O sentimento de medo e nojo em relação aos monstros é uma questão complexa que pode ser influenciada por diversos fatores, incluindo aspectos psicológicos, sociais e culturais. A figura de uma criatura não-humana é vista desde um clássico da literatura escrito por Mary Shelley até o cinema contemporâneo, com um filme dirigido por Guillermo Del Toro.
Muitas vezes colocados como antagonistas ou anti-heróis, os monstros são representados como minorias, sendo seres ignorados ou caçados e nunca dignos de amor. Ainda assim, há pessoas que conseguem e querem ser fiéis a eles.
“Tenho sido salvo e absolvido por eles, porque os monstros, acredito, são os santos padroeiros da nossa abençoada imperfeição. Eles permitem e incorporam a possibilidade de falhar”
— Guillermo Del Toro, 2018
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Guillermo Del Toro não é o único fascinado pela existência dos monstros. Nas últimas décadas, e até mesmo antes disso, surgiu uma comunidade dedicada a celebrar e criar histórias de amor envolvendo esses seres.
Conhecidos como “monster lovers“, essas pessoas, frequentemente mulheres, sentem atração romântica e sexual por monstros ou criaturas não-humanas em geral, consumindo histórias que, normalmente, incluem um monstro e uma mulher humana como protagonistas.
Desde livros eróticos sobre Shrek e Frankenstein até ilustrações com lobisomens e zumbis, a comunidade vem se expandindo sem hesitação em compartilhar suas fantasias sexuais com essas criaturas.
Para este mês macabro de outubro, apresentamos 7 filmes apreciados pela comunidade monster lover, onde monstros e mulheres se desenvolvem como um casal.
Amor monstruoso: 7 filmes que exploram relacionamentos entre monstros e mulheres
1. A Bela e a Fera (1991)

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Não poderíamos começar a lista de outra forma senão com este clássico da Disney, um dos pioneiros na representação de um relacionamento entre uma jovem mulher, Bela, e um príncipe amaldiçoado transformado em uma fera. A história procura transmitir uma lição sobre como o amor verdadeiro pode quebrar maldições e transformar a percepção de vida e do mundo tanto para seres humanos quanto para as feras.
Sendo um filme infantil da Disney, é claro que, no final, a fera se transforma em um príncipe encantado humano. No entanto, o restante da lista apresenta obras que exploram abordagens diferentes. Usando novamente as palavras de Guillermo Del Toro:
“A fera não precisa se transformar para ser amada. Ele não precisa se transformar em um príncipe chato para ser amado. Ou renunciar à essência de quem é. Para mim, amor não é transformação, amor é aceitação e compreensão.”
2. A Forma da Água (2017)
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Falando em Guillermo Del Toro, neste filme dirigido por ele, temos a história de amor entre Elisa (Sally Hawkins), uma zeladora muda, e uma misteriosa criatura marinha mantida em um laboratório de alta segurança. A obra mergulha profundamente em temas como conexão, empatia, aceitação, amizade, tudo isso com uma trilha sonora fascinante e o cenário da Guerra Fria.
Ao longo da narrativa, o longa explora como a beleza pode ser encontrada na diferença e na aceitação, além de questionar o que é verdadeiramente monstruoso em um mundo cheio de preconceitos e crueldade. A Forma da Água foi aclamado pela crítica e ganhou quatro Oscars em 2018, incluindo Melhor Filme e Melhor Diretor para Del Toro.
3. Possessão (1981)

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A obra de Andrzej Żuławski é um thriller psicológico sombrio que explora as complexidades do relacionamento disfuncional entre Anna (Isabelle Adjani), seu marido (Sam Neill) e uma criatura sobrenatural.
Conforme o casamento deles começa a desmoronar, é revelado que Anna está envolvida em um relacionamento erótico com uma entidade misteriosa e amorfa. A criatura habita um apartamento secreto, revelando-se como uma manifestação dos medos e desejos reprimidos da protagonista.
4. A Região Selvagem (2016)
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O filme de 2016, dirigido pelo cineasta mexicano Amat Escalante, é uma obra que combina elementos de drama, horror e ficção científica. No centro da narrativa, temos o relacionamento entre as protagonistas Alejandra (Ruth Ramos) e Verónica (Simone Bucio) e uma entidade alienígena misteriosa.
O monstro reside em uma cabana remota de um casal nos arredores da cidade e possui a capacidade de fornecer um prazer sexual nunca sentido antes por qualquer mulher da Terra. Porém, o preço por essa satisfação é alto, pois o monstro também apresenta um perigo terrível em outras condições.
O filme aborda o desejo, a sexualidade reprimida e a natureza obscura do ser humano.
5. Amor Debaixo D’água (2011)
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Underwater Love é um filme japonês dirigido por Shinji Imaoka, que mescla elementos de comédia, drama e fantasia. A história gira em torno do relacionamento entre Asuka Kawaguchi (Sawa Masaki), uma jovem noiva que leva uma vida monótona trabalhando em uma fábrica de peixes, e uma criatura mágica chamada Aoki (Yoshirô Umezawa).
À medida que o amor entre Asuka e Aoki se desenvolve, o longa aborda temas como aceitação, liberdade e a busca por algo mais significativo na vida. Além disso, a história se desenrola em um ambiente aquático que acrescenta uma atmosfera única e mágica à narrativa. Underwater Love é uma jornada emocional visualmente cativante, com momentos de humor genuínos.
6. Edward Mãos de Tesoura (1990)

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Neste clássico da Sessão da Tarde dirigido por Tim Burton, a história gira em torno do relacionamento entre uma jovem chamada Kim (Winona Ryder) e Edward (Johnny Depp), uma criatura criada por um inventor que morreu antes de terminar seu trabalho, deixando Edward com mãos de tesoura afiadas ao invés de mãos humanas.
O relacionamento entre Kim e Edward é uma parte fundamental da narrativa. Devido à sua aparência, Edward é tratado com desconfiança e medo pelos moradores da cidade, mas Kim vê além de sua aparência assustadora e se aproxima dele. Ela o acolhe, o ensina sobre o mundo e eles desenvolvem um laço especial.
7. Meu Namorado é um Zumbi (2013)
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Em uma era pós-apocalíptica, a ameaça dos zumbis é um tema bem conhecido no cinema. R (Nicholas Hoult) é um zumbi que possui um grau de consciência e memória de sua vida anterior. Enquanto vagueia em busca de comida, sua existência monótona sofre uma reviravolta quando ele encontra Julie (Teresa Palmer), uma jovem humana sobrevivente.
À medida que a relação entre R e Julie se aprofunda, um amor improvável floresce. Esse relacionamento levanta questões, com doses de comédia, sobre o que realmente significa ser humano em um mundo à beira da extinção.
Monstros são um reflexo do nosso eu?
Monstros frequentemente representam aspectos simbólicos profundos, como o desconhecido, o proibido, a rebeldia, o isolamento, a exclusão e a falta de amor. Algumas pessoas podem se sentir atraídas pelo simbolismo por trás dessas representações, encontrando uma expressão de suas próprias fantasias, desejos ou de si mesmas.