[SÉRIES] American Gods – 02×02: O Homem Sedutor (resenha)

[SÉRIES] American Gods – 02×02: O Homem Sedutor (resenha)

Seguindo os acontecimentos de A Casa na Pedra, o segundo episódio de American Gods, intitulado “O Homem Sedutor“, lança luz sobre o passado de Shadow e constrói uma narrativa simbólica acerca das valiosas memórias do personagem e de seu crescimento psicológico dentro da trama, enquanto acompanhamos, também, o desenrolar de outras subtramas presentes na obra.

[CONTÉM PEQUENOS SPOILERS DO EPISÓDIO A CASA NA PEDRA E O HOMEM SEDUTOR]

Mais um episódio revelador de American Gods nos foi apresentado esta semana: abduzido por algo estranho no primeiro episódio, Shadow Moon (Ricky Whittle) encontra-se preso a muitos fios e recebe choques sob a ordem do chamado Mr. Town (Dean Winters), que anseia em saber as verdadeiras motivações por traz da guerra que Mr. Wednesday (Ian McShane) está tramando entre velhos e novos deuses. 

American Gods
Imagem: reprodução.

Bilquis (Yetide Badaki) encontra-se com Mr. World (Crispin Glover) e os dois conversam sobre a dívida que a deusa possui com os novos deuses, ao passo que Mr. World nota a preocupação evidente que ela nutre, ao mencionar uma possível carnificina de deuses. É possível perceber arrependimento no olhar de Bilquis e o quanto ela sofre por saber que a sua dádiva, o amor, estará em jogo caso o plano venha a se concretizar.

Technical Boy (Bruce Langley) procura a Nova Mídia (Kahyun Kim) e frustra-se ao perceber que a anterior, já ultrapassada, era menos independente do que a atual, justamente por esta ser contemporânea e possuir aspectos que a permitem vagar por diversas facetas, fora a tecnologia propriamente dita. A aliada não aparece e enfurece ainda mais o personagem, claramente preocupado com a falta de apoio de uma deusa tão poderosa e persuasiva.

American Gods
Imagem: reprodução

Mr. Wednesday, Mama-Ji (Sakina Jaffrey), Czernobog (Peter Stormare) e Anansi (Orlando Jones) conversam sobre o futuro dos velhos deuses, caso algum deles morra na batalha. Czernobog deixa claro que, uma vez morrendo, um deus ou deusa podem nunca mais voltar se não houver quem neles creia.

American Gods
Imagem: reprodução

As duplas Salim (Omid Abtahi) e Jinn (Mousa Kraish), e Laura (Emily Browning) e Mad Sweeney (Pablo Schreiber) partem em destinos diferentes e é bem interessante observar quão mais próximos estão, principalmente os primeiros. Laura, por sua vez,  percebe que seu fim, de fato, está próximo e precisa se agarrar ao que é mas vital no mundo para ela, neste momento: Shadow. Mad Sweeney a ajuda a tentar encontrar o esposo, mesmo contra sua vontade; é possível ler piedade e bondade em seus olhos, mesmo ele sendo um dos personagens mais durões da série.

Um pedaço de seu passado, contado no episódio A Prayer for Mad Sweeney, na primeira temporada, mostra o quanto este personagem pode ser importante dentro da dinâmica com Laura Moon (que pela semelhança física pode possuir parentesco com Essie MacGowan, a irlandesa que levou sua fé nas criaturas de seu país de origem para os Estados Unidos). Resta às espectadoras aguardarem por surpresas diferentes do livro, já que mais de uma vez na série Laura queixa-se ao leprechaun que desejaria – e faria qualquer coisa – para ter sua vida de volta (e Mad Sweeney lhe entrega uma fagulha de esperança ao mencionar um conhecido que talvez possa ajudá-la).

De longe, as passagens mais marcantes do episódio foram as lembranças de Shadow, enquanto estava sob as torturas de Mr. World. Uma nova personagem importante é introduzida à trama: a mãe de Shadow (Olunike Adeliyi) – e, com ela, as espectadoras conseguem perceber o quão importante a personalidade feminina dela moldou o que Shadow é no presente. Resgatando-a, uma das poucas pessoas que Mr. World diz estar na mente de Shadow, o personagem mostra fragilidade, gratidão por ser quem é e, o mais dolorido, a dor da perda.

Vindo da França ainda adolescente, o jovem Shadow (Gabriel Darku) e a mãe estabelecem-se nos Estados Unidos, contra a vontade dela, que diz claramente não ter a intenção de criar o filho naquela terra, e deixa o mistério pairar no ar. Shadow sempre fora um garoto calmo e companheiro, porém tudo muda ao ser abordado pela polícia por correr de uns homens de sua vizinhança, ser espancado e algemado.

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Alguns destes trechos discutem a questão do racismo para com o povo negro, levantados pela mãe dele, mulher negra que precisou criar o filho sozinha, mas a discussão é feita de forma bem sucinta, deixando ganchos para possíveis (e esperadas) abordagens mais profundas em outros episódios.

Quando a mãe adoece e morre, Shadow deixa de lado suas crenças e fecha-se para um mundo que antes era cheio de músicas e cores. Foi muito interessante ter esta perspectiva do personagem, pois esta pacificidade que possui, e que irrita algumas pessoas, tem fundamento familiar. Por mais que a dor o tenha feito amadurecer e a encarar situações perigosas e desagradáveis, Shadow mantém os ensinamentos da mãe em um local bem iluminado de seu ser (e isto faz com que muito da sua evolução psicológica dentro desse novo mundo apresentado por Mr. Wednesday seja, além de uma forma de reconectar-se consigo, uma forma de reencontrar a própria figura materna em meio ao caos, aspecto tão importante para sua formação).

Os aspectos técnicos do episódio, como fotografia, sonoplastia e roteiro continuam muito bons, porém o contraste estético com a primeira temporada perdura. “O Homem Sedutor” entrega um pouco mais do que já está sendo discutido desde o primeiro episódio, de forma simples, mas não menos soturna.


Deuses Americanos Come to Jesus Deuses Americanos

Editora Intrínseca

Ano de publicação: 2011.

574 páginas

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117 Textos

Formada em Letras, pós-graduada em Produção Editorial, tradutora, revisora textual e fã incondicional de Neil Gaiman – e, parafraseando o que o próprio autor escreveu em O Oceano no Fim do Caminho, “vive nos livros mais do que em qualquer outro lugar”.
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