[LIVROS] Magia dos Quatro: Sobre os clichês recorrentes do gênero young adult

[LIVROS] Magia dos Quatro: Sobre os clichês recorrentes do gênero young adult

Procuramos, o máximo possível, apoiar os trabalhos de nossos autores(a) nacionais, e tal procura aumenta ainda mais quando o dito autor faz parte de uma minoria. A autora de Magia dos Quatro, de Priscila Visacri, se encaixa nesse fator minoritário, visto que é mulher, e seu livro de estreia é um dos lançamentos de fantasia do ano do Grupo Arwen. Apesar de termos iniciado a leitura com muitas expectativas, em poucas páginas notamos que aquilo proposto pela autora não é uma quebra de clichês, mas uma representação (aproximadamente) nacional dos mesmos.

Sinopse:

Sonhos premonitórios, uma amiga misteriosa, uma viagem no tempo e um mundo paralelo. É este o cenário da vida de Sarah quando ela descobre que é uma princesa de um reino chamado Calien e que fora enviada ainda bebê para a Terra através de uma magia muito antiga para que pudesse se manter salva da guerra que o mal e as trevas travavam em seu reino.

Agora ela precisa regressar à suas origens e aprender a dominar a magia dos quatro elementos para proteger a si, aos seus amigos e a um reino inteiro. Magia dos quatro: a oportunidade única de vivenciar momentos de aventura e emoção na busca de acabar de vez com um conflito mortal através do uso das forças vitais da natureza.

Magia dos Quatro

Quanto aos personagens:

Já começamos a resenha adiantando que se busca um livro com uma diversidade que vá além da fantástica, isto é, com animais folclóricos e criaturas místicas, este não é o livro para você. Apesar de ter uma rica variedade de personagens que fazem partes das categorias citadas, como magos e um silfo, não existe, ao longo das 279 páginas de Magia dos Quatro, nenhum personagem é LGBT+ ou pertencente a outro grupo étnico-racial que não o branco.

Já deveria ser de praxe, e já falamos sobre o assunto em outros textos e resenhas, que as obras procurem incluir personagens que não fazem parte do default (leia-se padrão hétero branco normativo) em seus enredos, e não podemos deixar tal falha passar em branco.

Quanto ao enredo:

Como mostrado na sinopse, trata-se basicamente da história de uma menina que não sabia que tinha os poderes necessários para salvar sua terra natal, nem sequer que não fazia parte do lugar em que foi criada. É interessante observar tal enredo em comparação com o que é dito sobre a autora na orelha do verso do livro, especialmente em relação a parte que a mesma diz ser fã de Harry Potter.

Magia dos Quatro

Por quê? Bom, pois a história de Magia dos Quatro é praticamente a de Harry Potter, só que com um fator nacional. Sarah, assim como Harry, foi criada (sem saber) longe de sua terra natal e sem saber a verdade sobre sua verdadeira natureza. Ao voltar para Calien, porém, ela descobre que faz parte de uma profecia e que detém todos os poderes necessários para salvar sua terra do grande vilão, sendo ela a escolhida.

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Magia dos Quatro traz todos os elementos típicos, e ousamos dizer que já se tornaram clichês presentes em histórias de fantasia infanto-juvenis. O fato de Sarah ser a escolhida, a profecia, os poderes, as criaturas fantásticas, além da escolha de desenvolvimento de enredo da autora não nos apresenta nada novo, sendo este apenas mais um livro de fantasia YA (Young Adult, ou infanto-juvenil, em tradução livre) entre milhares que apresentam as mesmas bases criativas e que, infelizmente, não produzem nada de inovador ao gênero.

Magia dos Quatro

Mesmo assim, talvez o livro consiga conquistar novos leitores. É claro que o que dissemos acima se baseia em anos de leitura das mais diversas YA, incluindo aqui as modas vampirescas e distópicas, de forma que talvez, de tanto lermos as mesmas características nos mesmos estejamos saturadas.

Magia dos Quatro, porém, tem o potencial de, apesar – ou talvez, em razão – de ser uma leitura simples e sem muitas descrições ou análises profundas da cronologia, dos personagens e dos motivos presentes na história, conquistar os leitores que não sejam muito recorrentes no gênero, ou que ainda estão em suas primeiras leituras e se apaixonando por esse universo que adoramos tanto.

A escrita e consequente leitura do livro é fácil. O mesmo não tem o objetivo de criar grandes enredos, nem mesmo de descrever grandes cenários, apostando primordialmente na imaginação do leitor para acompanhar e criar, em conjunto, o desenrolar da história.

Edição:

A edição de Magia dos Quatro vem em uma brochura, mas o que mais nos chama a atenção – visualmente falando – no livro, são as ilustrações referentes ao ponto em que a história e os capítulos se encontram. Apesar de serem poucas as ilustrações, não estando presentes em todos os capítulos, por exemplo, o uso e disposição das mesmas colaboram para o andamento do enredo e visualização dos personagens e situações.

Magia dos Quatro

Conclusão:

Apesar da falta de diversidade sexual e étnico-racial da história e também de inovação criativa do enredo, por ser uma obra de gênero infanto-juvenil e, portanto, direcionada a jovens leitores, a obra de Visacri tem possibilidade de conquistar novos leitores não apenas para o gênero, mas para o próprio ato de ler.

Não é uma leitura marcante, mas para um primeiro livro não é exatamente ruim. Esperamos que na sequência a autora melhore os aspectos que falamos acima, mas de qualquer fora é um passo para a maior representação feminina autoral no mercado literário!


Magia dos QuatroMagia dos Quatro

Autora: Priscila Visacri

Editora Arwen

355 páginas

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