Mulheres nos Quadrinhos: Jody Houser

Mulheres nos Quadrinhos: Jody Houser

O que Stranger Things, Guardiões da Galáxia, Star Wars e Orphan Black têm em comum? Além de serem obras famosas que flertam com elementos da ficção científica, todos esses universos já tiveram a influência de Jody Houser, escritora de quadrinhos.

Jody Houser decidiu que queria ser escritora aos oito anos de idade. Ela fez seu mestrado em Escrita Criativa no Emerson College, em Boston, fazendo sua tese em escrita para roteiros, e ganhando a bolsa Rod Parker Fellowship para escrita para peças. Desde o início de sua carreira, portanto, a ficção a atraía.

Seu início profissional foi com webcomics. De 2006 a 2010, publicou sua série “Brickgirl & Oscar“, a respeito de uma menina solitária, Alice, que faz amizade com um tijolo hostil e mal-humorado, Oscar. O quadrinho, que acompanha a relação dos dois, foi removido da internet em 2018. Mas esse não foi o último passo de Jody em webcomics.

Em 2010, ela lançou a série “Cupcake POW!“, que acompanha uma coleção de personagens associados a uma visão estereotípica do feminino, como unicórnios, cupcakes e até um robô cor-de-rosa. A série, que ainda está sendo publicada, brinca com estereótipos, usando piadas que às vezes tendem ao humor negro para satirizar os papéis de gênero.

Jody Houser segurando a edição de "Womanthology: Heroic", antologia que participou.
Jody Houser segurando a edição de “Womanthology: Heroic”, antologia que participou.

Mas seu trabalho não ficou apenas na internet. Além dos webcomics, Houser fez também uma série de histórias em quadrinhos curtas que foram publicadas em volumes físicos, como uma história com Fiona Staples e Adriana Blake para a antologia “Womanthology: Heroic“.

Ela também trabalhou com Eric Canete para uma antologia apoiada por uma campanha no Kickstarter, voltada para histórias de zumbis, chamada “Dead Roots”. Finalmente, em parceira com Nathan Fox, participou também de “Vertigo: CMYK”, um volume que reúne histórias que se baseiam nas quatro cores primárias de impressão para ampliar os limites da ficção gráfica.

Jody Houser também passaria a escrever quadrinhos derivados de outras obras, principalmente séries e filmes. Em 2015, ela trabalhou como co-escritora na adaptação em quadrinhos da série “Orphan Black“, da BBC America. Nos quadrinhos, Jody trabalhou com conjunto com os escritores da série de televisão, John Fawcett e Graeme Manson. A HQ acabou contando com cinco volumes, cada um falando sobre o passado e presente de uma das clones.

Imagem da adaptação em quadrinhos de Orphan Black.
Imagem da adaptação em quadrinhos de Orphan Black, por Jody Houser.

Ainda em 2015, Jody realizou seu primeiro trabalho para a Marvel, participando da coletânea de histórias “Avengers: No More Bullying”. No volume, foi responsável pela história “Quotient“, sobre os Guardiões da Galáxia. Esse seria apenas seu primeiro projeto para a empresa: em setembro do mesmo ano, ela escreveu “The Cavalry: S.H.I.E.L.D. 50th Anniversary”, uma edição comemorativa de 50 anos da organização S.H.I.E.L.D., focada na personagem Melinda May. Trabalhando com o artista Luke Ross, Jody traçou a história trazendo elementos da série de televisão “Agents of S.H.I.E.L.D.”, que criou a personagem.

Em 2016, Jody escreveu uma série de quatro volumes para a Valiant Entertainment. “Faith”, focada na personagem do mesmo nome da série “Harbinger”, recebeu aclamação da crítica por seu humor e leveza, chegando a ser indicada ao prêmio Eisner em 2017. Para Jody, foi uma ótima oportunidade de exercer seu gosto pela cultura geek ao narrar a história de Faith Herbert, notória nerd e uma das primeiras super-heroínas gordas dos quadrinhos.

Em 2017, Jody teve a chance de fazer sua marca em outro universo fictício muito famoso, ao ser contratada para escrever a adaptação em quadrinhos de “Rogue One”. Para Jody, a experiência de participar da tradição de HQs baseadas em filmes de Star Wars foi uma oportunidade de exercer seu amor pela série, criado mais pelo universo expandido dos livros de Timothy Zahn do que pelos filmes.

Faith - Jody Houser
Faith, escrito por Jody Houser.
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Até nisso, podemos observar o fascínio da autora pela multiplicidade de mídias e para o que adaptações para veículos diferentes podem oferecer. Em uma entrevista ao site Star Wars, Jody Houser afirma que sua maior prioridade ao contar uma história é fazer com que ela se encaixe bem ao formato utilizado, ao invés de tentar forçar o formato a se adaptar à história. Assim, em uma obra como “Rogue One”, ela precisou se esforçar para transpor uma história cinemática ao mundo dos quadrinhos. O resultado foi uma obra com conteúdo adicional, além das cenas do filme.

E o futuro de Houser ainda está altamente conectado com as possibilidades que a adaptação oferece como gênero. Em 2018, a autora foi contratada pela Dark Horse Comics para escrever a adaptação em quadrinhos da popular série da Netflix, “Stranger Things”. A primeira parte da série, “The Other Side”, acompanhou o personagem Will Byers em sua jornada pelo Upside Down, na primeira temporada; e a segunda, “Six”, focou na história de Francine, uma menina que se voluntaria para ser cobaia de uma série de experimentos no laboratório de Hawkins.

Também em 2018, Jody foi contratada pela Titan Publishing Group para escrever a nova série de quadrinhos de “Doctor Who“, acompanhando as aventuras da Thirteenth Doctor. A série ainda está em andamento, e sua próxima publicação está prevista para novembro deste ano.

Rogue One - Jody Houser
Adaptação de Rogue One, por Jody Houser.

Em 2019, Jody também voltou para o mundo dos super-heróis. Atualmente ela escreve a mais nova minissérie “Harley Quinn e Poison Ivy”, para a DC Comics; e “Web of Black Widow”, uma série limitada para a Marvel, focando no passado de Natasha Romanoff.

Em uma entrevista para o site Newsarama, o artista de “Web of Black Widow,” Stephen Mooney, ressaltou que a escrita de Jody Houser é ideal para um artista, pois ela sabe o que colocar em cada página e qual ritmo imbuir a cada cena. Fica claro, então, que o talento da autora em se comunicar com as especificidades do veículo dos quadrinhos persiste como um diferencial em sua carreira, e pode levá-la a muitos outros universos.


Edição realizada por Isabelle Simões.

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Formada em História, Fernanda é escritora e trabalha com tradução, legendagem e produção de conteúdo. Gosta de games, quadrinhos e filmes. Passa a maior parte do tempo falando do seu cachorro ou do MCU.
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