever um livro revolucionário.

Ninguém havia ainda feito literatura desse gênero. Faria uma novela de propaganda que publicaria com pseudônimo, esperando que as coisas melhorassem. Não tinha nenhuma confiança nos meus dotes literários, mas como minha intenção não era nenhuma glória nesse sentido, comecei a trabalhar”, escreveu Pagu em Autobiografia precoce.

Capa de Parque Industrial, lançado pela Companhia das Letras
Capa de Parque Industrial, lançado pela Companhia das Letras

O livro aborda as consequências da industrialização brasileira no século 20 e, por isso, se tornou um retrato da época, assim como um manifesto. É uma denúncia das condições precárias enfrentadas pelas trabalhadoras da indústria têxtil paulistana, bem como toda a vivência pessoal da mulher proletária. Parque Industrial foi relançado pela Companhia das Letras e está disponível para venda.

Símbolo de luta e engajamento feminista

Fernanda Bastos e Milena Britto, curadoras da Flip, descrevem Pagu como múltipla e engajada, que veem na sua obra um símbolo da luta contra as desigualdades e a estigmatização da mulheres. Como emblema de força feminista e política, Pagu é inspiração para o ativismo, para a denúncia de injustiças, para a liberdade, para a produção literária e, especialmente, para a diversidade da mulher.

Pagu desenvolve uma paisagem em que são retratadas diversas mulheres brasileiras: operárias, mães, boêmias, artistas, as que aspiram à liberdade. É transformador olhar o presente por meio das lentes de Pagu.

O nome Pagu nos leva a lutas estéticas e políticas; nos alerta o quanto pode incomodar a coragem de uma mulher que enfrenta a força plena representada por instituições regulamentadoras de vida, de arte, de liberdades”, comentam as curadoras.

Fotos inéditas de Pagu
Fotos inéditas de Pagu descobertas em dossiê da polícia francesa revelado pela escritora Adriana Armony, que publicou a obra Pagu no metrô | Crédito: Globo

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Santos, litoral de São Paulo, também venera a figura de Pagu, onde morou e morreu. Na cidade há até um Centro de Cultura Patrícia Galvão. Além disso, pela sua importância histórica e cultural, a Universidade Santa Cecília criou o Centro de Estudos Pagu Unisanta, que mantém o site Viva Pagu, com diversas informações, fotos e textos dela.

Pagu
Imagem: Reprodução

Um peixe

Pagu

Um pedaço de trapo que fosse
Atirado numa estrada
Em que todos pisam
Um pouco de brisa
Uma gota de chuva
Uma lágrima
Um pedaço de livro
Uma letra ou um número
Um nada, pelo menos
Desesperadamente nada

A história do apelido Pagu

Por que Pagu – o apelido soa forte e é facílimo de memorizar, mas surgiu quase como a penicilina. O nome Pagu foi um erro do poeta modernista Raul Bopp, que dedicou à então Patrícia o poema “Coco de Pagu”, em 1928. O apelido foi inventado porque Bopp pensou que o nome da musa fosse Patrícia Goulart e, assim fez uma brincadeira com as primeiras sílabas do nome. Antes de Pagu, seu apelido era Zazá.

A Flip e suas curadoras

A Flip – Festa Literária Internacional de Paraty ocorre de 22 a 26 de novembro deste ano. É considerado um dos principais eventos literários do Brasil; as ruas de Paraty, Rio de Janeiro, são tomadas por pessoas interessadas em palestras, oficinas literárias, debates e diversas atividades culturais. Autores e artistas renomados também participam, não só do Brasil, mas de outros países também. E todo ano há um autor homenageado. Para saber mais, acesse: https://www.flip.org.br

A respeito das curadoras, Fernanda Bastos é jornalista gaúcha e editora de livros, e Milena Britto é professora da Universidade Federal da Bahia.

Colagem em destaque: Isabelle Simões para o Delirium Nerd.

Escrito por:

Sou jornalista, apaixonada por livros, séries e fotografia.
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