5 anos de “Wasteland, Baby!”: as canções apocalípticas de Hozier

5 anos de “Wasteland, Baby!”: as canções apocalípticas de Hozier

Há 5 anos, em 1º de março de 2019, o mundo recebeu Wasteland, Baby!, o segundo álbum de estúdio do cantor e compositor irlandês Hozier. O álbum apresenta uma profundidade e riqueza de referências para abordar e poetizar temas complexos como amor, religião, política e existencialismo, assim como em seu álbum de estreia, lançado em 2014.

Wasteland, Baby! inclui as músicas Nina Cried Power e Shrike, originalmente lançadas no EP de 2018, além de trazer duas faixas inéditas, NFWMB e Moment’s Silence (Common Tongue), que, infelizmente, não foram incluídas na versão final do álbum.

Em entrevista a Billboard, Hozier fala sobre a faixa-título:

“Todas as músicas carregavam, consciente ou inconscientemente, algum elemento de desgraça e tristeza que se aproximava […]

Quando ‘Wasteland, Baby!’ foi escrito, parecia resumir uma certa vibração em todo o álbum.”

A canção captura perfeitamente a essência de tudo, explorando o amor em meio ao medo do apocalipse e a busca por redenção. As letras sombrias são contrabalançadas por uma melodia que cria uma paisagem sonora que é ao mesmo tempo assombrosa e esperançosa, perfeita para sonhos ou pesadelos acordados.

O fim da vida, ou talvez de um ciclo, é abordado diretamente nos devaneios das canções, assim como a esperança de que algo novo está a caminho.

A paixão como apocalipse em Wasteland, Baby!

Arte promocional do álbum "Wasteland, Baby!"

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No álbum, Hozier mergulha principalmente em dois temas: o amor e o apocalipse. Essa dualidade entre o amor e a destruição cria uma forte tensão emocional que percorre toda a obra.

Faixas como Movement e Almost (Sweet Music) retratam o amor por uma perspectiva mais sensual e apaixonada, contando sobre uma profunda conexão física, emocional e até mesmo espiritual entre duas pessoas.

As letras exploram a relação entre o corpo e a alma com um teor muito sensual, enquanto a instrumentação das músicas envolve o ouvinte em uma atmosfera hipnótica e indescritível.

Por outro lado, o tema do apocalipse, por mais sutil que seja, está presente em várias faixas românticas. Nessas músicas, Hozier expõe seu medo do fim do mundo e sua ansiedade sobre o futuro da humanidade, descrevendo cenários apocalípticos de caos e destruição.

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Esses dois temas se entrelaçam e se complementam, pois Hozier vê o amor como uma “salvação” do apocalipse e o retrata como uma luz de esperança em meio à escuridão.

Aqui, temos vários dos seus cantos mais gentis e calmos, embora ele esteja literalmente cantando sobre a morte do planeta.

“All the fear and the fire of the end of the world / Happens each time a boy falls in love with a girl / Happens great, happens sweet

(Todo o medo e o fogo do fim do mundo/ Acontece cada vez que um garoto se apaixona por uma garota / Acontece grandiosamente, acontece docemente)”

— Wasteland, Baby!

Além disso, Hozier também aborda a ideia de redenção e renascimento através do amor, sugerindo que mesmo nos momentos mais sombrios, o amor pode nos transformar. Essa mensagem aparece em No Plan e reflete nosso desejo por um significado e conexão com algo maior e mais profundo, mesmo em um mundo caótico, incerto e muitas vezes superficial.

O hino de protesto de Hozier

Hozier em arte promocional do segundo álbum de estúdio

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Embora o apocalipse seja frequentemente visto como um evento espiritual, como na faixa Be, que contém diversas referências bíblicas, também pode ser interpretado como uma metáfora para as crises políticas e sociais que enfrentamos nos dias atuais, como as mudanças climáticas, a desigualdade econômica e os conflitos globais.

Nesse sentido, as músicas do álbum que exploram o apocalipse também podem ser vistas como comentários políticos sobre o estado do mundo e, de certa forma, como isso afeta nosso estado de espírito.

Desde seu primeiro álbum, Hozier utiliza a política, as catástrofes ambientais e sociais como inspiração para suas canções e uma forma de expressar sua visão e posicionamento político. Isso não é novidade para os ouvintes e fãs dos singles Take Me to Church e Cherry Wine do álbum debut do cantor, que abordam a homofobia e a violência doméstica.

Em Nina Cried Power, primeira faixa de Wasteland, Baby!, temos um hino de protesto e uma homenagem aos ícones da música que usaram sua voz para promover e ajudar em mudanças sociais para minorias, como Nina Simone e Billie Holiday.

“It’s not the song, it is the singing / It’s the heaven of the human spirit ringing / It is the bringing of the line / It is the bearing of the rhyme / It’s not the waking, it’s the rising (Não é a canção, é o cantar / É escutar o chamado do espírito humano / É a criação do verso / É a exposição da rima / Não é o despertar, é o levantar)”

— Nina Cried Power

Perdido na luz do Sol

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É difícil acreditar que haja outro artista tão emotivo, romântico e perspicaz quanto Hozier e suas canções cheias de referências e obras de arte que quase ninguém captura, mas ama escutar a respeito.

É difícil acreditar que haja outro artista tão emotivo, romântico e perspicaz quanto Hozier e suas canções cheias de referências e obras de arte que quase ninguém captura, mas ama escutar a respeito.

Encontramos tristeza, arrependimento e amor em Shrike, assim como há desejo em Talk, devastação e obsessão em Would That I e também saudade em As It Was. Isso tudo é um misto de emoções presentes no álbum, às vezes até contraditórios, mas que definem a concepção de Hozier sobre o que seria ou que já é o apocalipse.

Talvez o fim do mundo realmente seja se apaixonar por alguém, ou talvez exista essa outra ideia que beira ao absurdo de se apaixonar num mundo em ruínas a cada segundo. De qualquer maneira, parece que o amor e o apocalipse podem estar interligados não só em Wasterland, Baby!, mas na terra devastada que é o nosso mundo real, o nosso lar.

E ninguém poderia compor uma perspectiva dessa ideia de uma maneira tão bela, trágica e perfeita como Andrew Hozier Byrne, mesmo depois de 5 anos ou milhões de anos.

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Escritora, estudante de jornalismo e leitora voraz de fanfics. Assiste filmes, séries e shippa casais gays mais do que deveria. Parece fria e séria, mas já chorou escrevendo sobre Sherlock Holmes e John Watson na internet.
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