Javelin: os recortes e recomeços de Sufjan Stevens

Javelin: os recortes e recomeços de Sufjan Stevens

Conhecido por suas icônicas canções “Mystery Of Love” e “Fourth of July“, o cantor e compositor estadunidense Sufjan Stevens lança seu mais novo álbum de estúdio, Javelin. Neste álbum, Sufjan parte da estética — tanto visual quanto sonora — de recortes sobre sua vida pessoal e trabalho musical através de 10 faixas cativantes.

Explorando temas que têm sido recorrentes em seus álbuns anteriores, como o amor, a nostalgia, o luto, a solidão e a fé, Javelin pode ser interpretado como uma espécie de colagem que abraça todas as fases de sua carreira ao longo de 25 anos. O álbum incorpora uma ampla gama de elementos musicais, desde arranjos corais e orquestrais até momentos acústicos e até mesmo toques eletrônicos.

Desde o lançamento de The Ascension em 2020 e Carrie and Lowell em 2015, não tínhamos um álbum solo e tão pessoal de Sufjan Stevens. Em Javelin, ele não só exibe seu talento como multi-instrumentista, mas também prova ser um notável cantor, dando voz às suas reflexões mais íntimas.

Além de compor, produzir e tocar a maioria dos instrumentos no álbum, Stevens também é o responsável pelo trabalho gráfico, o que inclui a bela capa e um livro de 48 páginas repleto de colagens e ensaios.

Despedidas e recomeços de Sufjan Stevens

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Apesar de não falar muito sobre sua vida pessoal e amorosa publicamente, Sufjan Stevens revelou por meio de seu perfil no Tumblr que Javelin é dedicada a Evans Richardson IV, seu parceiro que faleceu em abril deste ano.

As faixas “Goodbye Evergreen” e “Genuflecting Ghost” nos conduzem por uma exploração artística da maneira como Sufjan enfrentou o luto, revelando seus medos e dores após essa tragédia, ao mesmo tempo em que lamenta a perda. Além disso, ele busca conforto na fé cristã, um tema frequentemente presente em suas composições.

“Este álbum é dedicado à luz da minha vida, meu querido parceiro e melhor amigo Evans Richardson, que faleceu em abril.

Ele era uma pessoa absolutamente preciosa, cheia de vida, amor, risos, curiosidade, integridade e alegria.

Ele era um daqueles raros e lindos que você encontra apenas uma vez na vida – precioso, impecável e absolutamente excepcional em todos os sentidos.”

No entanto, logo após a melodia melancólica e quase caótica de Goodbye Evergreen, somos conduzidos à faixa “A Running Start“, cujas letras exploram a magia e a experiência da primeira paixão. A música transmite uma sensação mais serena e romântica, marcando uma mudança significativa na atmosfera do álbum.

A alternância de tons e estilos musicais é uma constante ao longo da experiência, refletindo a escolha de incorporar diversos gêneros que Sufjan explorou ao longo de sua carreira em um único álbum.

Amores contemporâneos e solitários em Javelin

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Onde está o amor para aqueles que carregam um coração ardente e emocionado?

Em “Will Anybody Ever Love Me?“, o compositor canta sobre o desejo e a busca incessante por conexões significativas neste mundo. Ele explora o desespero causado por desilusões amorosas ao longo da vida e como isso pode ser belo, mas também sofrido se não for correspondido.

Num mundo de escassez, a canção ecoa para aqueles sedentos por conexão, romance e poesia, mas que não sabem exatamente onde, como e com quem procurar. Assim como é dito na letra da música, as estações passam, mas os corações continuam a arder de desejo, mesmo sem a certeza de que alguém, um dia, atenderá a esse chamado.

Essa profundidade emocional, que ressoa com tantas pessoas que já enfrentaram ou ainda enfrentam os desafios dos amores solitários, faz com que Javelin como um todo se torne uma experiência pessoal e impactante, tocando os sentimentos de muitos ouvintes.

Fé e sexualidade no novo álbum de Sufjan Stevens

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A fé cristã e a sexualidade de Sufjan Stevens têm sido temas recorrentes em sua carreira. A reconciliação entre sua espiritualidade e orientação sexual tem sido um percurso marcante em sua jornada artística e pessoal.

Em Javelin, o cantor continua a explorar essa dualidade, usando a música como um meio de expressão e cura. Ele abre seu coração, compartilhando suas dúvidas e anseios. Através da arte, Sufjan procura encontrar consolo no cristianismo e uma harmonia entre as duas partes de sua identidade, mesmo que boa parte das igrejas e da comunidade LGBTQIA+ veja isso como algo impossível.

O álbum não é apenas um reflexo de sua maestria musical, mas também de sua coragem em compartilhar experiências profundamente pessoais e humanas.

Até agora, em 2023, fomos agraciadas com diversos novos álbuns de artistas excepcionalmente talentosos. Entre eles estão Hozier, Mitski, Lana Del Rey, o grupo feminino de k-pop Le Sserafim e o trio boygenius composto por Phoebe Bridgers, Lucy Dacus e Julien Baker. Sufjan Stevens é, sem dúvida, um artista indispensável nesse talentoso conjunto.

“Seja gentil, seja forte, seja paciente, seja misericordioso, seja vigoroso, seja sábio e seja você mesmo.

Viva cada dia como se fosse o último, com plenitude e graça, com reverência e amor, com gratidão e alegria.

Este é o dia que o Senhor nos deu. Vamos aproveitar e nos alegrar com isso.”

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18 Textos

Escritora, estudante de jornalismo e leitora voraz de fanfics. Assiste filmes, séries e shippa casais gays mais do que deveria. Parece fria e séria, mas já chorou escrevendo sobre Sherlock Holmes e John Watson na internet.
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