No mundo de The Cosmic Wheel Sisterhood, mulheres das mais diversas espécies do universo são capazes de ascender, tornando-se bruxas, imortais e dotadas de um talento mágico.
A vidente Fortuna, consumida pela solidão de sua casa no meio do espaço após cumprir dois séculos de sua pena de mil anos de exílio, toma a decisão de desafiar as leis do mundo mágico. Ela realiza o ritual proibido de invocar um Behemoth para ajudá-la a escapar.
Disponível na Steam e desenvolvido pelo pequeno estúdio espanhol Deconstructeam, especializado em ficções interativas, e publicado pela Devolver Digital para PC e Nintendo Switch, o jogo não está acessível em português, apenas em inglês, francês, espanhol e japonês.
Aviso de conteúdo: o jogo contém menções a sexo, automutilação e suicídio. Nenhum desses temas será aprofundado nesta resenha.
Explorando as escolhas no jogo The Cosmic Wheel Sisterhood
O peso das decisões da jogadora no desenrolar da narrativa, que possui múltiplos desfechos, pode ser sentido nos primeiros minutos de jogo.
Ábramar, o behemoth invocado, sela um contrato com Fortuna. Para cada uma das energias mágicas – água, terra, ar e fogo – há um selo diferente, uma definição de algo que acontecerá no futuro.
Os três primeiros representam o que a protagonista conquistará em sua jornada, e o quarto, o preço do contrato. Para cada um deles, a jogadora possui três escolhas. No selo de fogo, decide se Fortuna vai pagar com sua imortalidade, com a existência de seu coven ou com a vida de sua pessoa mais amada.
Através do diálogo com Ábramar e diversas bruxas, a jogadora é convidada a um interessante processo de imersão na psique de uma bruxa imortal condenada de forma injusta e desproporcional, mas permitindo que crie sua própria interpretação de Fortuna.
Ela é vingativa, desejando a morte da responsável por seu exílio? Deseja poder ou amor? Acredita que bruxas devem ficar fora do caminho de mortais, se aproveitarem deles ou guiá-los?
Como a cartomancia influencia a narrativa do game
Enquanto as decisões feitas através do diálogo possam ter consequências imprevisíveis, The Cosmic Wheel Sisterhood apresenta uma segunda mecânica de escolhas inteiramente baseada em suas consequências: a cartomancia.
Separada de seu baralho de Tarot após sua condenação, Fortuna aprende a fabricar suas próprias cartas, utilizando combinações das quatro energias.
Com seu novo baralho, Fortuna pode realizar leituras do futuro de várias personagens, adquirindo cartas aleatoriamente, associando-as a uma das perguntas feitas pela consultante e escolhendo como interpretá-las.
Fortuna é conhecida pela precisão de suas previsões e nunca erra em suas leituras, dando à jogadora certo controle do destino das personagens que se submetem a esse ritual.
Energia e imaginação: o papel da jogadora na criação das cartas
O processo de criação das cartas é outro ponto forte do jogo. Esse modo confere grande liberdade criativa à jogadora, que pode escolher o fundo e posicionar diversos elementos nele, criando designs únicos, com seus próprios conjuntos de significados.
Cada carta é composta por um fundo, um elemento principal e um conjunto de detalhes. Cada um desses três elementos requer uma quantidade de uma única forma de energia ou uma combinação de duas ou mais.
A jogadora, portanto, recebe um pouco dessa energia ao firmar o acordo com Ábramar, e a principal forma de adquirir mais é através das leituras.
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A criação de cartas levou muitas pessoas a entenderem The Cosmic Wheel Sisterhood como um cozy game, um jogo relaxante e reconfortante para se jogar.
No entanto, é importante frisar que a narrativa e os temas do jogo o afastam dessa classificação. Em seus diálogos, ele explora os diferentes traumas das personagens e obriga a jogadora a tomar decisões difíceis e potencialmente dolorosas.
The Cosmic Wheel Sisterhood: uma história de relações
A trama central ocorre na residência onde Fortuna cumpre seu exílio.
O loop do jogo inclui conversas com Ábramar, criação de cartas e visitas de diversas pessoas: suas melhores amigas, sua mentora, a líder do coven, uma funcionária do escritório de arbitragem e bruxas em busca de orientação. É por meio dessas interações e das leituras de cartas que Fortuna consegue influenciar os eventos.
Com a morte da líder do coven e uma crise interna sobre os melhores rumos a seguir, Fortuna precisa se posicionar na eleição da nova líder, na qual suas duas melhores amigas, Jasmine e Dahlia, são candidatas.
Durante a corrida eleitoral, a jogadora deve equilibrar sua preferência entre os ideais políticos representados por cada uma dessas personagens com a própria relação de amizade que mantém com elas – além de considerar o preço que será pago a Ábramar pelo selo de fogo – para decidir qual caminho seguir.
Política e amizade: escolhas na eleição do coven
A narrativa, no entanto, vai além da política. Como seres imortais, as bruxas refletem sobre questões existenciais relacionadas à passagem do tempo e revisitam suas vidas anteriores como mortais.
Através de flashbacks, são explorados os vínculos de Fortuna com sua irmã, Patrice, e sua antiga melhor amiga. Patrice também ascendeu décadas após Fortuna, mas sua amiga viveu toda sua existência como mortal, falecendo séculos antes do período em que se passa a história.
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Além disso, destaca-se o papel de Fortuna no coven: como cartomante, diversas bruxas a procuram em busca de orientação.
Durante as leituras, as cartas são selecionadas aleatoriamente, cabendo à jogadora determinar o significado de cada uma delas. Diferentes opções são apresentadas com base nos elementos contidos na carta.
A jogadora pode escolher a interpretação que considerar mais adequada, mas também pode optar por um viés mais egoísta: cada opção de leitura proporciona uma combinação distinta de energia, permitindo escolher aquela que melhor atenda às suas próprias necessidades, relegando a consultante a um segundo plano.
Fechando a roda
The Cosmic Wheel Sisterhood apresenta uma combinação única de características. Estimula a criatividade por meio da criação de cartas, oferece uma narrativa com escolhas que têm consequências significativas e aborda temas emocionais profundos.
Ao mesclar esses elementos, corre o risco de afastar jogadores que não se identificam com algum deles. Contudo, o resultado é uma experiência envolvente, habitada por personagens cativantes.
As mecânicas permitem moldar o passado através dos flashbacks, o presente nos diálogos e o futuro com a cartomancia, evocando um sentimento de “e se?”. Isso incentiva a jogadora a repetir a história várias vezes para explorar as diferentes formas pelas quais ela pode se desenrolar.
