“I’m so sick of myselfI’d rather be, rather beAnyone, anyone else”
Na música Jealousy, Jealousy, a cantora Olivia Rodrigo externaliza seus sentimentos sobre a inveja que sente ao se comparar com outras pessoas na internet. No trecho destacado, ela afirma estar cansada de si mesma e preferiria possuir as qualidades que tanto admira.
A ideia por trás do filme sueco-norueguês Sick of Myself ou Doente de Mim Mesma em português, é semelhante à mensagem que Olivia transmite com a canção. O diretor e roteirista Kristoffer Borgli nos apresenta uma personagem sedenta por atenção, disposta a fazer de tudo para alcançar seu objetivo.
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A anormalidade no comportamento de Signe
Signe e Thomas são um jovem casal que vive parcialmente da arte. Frequentando regularmente ambientes de classe alta, Signe ajuda o namorado a roubar objetos caros para compor suas obras de arte. Com esse modo incomum e ilegal de se expressar, Thomas consegue o reconhecimento da mídia, além de expor seu trabalho em galerias de arte.
À medida que os dias passam, Signe nutre um certo “ciúme” pelo sucesso de Thomas. Vê-lo progredir em sua carreira enquanto ela apenas observa é algo que a irrita profundamente. É evidente que ele não é um personagem pelo qual devemos nos afeiçoar no romance entre os dois, mas, mesmo assim, enquanto ainda estão juntos, Signe acredita que merece tanto reconhecimento quanto ele.
Chocando o espectador desde o início, os primeiros indícios do quão insano é o comportamento de Signe começam a surgir. Após ajudar uma mulher que sofreu um acidente na padaria onde trabalha, ela retorna para casa com as roupas cobertas de sangue. A cena ao vivo poderia inquietar qualquer pessoa e Signe, ciente disso, se aproveita da situação.
Inicialmente alegando que o sangue nas roupas era seu, ela se baseia em meias-verdades para criar uma história mais impactante, buscando reconhecimento através da atenção que recebe de Thomas e colegas próximos.
Lidexol e os efeitos colaterais em Doente de Mim Mesma
Percebendo que o incidente com o sangue gerou resultados, Signe continua inventando histórias que a façam se sentir no centro das atenções.
Durante um jantar em homenagem a Thomas, ela inventa uma alergia fictícia a nozes. Os convidados se interessam pelas consequências à saúde de Signe, ajudando-a quando finge estar com falta de ar após ingerir o alimento “sem querer”.
Em síntese, suas mentiras causam caos. Mas Signe atinge o ápice ao pesquisar sobre o medicamento Lidexol. Após ler uma notícia sobre os problemas de pele causados pelo remédio, ela vê a oportunidade perfeita.
Quando encontramos alguém ou vemos uma foto, geralmente nossa atenção se volta para o rosto da pessoa. Nesse sentido, Signe ingere os comprimidos em excesso durante o dia, buscando deteriorar sua própria aparência.
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Narcisismo e mitomania em Sick of Myself
Quando Signe começa a perceber os primeiros sinais da doença de pele, ela faz questão de deixar as cicatrizes em seu rosto à mostra. Nas conversas com a família e amigos, destaca a gravidade de sua condição e o quão rara ela é.
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Há um momento em que Signe pede para Thomas fotografá-la de maneira que as marcas fiquem aparentes. Essa atitude reflete situações comuns na realidade, especialmente nas redes sociais. Às vezes, buscamos validação de desconhecidos, alimentando uma falsa esperança de que os outros se importam verdadeiramente com nossos problemas.
O comportamento de Signe sugere uma ligação direta com o narcisismo e a mitomania. Embora esses transtornos não sejam explicitamente mencionados no filme, são perceptíveis.
Essas características são evidentes para aqueles próximos a ela, incluindo o traficante que forneceu o Lidexol. Ele ressalta que a tendência de mentir excessivamente já fazia parte de sua personalidade antes da situação se tornar caótica.
A doença de se sentir visto
O tom apresentado no filme é tanto cômico quanto absurdo. Existe uma linha tênue entre rirmos da desgraça de Signe e nos questionarmos se algum dia nos permitiríamos estar na mesma situação. A singularidade de cada indivíduo nos faz nutrir desejos únicos, o que significa que nosso ego tende a se inclinar para diversas direções.
O professor universitário e crítico cultural Christopher Lash apresenta em sua análise no livro A Cultura do Narcisismo uma reflexão sobre como o individualismo competitivo atrapalha a construção de uma sociedade saudável.
Vemos que a autodestruição de Signe gerou certa comoção em breves momentos, mas que, no final, isso só fez com que ela se afastasse das pessoas e cavasse a própria cova.
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A discussão sobre a busca por atenção tem se intensificado com o passar dos anos devido ao avanço da tecnologia. Quanto mais fama acumulamos, maior pode ser o impacto ao percebermos que tudo isso, muitas vezes, não passa de uma ilusão de conexão genuína e significativa.
Doente de Mim Mesma está disponível no catálogo da Mubi.
