Mulheres nos Quadrinhos: Nnedi Okorafor

Mulheres nos Quadrinhos: Nnedi Okorafor

E se uma garota africana de uma família tradicional fosse aceita na mais renomada universidade da galáxia, a planetas de distância? E se ela decidisse ir?”. É assim que Nnedi Okorafor abre sua TED Talk, em 2017, sobre ficção científica africana. Escritora de livros de fantasia e ficção científica, Nnedi estava descrevendo a premissa de sua trilogia Binti, pela qual recebeu diversos prêmios, inclusive um Hugo Award em 2016. A trilogia, de longe um de seus trabalhos mais famosos, pode ser vista como um exemplo ilustrativo de seu trabalho e dos temas que regem a sua escrita.

Nnedi nasceu em 1974, em Ohio, nos Estados Unidos. Descendente de imigrantes nigerianos da tribo Igbo, Nnedi visitou a Nigéria diversas vezes ao longo da vida e isso influenciou profundamente sua produção literária. Durante a faculdade, Nnedi era muito dedicada aos esportes, especialmente tênis e atletismo. No entanto, aos 19 anos, por sofrer de escoliose, fez uma cirurgia na coluna e teve complicações que a deixaram paralisada da cintura para baixo. Ela recuperou a capacidade de andar após intensa fisioterapia, mas foi nesse período em que, sem poder continuar sua carreira esportiva, ela se voltou inteiramente para a escrita. Em um semestre, escreveu diversos contos e começou a escrever seu primeiro livro.

No começo, Nnedi escrevia livros infantojuvenis. Obras como “The Shadow Speaker” e “Zahrah the Windseeker” foram aclamadas pela crítica e indicadas a diversos prêmios. Em 2011, seu primeiro livro para adultos, “Quem Teme a Morte“, ganhou o World Fantasy Award de melhor romance. Posteriormente, voltaria a receber aclamação e prêmios por “Binti“.

Capa de Binti
Capa de Binti (Imagem: reprodução)

Trabalhos e características de sua escrita

O trabalho de Nnedi é fortemente marcado pela corrente de ficção científica denominada afrofuturismo. Para definir afrofuturismo, em sua TED Talk, Nnedi usa uma analogia com os polvos: “Assim como os humanos, os polvos são uma das espécies mais inteligentes da Terra. No entanto, a inteligência dos polvos vem de outra linha evolutiva, diferente da dos seres humanos, então a base é diferente. O mesmo pode ser dito sobre as bases das diversas formas de ficção científica”.

Desse modo, podemos perceber que o afrofuturismo faz a mesma pergunta de toda ficção científica – “E se?” – sobre uma base firmada em raízes de cultura africana. É uma perspectiva diferente da perspectiva europeia ou norte-americana e há muita discussão entre africanos e afro-americanos sobre como definir o termo.

Nnedi, por sua vez, rejeita um único rótulo para sua obra, definindo-se como uma “escritora de coisas estranhas”. Seus trabalhos misturam fantasia, ficção científica, realismo mágico e afrofuturismo. Diante, não é de se surpreender que ela eventualmente se voltou a escrever para quadrinhos.

Seu primeiro trabalho foi uma história curta para a Marvel, para a antologia “Venomverse: War Stories“. A história se chamava Blessing In Disguise e narrava as aventuras de Ngozi, uma garota moradora de Lagos, na Nigéria, que teve sua carreira no atletismo interrompida por um acidente que a colocou em uma cadeira de rodas. Na história, Ngozi encontra um simbionte, tal como Venom, e ganha o poder de se transformar num ser insectoide com as habilidades de um gafanhoto.

Cena de Venomverse
Cena de Venomverse (Imagem: reprodução)

Esse foi apenas o primeiro de seus trabalhos com a Marvel. Um mês depois da publicação de “Venomverse”, em outubro de 2017, Nnedi anunciou no Twitter que iria escrever três volumes de “Pantera Negra“, dando continuidade ao trabalho do autor TaNehisi Coates. Esses se tornaram os seis volumes de “Pantera Negra: Vida Longa ao Rei”.

Era só o princípio da entrada de Nnedi em Wakanda: em março de 2018, foi anunciado que ela iria escrever “Wakanda Forever“, uma série de três volumes sobre as Dora Milaje, a força de segurança feminina de Wakanda. Em julho de 2018, foi anunciado que ela iria escrever a nova série solo “Shuri“, a qual ainda está em andamento e teve uma boa recepção da crítica e dos fãs.

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Mas Nnedi não pretende escrever somente para a Marvel. Em setembro de 2018, ela anunciou seu mais novo projeto, “LaGuardia”, que será publicada pela Dark House Comics. A história se passa num universo alternativo em que aliens estão integrados na sociedade humana e gira em torno da médica nigeriana-americana Future Nwafor Chukwuebuka. Após ajudar uma planta alienígena a entrar no país clandestinamente, Future vai morar com sua avó em um apartamento no Bronx, acompanhada da planta, cujo nome é Letme Live. Conforme o nascimento de seu filho se aproxima, no entanto, fica claro que Future está escondendo um segredo.

Capa de Laguardia
Capa de Laguardia (Imagem: reprodução)

A capa do primeiro volume de “LaGuardia” traz os dizeres “uma história de imigração muito moderna”, ilustrando perfeitamente como sua obra abraça o fantástico e o absurdo da ficção científica de um ponto de vista inédito e com toda uma bagagem cultural que o separa do que costuma ser visto no gênero. Para além de representatividade em narrativas tipicamente ocidentais, Nnedi cria universos e narrativas próprias, marcadas por sua africanidade e negritude, entre outros elementos.

Além de “LaGuardia”, Nnedi também possui um projeto com a HBO, de uma série que vai adaptar “Quem Teme a Morte“. O escritor George R.R. Martin, autor de Game of Thrones, é um dos produtores. Nnedi contou ao site Okayafrica que está animada com o projeto e confia na visão dos produtores. Além disso, ela também está desenvolvendo o roteiro de uma série da Amazon Prime, “Wild Seed”, estrelada por Viola Davis. Aguardamos ansiosas, então, para ver como suas “coisas estranhas” se refletirão na tela.


Edição realizada por Gabriela Prado e revisão por Isabelle Simões.

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Formada em História, Fernanda é escritora e trabalha com tradução, legendagem e produção de conteúdo. Gosta de games, quadrinhos e filmes. Passa a maior parte do tempo falando do seu cachorro ou do MCU.
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