Em The Witcher, o Continente é das Feiticeiras!

Em The Witcher, o Continente é das Feiticeiras!

No mundo da capa e espada, a magia é quem comanda. Em um mundo de homens e seus poderosos títulos, são as mulheres feiticeiras que movem as cordas. Assim podemos definir parte da dinâmica no Continente, onde a vida se desenrola em The Witcher

Feiticeiras, não bruxos

Apesar de alguns bruxos honoráveis serem mencionados ao longo dos livros de Andrzej Sapkowski, eles são poucos quando comparados ao número de feiticeiras dominando o cenário da magia. Mesmo no mundo educacional, o autor optou por enfatizar o ensino de Aretuza em detrimento de Ban Ard, onde os rapazes se formam (talvez pelo número de desistentes da segunda). Afinal de contas, a maior arma de uma mulher naquele universo cruel era seu intelecto e seu poder.

Philippa Eilhart, presidente da Loja das Feiticeiras
Philippa Eilhart, presidente da Loja das Feiticeiras (Imagem: Gwent)

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Homens tinham desde o nascimento privilégios que as mulheres desconheciam, portanto elas compensavam tornando-se feiticeiras excepcionais. Além disso, há uma crença de que a mágica funciona melhor nas mulheres: rumores antigos, dos tempos élficos, quando o poder de “Canal” de Lara Dorren só podia ser ativado pelas mulheres de sua linha sanguínea. A confirmação oficial não existe, apenas pistas encontradas pelos fãs nos livros, quadrinhos e materiais complementares. 

A solidão de uma bruxa

Mesmo com tanto poder, existe uma obsessão do autor da série The Witcher em tirar algo das feiticeiras em troca de suas habilidades. No caso, elas abrem mão de ter filhos. A energia que a magia demanda compromete a vitalidade delas, tornando-as inférteis. Algo muito parecido acontece com os Witchers, incapazes de engravidar alguém devido ao metabolismo alterado.

Yennefer de Vengerberg (Anya Chalotra), uma das mais poderosas feiticeiras
Yennefer de Vengerberg (Anya Chalotra), uma das mais poderosas feiticeiras (Imagem: reprodução/Netflix)

Em certas passagens dos livros, justifica-se que é uma forma de balancear o mundo, para que não existam muitas pessoas “como eles”. É algo cruel e bastante triste de se ler, mas temos de lembrar também da época da obra — nos anos 90 o impacto disso era certamente maior. E, por mais avanços que The Witcher tenha, alguns momentos ainda são fruto de sua época. 

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De todo modo, a questão é importante para a bruxa protagonista, Yennefer de Vengerberg, não pela questão dos filhos, mas por lhe tirarem a escolha. E ela prova seu ponto quando esquece do assunto ao adotar Ciri como sua filha, mostrando que não importa de onde sua família vem. 

A criação das Feiticeiras

Quem vê o glamour na vida das encantadoras não imagina o seu passado. Muitas delas desconhecem uma infância feliz, uma vida feliz. A amargura na personalidade de algumas não existe à toa, mas sim por cicatrizes fortes do passado. Eram vendidas por meros xelins, moedas insignificantes, depois de viver uma vida de abuso e então chegavam em uma escola onde metade era deprimida demais e a outra metade sentia prazer em fazer alguém pobre se sentir inferior.

Tissaia de Vris (MyAnna Buring), a professora da Escola de Aretuza
Tissaia de Vries (MyAnna Buring), a professora da Escola de Aretuza (Imagem: reprodução)

Conta-se que a educação em Aretuza sempre foi rígida – e nas mãos de Tissaia de Vries, várias das melhores feiticeiras foram formadas. Será curioso notar a reação dos fãs da série da Netflix com o que vem por aí no destino de Tissaia, aquela que acolheu Yennefer e teve fé nela mais do que qualquer um. Foram as pupilas de Tissaia que mudaram o curso da história através de suas tramoias e colocavam medo em muita gente. 

Aliás, falando em Aretuza, as enguias que alimentam a escola foram um detalhe criado apenas para a adaptação. Os livros até mencionam uma personagem que deixou a escola – e em Ban Ard, a taxa de abandono era grande. 

Protagonismo feminino

Lembro de uma entrevista onde Sapkowski comenta a construção de Yennefer. Ele diz, com todas as palavras, que a fez para não ser obediente. Ele queria para Geralt uma parceira não submissa e que estava ali para ter opiniões fortes. Basicamente, o autor a fez assim, ele a quis assim. E isso é…. novo. Principalmente se você considerar que ele era um polonês na década de 90.

“Estou convencido de que somente com o contato com o outro gênero – seja por causa de atração, carinho, confronto ou oposição – um herói pode crescer plenamente.

Quando criei o personagem da Yennefer, queria que Geralt crescesse, mas decidi complicar as coisas. Criei uma personagem feminina que se recusa ser um estereótipo de fantasia para agradar o leitor. ” – Sapkowski

Dessa entrevista podemos concluir que a personalidade das demais feiticeiras também é proposital. Não é novidade alguma para os leitores que elas são, na grande maioria, opinativas, fortes e seguem seu próprio código moral — mas são tão racionais que estão dispostas a deixar rivalidades de lado em nome de manter a magia viva.

Yennefer de Vengerberg (Anta Chalotra) em The Witcher
Yennefer de Vengerberg (Anta Chalotra) | Imagem: reprodução/Netflix

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É um alívio, portanto, lidar com uma obra que trata mulheres como inteligentes, fortes e donas de sua própria sexualidade. E não, os livros não parecem com a versão CDPR. Existe sim muita tensão sexual, mas não há gratuidade a cada momento como temos nos jogos. 

As Favoritas

Não podemos falar sobre as feiticeiras sem falar sobre três em especial: Yennefer de Vengerberg, Triss Merigold e Philippa Eilhart. A última ainda vai aparecer na série da Netflix e não é opção de romance nos jogos — Philippa está envolvida em tramas políticas e tem extrema relevância no desenrolar dos livros e nos primeiros jogos, mas aos seus devotos, nada de romance. Ela encabeça a Loja das Feiticeiras e coloca medo em quase todos que escutam seu nome. Nem Radovid, o Louco, conseguiu dar conta dela. 

Yennefer de Vengerberg, Triss Merigold (Anna Shaffer) e Sabrina Glevissig (Therica Wilson Trás)
Yennefer de Vengerberg, Triss Merigold (Anna Shaffer) e Sabrina Glevissig (Therica Wilson Trás) | Imagem: reprodução/Netflix

Todas as três detêm uma enorme quantidade de fãs – você precisa apenas procurar por aí. E se focarmos nos livros, Triss aparece bastante — mas os sentimentos dela por Geralt nunca são correspondidos. Os livros são uma ode ao amor de Yennefer e Geralt e à formação de sua família com Ciri. Yennefer, assim como Philippa, é uma das bruxas mais poderosas do Continente. Triss demonstra imenso potencial, mas ainda está nova, quando comparada às outras duas. 

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Uma mudança da série da Netflix em relação ao cânone é digna de nota: colocar Mimi Ndiweni como Fringilla Vigo foi uma excelente decisão. Nos livros, ela é uma personagem secundária cuja história é mais do mesmo. Na adaptação, sua presença dá ainda mais agência para as feiticeiras. Agora ela é uma das bruxas mais poderosas e promete trazer muita dor de cabeça para quem ficar no caminho de Nilfgaard.

Fringilla Vigo (Mimi Ndiweni)
Fringilla Vigo (Mimi Ndiweni) | Imagem: reprodução/Netflix

Vale lembrar ainda que ambas as atrizes de Fringilla e Triss sofrem deploráveis ataques racistas nas redes constantemente — algo que repudiamos e os atores também, pois as duas são amplamente apoiadas em público. O time das bruxas de The Witcher parece permanecer unido. 

O Livro das Bruxas

Se você ainda não deu uma oportunidade para o mundo fantástico de The Witcher, deveria ir sem medo. Inúmeras mulheres aparecem como personagens principais, envolvidas em enredos de conspiração, traição, lealdade e demonstrações constantes de poder.

Existem diversos pontos de vista, mas aquelas cuja psique você vai conhecer melhor com certeza serão as três citadas no trecho anterior e Tissaia. Talvez também sua sucessora, Margarita. Será curioso observar a representação LGBTQIA+ de tantas mulheres indo para a plataforma de streaming, mas, enquanto isso, os livros estão aí para provar que a vida de uma feiticeira no Continente é uma das mais recompensadoras que se pode ter.

Sim, dentre as feiticeiras, existe representação LGBTQIA +. Vamos guardar segredo, mas The Witcher não é um mundo feito apenas de héteros não. Existem personagens bissexuais bastante cânon — e uma bruxa que o fandom interpreta como lésbica, mas veremos o que a série fará.

E como dito no livro História da Bruxaria, de B. Russell e Brooks Alexander: “A magia conserva seu apelo, e a bruxaria não desaparecerá tão cedo desta Terra.”

Edição e arte em destaque por Isabelle Simões. Revisão por Gabriela Prado.

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Escrevo onde meu coração me leva. Apaixonada pelo poder das palavras, tentando conquistar meu espaço nesse mundo, uma frase de cada vez.
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