Quase 20 anos depois do lançamento do debut All We Know Is Falling, Paramore nos entrega um disco maduro de uma banda que cresceu ao lado de muitos de seus fãs e captou outros pelo caminho. This I Why foi lançado em fevereiro de 2023 pela Atlantic Records e tem um intervalo de 6 anos desde o último lançamento, After Laugher, época em que a banda decidiu fazer uma pausa.
O retorno de Paramore
A atual formação de Paramore conta com Hayley Williams, Zac Farro e Taylor York. Em 2020, a banda já estava discutindo quais poderiam ser os rumos do novo disco, sendo certo de que Zac e Taylor fariam instrumentais mais significativos e viscerais e não seria um disco emo ou nostálgico, sonoramente falando.
Os três se conhecem em 2005 e tocam juntos desde que a banda surgiu (mesmo que Taylor só entre oficialmente no grupo em 2007), por isso percebem a importância do hiato para a maturidade do som e a qualidade da relação entre eles.
Todo esse intervalo foi importante para que cada um entendesse o que gosta mesmo de tocar e como lidar com a diferença sonora do início da banda e agora.
Zac e Taylor falam, inclusive, sobre como queriam tocar músicas mais calmas e relaxantes, fugindo um pouco da explosão sonora anterior. E Hayley também gostaria de músicas mais melódicas para equilibrar os gritos e o ato de cantar nas performances de palco.
Amadurecimento da banda e dos fãs
Se você, assim como eu, está na casa dos 20/30 e poucos anos, você se lembra de quando a banda surgiu: dos clipes na MTV, das entrevistas em revistas adolescentes e das letras rebeldes que te acolhiam e davam a sensação de que as esquisitas podiam ser melhores do que as populares na escola, entre outras questões abordadas no texto Uma discussão sobre rivalidade feminina no rock dos anos 2000 e responsabilidades nos dias atuais.
Nós também passamos por outras experiências transformadoras, como a pandemia, precarização do trabalho, hiper acesso à informações, exaustão, inseguranças, ansiedade, além de outros percalços da vida moderna que nos aproximam enquanto jovens cansados e com pouco tempo.
O que quero dizer é que, além do amadurecimento musical de Paramore, os integrantes amadureceram com o público. As preocupações sobre sua saúde mental e as críticas ao status quo refletidas nas letras e melodias de This Is Why, nos pegam da mesma forma quando nos identificávamos na adolescência com That’s What You Get, por exemplo.
Para mim, essa é uma das magias do retorno da banda: além da sonoridade incrível, me sinto próxima das confissões e letras autobiográficas da Hayley, assim como acontecia em 2007, porque crescemos e amadurecemos juntas, de certa forma. Talvez para quem esteja conhecendo Paramore agora, a sensação possa ser um pouco diferente, mas a capacidade de conexão pessoal das letras é um ponto interessantíssimo sobre a banda.
Leia também >> The Regrettes: feminismo, revolução e instrução leve e certeira nas músicas
Em This Is Why, nos identificamos com uma realidade em que é complicado sair de casa ou ficar ligada nas notícias, porque temos conflitos internos que podem dificultar algumas interações sociais. Manejar o tempo e estar sempre disponível também não é fácil, assim como entender que a idade não significa segurança ou calmaria. Além disso, às vezes não conseguimos também nos livrar do diabo sentado em nosso ombro (como em “Thought I’d simmer down as I got older/Can’t shake the devil sitting on my shoulder“, na música You First)
This Is Why e a nova sonoridade da banda
Os jovens do Tennessee, Josh e Zac Farro, Jeremy Davis e Hayley Williams, em 2004, formaram o Paramore como uma banda de rock. Um ícone emo, enérgico e juvenil com raízes no punk e pop punk. No entanto, o som da banda já estava se afastando dessas raízes tradicionais em 2017 com o disco After Laughter.
Com influências de disco, synthwave, new wave e o revival dos anos 80 que acontecia na época, o quinto disco da banda é marcado pela grande diferença sonora quando comparado aos discos anteriores. This Is Why também não é um disco emo como os antigos, mas mostra que a personalidade Paramore está mais viva do que nunca.
As guitarras realmente tomam conta das músicas, com acordes que trazem a essência do Paramore numa experiência nova e aberta a outras experimentações. As baterias quebradas e complexas também exploram outros compassos e a banda soa harmoniosa e experimental, com influências atuais e características que celebram a maturidade já abordada aqui.
É perceptível como as experiências do isolamento social e outras adversidades dos nossos tempos refletem nas letras e na construção do disco como um todo. Como Hayley geralmente comenta em entrevistas, o período de hiato da banda associado à pandemia também foi importante para que muita coisa pessoal fosse compreendida e discutida. E é como se sair de casa, organizar o tempo, estar exposta a informações do mundo todo trouxessem um sentimento de impotência e angústia que antes não percebíamos.
Leia também >> Daisy Jones & The Six: expectativas para a nova série da Prime Video
Hayley também comenta que a primeira parte do disco até C’est Comme Ça é “como se as ondas continuassem te atingindo e te impedindo de chegar até a superfície, mas de alguma forma é ótimo“, já que as letras são bastante intensas em contraste com as melodias dançantes e agitadas. Porém, quando chegamos em Big Man, Little Dignity somos transportadas para a parte pacífica do disco (o que não diminui a intensidade das letras).
O álbum também aborda as formas em que Hayley percebe sua raiva e seus desejos de vingança, mas sempre tenta se acalmar como em You First; como a máquina do capitalismo suga nossas energias e personalidades em um movimento infinito citado em Figure 8; e como as opiniões externas refletem em nossa percepção sobre nós mesmas em Thick Skull.
Conclusão
Paramore nos presenteou com um álbum que fala sobre dificuldades da vida adulta, saúde mental, críticas ao capitalismo e as angústias pessoais. A obra faz com que seja possível ver nossas experiências refletidas nas letras, associadas a uma melodia enérgica ou leve como acontece no lado B. É um trabalho precioso e afinado com a realidade, nos permitindo dançar e refletir sobre como a vida tem sido.
