As mudanças entre os pares românticos do Homem-Aranha

As mudanças entre os pares românticos do Homem-Aranha

Não é novidade que em todo filme de herói sempre tem a mocinha que faz par romântico com o galã. E muitas vezes, a inserção do relacionamento entre os dois representa o amadurecimento dos personagens e a descoberta do que é o mais importante, o amor, mesmo com a iminência caótica do fim do mundo. Nos filmes do Homem-Aranha, a química entre o par romântico é um ponto crucial na trama. É algo que gera empatia pelo Peter Parker ao mesmo tempo que entende-se as responsabilidades do Homem-Aranha e os obstáculos que separam o casal.

Entretanto, com o lançamento do mais novo filme da franquia Homem-Aranha Sem Volta Para Casa, as personagens femininas passaram a receber muitos ataques maciços e a comparação sobre “Qual foi a melhor namorada do homem aranha” explodiu na internet. O que não se fala muito é que elas vão além de ser apenas o par do Aranha, pois suas representações ao longo dos anos também nos mostra como a indústria enxergou o papel da mulher no decorrer dos filmes.

Ademais, o fato de tanto ódio ser deferido a cada uma sem motivo, além das comparações entre elas serem bem mais ofensivas do que com o Peter Parker, evidenciam que na realidade é o machismo que faz essa discussão tomar proporções que vão além das telas.

Mary Jane (Homem-Aranha, 2003)

Mary Jane (Homem-Aranha, 2003)
Kirsten Dunst como Mary Jane Watson e Tobey Maguire como Peter Parker | Imagem: divulgação

Mary Jane Watson é uma personagem clássica e quase sempre a primeira que vem ao imaginário quando se pensa no par romântico do Miranha. E infelizmente, uma das que mais sofre hate.

Apesar de ser uma personagem determinada e forte, ela ainda vem sendo depreciada por diversos comentários machistas, já que a representação da “garota popular altamente feminina” sempre foi caricata em Hollywood.

Mary Jane foi uma personagem inventada por homens e seus criadores, Stan Lee e Steve Ditko, discutiram se a personagem devia ser desenhada com traços “bonitos ou feios”. Essa discussão problemática queria fazer uma Mary Jane mais “feia” para que pudesse ser “levada a sério ” ou uma personagem “bonita ” para se tornar um troféu”.

Toda essa discussão inicial mostrou como a representação feminina nos quadrinhos ainda era cercada pelo machismo. E nos filmes a personagem ainda foi interpretada, por parte do público, como fútil e interesseira, apesar de todo o arco de desenvolvimento e falas que provam o contrário, mostrando que ainda é difícil quebrar os estereótipos sobre como uma mulher deve se comportar. Apesar disso, Mary Jane foi perpetuada na cultura pop, deixando um legado de uma mulher essencialmente independente.

Gwen Stacy (Spider-Man, 2012)

Andrew Garfield como Homem-Aranha e Emma Stone como Gwen Stacy | Imagem: divulgação

Gwen Stacy foi a primeira namorada do homem-aranha. Ela é muito lembrada por sua inteligência e por estar em pé de igualdade com o herói na adaptação de 2012.

Muito além de uma “donzela indefesa”, sem a Gwen o aranha não conseguiria derrotar os vilões, pois ela é responsável por dar aquele empurrãozinho, oferecendo as informações necessárias e o Conselho científico correto que permite que o vilão seja derrotado.

Não foi à toa que ela se tornou o interesse amoroso no reboot da franquia, já que ela quebra os estereótipos de garota fútil e indefesa, criando um novo espelho de identificação, através do interesse pela ciência (vale lembrar que ainda é uma área com poucas mulheres).

Entretanto, um viés mal trabalhado pelo roteirista foi sua representação no último filme como “mulher na geladeira“. Basta notar que a única motivação de sua morte foi despertar a dor no protagonista para seu desenvolvimento final.

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Criado pela quadrinista Gail Simone, o termo “mulher da geladeira” foi pensando justamente para retratar personagens femininas cuja morte serve apenas para motivar e criar um arco de redenção para um personagem masculino. Apesar disso, Gwen Stacy é uma representação de uma mulher inteligente, focada e interessada pela ciência.

Vale lembrar que ela priorizou a carreira, ao invés de ficar em função do Peter Parker no filme “O espetacular Homem Aranha 2 – A ameaça de electro”, mostrando que ela valoriza seus sonhos, tal qual Mary Jane, e que o fato de Peter segui-la só mostra que em um relacionamento saudável um parceiro apoia as conquistas e sonhos do outro.

Michele Jones- MJ (Homem-Aranha, 2017-2021)

Zendaya como Michelle Jones-Watson e Tom Holland como Peter Parker | Imagem: divulgação

Finalmente, a primeira MJ negra no universo cinematográfico! Uma representatividade enorme e super importante para todas as meninas que se sentiram reconhecidas na tela. O segundo reboot da franquia trouxe uma MJ necessária para o século XXI.

Michelle Jones é uma versão completamente moderna da personagem, dessa vez, representando todas as meninas com um estilo mais introvertido e mostrando que não existe um arquétipo ou padrão de personalidade a ser seguido quando se trata de representar uma mulher nas telas de cinema.

Trata-se de uma das representações mais humanas e reais da personagem, já que ela tem um senso de humor que flerta com a atualidade e não tem medo de se impor ou de reagir de maneira espontânea em todas as situações (tipo jogar um pãozinho no Andrew Garfield). Sem falar na construção do relacionamento entre ela e o Peter, que vem sendo feito de uma maneira muito suave e inteligente, mostrando como a personalidade dos dois vai se encaixando aos poucos.

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A MJ é, sem dúvida, o par romântico favorito de muitas pessoas, pois os dois tem que lidar com uma certa timidez nos filmes, o que relembra aquele clima escolar, que é uma base da franquia.

No entanto, uma das críticas feitas à personagem é que ela é muito “diferente das outras garotas”, de um jeito superficial. Mas isso é algo totalmente sem nexo, porque todas as falas dela possui conteúdo. As críticas refletem, em parte, mais a obrigatoriedade da excelência atribuída às personagens femininas do que ao próprio desenvolvimento da personagem em si. Também é uma personagem extremamente inteligente, que captou todas as qualidades de suas predecessoras e adicionou sua singularidade única.

Em síntese, cada par romântico do Miranha é um reflexo da representação feminina ao longo dos anos. Cada uma carrega uma força e às vezes uma limitação imposta por roteiristas homens. Mas com o passar do tempo – e através da atuação brilhante das mulheres que deram vida à essas personagens – vemos que as garotas sempre terão um lugar importante no universo dos super-heróis. E que uma garota normal pode viver coisas extraordinárias e nunca se esquecer de sua essência.

Autora convidada: Luana tem 19 anos e cursa letras na Universidade Federal do Ceará (UFC). Quando descobriu que poderia escrever sobre livros, filmes e séries, um mundo mágico se abriu! Notou que as garotas tinham pouco espaço no universo nerd e começou a escrever sobre as representações femininas na mídia para colaborar com um ambiente mais saudável para as mulheres.

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