Não é difícil lembrar de filmes sobre solidão. Obras como Taxi Driver (1976) e Her (2014), apesar de contrastantes em conteúdo, capturam de forma precisa diversas facetas do isolamento e alienação na vida moderna.
Porém, a maioria desses títulos famosos têm em comum uma coisa: são todos protagonizados por homens. Esta recorrência contribui para estereótipos, sugerindo que a solidão é uma experiência exclusivamente masculina.
Consequentemente, a vivência feminina da solidão, embora presente no cinema, parece carecer da mesma atenção. Destacar essas narrativas é essencial, considerando as formas únicas como a experiência de gênero influencia como as mulheres enfrentam o isolamento, alienação e solidão.
1. Jeanne Dielman (1975)

O longa-metragem de Chantal Akerman, reconhecido como uma obra-prima do cinema feminista, retrata três dias na vida da viúva Jeanne Dielman (Delphine Seyrig).
Ao longo das mais de três horas de filme, testemunhamos sua rotina exaustiva, que inclui tarefas domésticas, prostituição para ganhar dinheiro extra e cuidados com o filho adolescente. Jeanne fala pouco, suas interações humanas são escassas e parecem rígidas e frias.
Embora ela não verbalize seu descontentamento com a solidão, é palpável para os espectadores, principalmente quando a vemos na maior parte do tempo em espaços fechados, rodeada de objetos, sozinha.
O filme está disponível na Filmicca.
Leia também >> Chantal Akerman, cinema e o estrondo do silêncio feminino
2. Os Renegados (1985)

Agnès Varda, conhecida por explorar a condição feminina em sua filmografia, faz o mesmo em Os Renegados. O filme conta a história de Mona Bergeron (Sandrine Bonnaire), que deixa sua vida em Paris para viajar sozinha pela França sem destino específico.
Leia também >> Sem Teto, Nem Lei: uma reflexão acerca da solidão feminina no pós-guerra
3. Boneca Inflável (2009)

Boneca Inflável poderia ser interpretado como um filme sobre a solidão masculina, começando com a vida solitária de Hideo (Itsuji Itao), que tem como única companhia uma boneca inflável chamada Nozomi (Bae Doona). A trama subverte essa expectativa ao dar vida a Nozomi, forçando-a a confrontar sua existência como humana.
Vale notar que a alienação de Nozomi não se deve simplesmente à sua singularidade, mas à sua desumanização como objeto sexual. Isso a impede de se relacionar com outras pessoas, incluindo Hideo, que deseja que ela volte a ser uma boneca. Sua solidão é marcada pela violência de gênero que ela enfrenta.
O filme do diretor Hirokazu Koreeda está disponível na Reserva Imovision.
Leia também >> “O Porco Espinho” e a busca por conexão em meio à solidão
4. Pariah (2011)

O filme de 2011, escrito e dirigido por Dee Rees, conta a história de uma jovem lésbica negra no Brooklyn.
Como o título do filme já ilustra, Alike (Adepero Oduye), a protagonista, sente uma sensação de isolamento devido à sua orientação sexual, fazendo com que ela se sinta uma pária entre sua família e colegas heterossexuais.
Ao lutar por suas amizades, Alike é enganada romanticamente e enfrenta rejeição em casa por sua mãe homofóbica. Para escapar da solidão e da opressão em casa, Mona escolhe lutar por sua liberdade.
Leia também >> Personagens que retratam a solidão em Nova York
5. Ode to Nothing (2018)

O filme filipino dirigido por Dwein Ruedas Baltazar explora a solidão de uma mulher de meia-idade de forma macabra e cômica.
A protagonista Sonya (Pokwang) trabalha na empresa de embalsamamento da família, preparando cadáveres para velórios. Sua vida solitária, sem romance ou amizades genuínas, é preenchida apenas pelo pai idoso e os cadáveres em casa, resultando numa verdadeira “ode ao nada”, repleta do vazio da existência e da morte.