Muitas vezes, as grandes mudanças acontecem aos poucos. É difícil fazer algo diferente do que se está acostumada/o a fazer. Há exatos 90 anos, a Academia de Artes e Ciências Cinematográficas, fundada nos Estados Unidos, entrega o que é considerado o mais importante prêmio do cinema mundial: o Oscar. Para as mulheres que trabalham com a sétima arte, o reconhecimento principal tem sido pelos projetos desenvolvidos pelas atrizes protagonistas e coadjuvantes. Todas as demais categorias são dominadas por homens. Isso não significa que as mulheres têm pouca capacidade ou que nunca conseguiram premiações em áreas diferentes porque não se interessam. O fato é que elas têm menos oportunidades.
Motivos? Quando uma mulher diz que quer ser diretora, diretora de fotografia, produtora ou roteirista, muitas vezes, recebe de volta aquele ar de incredulidade ou respostas do tipo: “Não, vá fazer outra coisa. Isso não é para mulheres”. Mas, quem diz isso? Normalmente homens que têm mais poder. Quando uma grande cineasta desponta, em geral, o caminho traçado por ela não é tão fácil como o de um homem. Como diz o lema do Instituto Geena Davis sobre Gênero na Mídia:
“Ela não pode ser o que ela não pode ver”.
Por isso, é importante visibilizar o trabalho de diretoras, produtoras, roteiristas e outras profissionais do cinema e do audiovisual, para que as meninas de hoje não desistam dos sonhos delas amanhã. Elas devem persistir, assim como a protagonista do longa, Lady Bird: a Hora de Voar, filme que recebeu cinco indicações ao Oscar, incluindo Melhor Filme e Melhor Diretora para Greta Gerwig. Além disso, Greta tornou-se a quinta mulher a concorrer ao prêmio nesta categoria.
A única mulher que venceu o prêmio de Melhor Direção, em 90 anos da premiação do Oscar, foi Kathryn Bigelow, em 2010, por Guerra ao Terror. Enquanto o filme de Greta Gerwig é sobre uma adolescente que vai atrás dos seus desejos, Kathryn dirigiu um filme sobre o olhar da guerra. Lady Bird também concorre nas categorias Melhor Roteiro Original (Greta Gerwig), Melhor Atriz (Saoirse Ronan) e melhor atriz coadjuvante (Laurie Metcalf). Nem precisamos dizer que Lady Bird já é nossa queridinha!
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Por outro lado, pela primeira vez na história da Academia, uma mulher concorre ao Oscar de Melhor Direção de Fotografia. Rachel Morrison pode levar o prêmio pelo seu trabalho no filme Mudbound: Lágrimas sobre o Mississippi, da diretora Dee Rees. Pelo mesmo trabalho, Rachel também foi a primeira mulher indicada ao prêmio da Sociedade Americana de Diretores/as de Fotografia e venceu a mesma categoria pelo New York Film Critics, o que pode significar um bom presságio para o Oscar. Rachel é ainda a diretora de fotografia do badalado e aguardado Pantera Negra, que estreia no início de fevereiro. Nós estamos na torcida por ela!
Dee Rees fez história!
Dee Rees também fez história ao ser a primeira mulher negra a concorrer a um Oscar por Roteiro Adaptado, apesar de não ter conseguido ser nomeada na categoria de Melhor Direção.
A veterana Agnès Varda, além de ter sido premiada no final do ano passado com um Oscar Honorário, pela importância da obra, este ano concorre ao Oscar de Melhor Documentário, por Visages Villages.
O único filme estrangeiro dirigido por uma mulher que conseguiu chegar à disputa do Oscar é Corpo e Alma, da cineasta Ildikó Enyedi, da Hungria. Por outro lado, três dos cinco indicados a Melhor Animação também são dirigidos por mulheres: The Breadwinner, de Nora Twomey; Viva: A Vida é Uma Festa, de Darla K. Anderson e Com Amor, Van Gogh, de Dorota Kobiela. Além disso, Emily V. Gordon, por Doentes de Amor, e Vanessa Taylor, pelo longa A Forma da Água, também concorrem ao prêmio de Melhor Roteiro Original.
Patty Jenkins foi ignorada
Infelizmente, outra mulher que poderia concorrer ao Oscar de Melhor Direção, mas não foi sequer nomeada é a Patty Jenkins, por Mulher-Maravilha. Pelo sucesso de público e crítica do longa da super-heroína, era de se esperar que a Academia reconhecesse o excelente trabalho da equipe de Patty Jenkins, como fez em algumas ocasiões com outros filmes de heróis, como Superman, Batman ou Capitão América. Mas, não há de ser nada. Outras heroínas já estão a caminho para trazer mais diversidade, mais beleza e mais emoção à sétima arte.