8 quadrinhos lançados em 2022 para ler no Halloween

8 quadrinhos lançados em 2022 para ler no Halloween

Com a chegada dos ventos terríficos do Halloween, surge a necessidade de leituras temáticas para aumentar ainda mais o clima de terror, suspense e magia que paira pelos ares de outubro. Como nem só de romances e noveletas os sustos se fazem, separamos, abaixo, oito indicações de quadrinhos sombrios e enfeitiçados, de terror psicológico e narrativas insólitas que beiram a fantasia, lançados em 2022 no Brasil, para aterrorizarem ainda mais as leituras desta temporada de sustos. Confira!

1. Dente de Leite”, de Patrick Martins e Igor Frederico

Dente de Leite, de Patrick Martins e Igor Frederico

O quadrinho vencedor do 1º Prêmio Geek de Literatura da Amazon Brasil, Dente de Leite, ilustra uma sufocante história de horror doméstico, inspirado no cinema subversivo e melancólico da cineasta Chantal Akerman.

Os autores Patrick Martins (roteiro) e Igor Frederico (arte) contam a narrativa de uma idosa que, metodicamente, realiza as mesmas tarefas domésticas. Presa num ciclo asfixiante e solitário, o quadrinho ilustra a perspectiva existencialista de uma senhora que foi explorada ao longo dos anos pela maternidade compulsória.

A jornada melancólica de Dente de Leite nos faz refletir em nossas avós, mães, tias e tantas mulheres que conhecemos e que foram – e ainda são – exploradas por uma sociedade desigual, culminando num processo de um adoecimento em massa físico e mental. Um retrato delicado que serve de inspiração para subvertermos o sistema e lutarmos por novas maneiras saudáveis de nós, mulheres, existirmos.

2. “O homem rabiscado”, de Serge Lehman e Frederik Peeters

O homem rabiscado, de Serge Lehman e Frederik Peeters

Neste quadrinho da editora Nemo, traduzido por Scheibe & Castro, acompanhamos a vida da tríade de mulheres da família Couvreur, Clara, Betty e Maud. Betty, filha de Maud, uma premiada escritora de livros infantis, sofre de afasia, uma disfunção de linguagem que faz com que ela perca completamente a capacidade de falar quando passa por estresse. Ela terá de superar as próprias limitações após um evento estranho acontecer no apartamento da mãe, a fim de investigar um misterioso homem-pássaro que, de alguma forma, conhece Maud e precisa de algo que lhe pertence.

É com a ajuda de Clara, a filha adolescente, que Betty reunirá forças para fazê-lo e, correndo contra o tempo em uma Paris coberta por uma chuva torrencial que parece nunca cessar, enevoando a cidade e os pensamentos das duas, terá de investigar o passado da família em uma cidadela distante que guarda diversos mistérios inimagináveis.

quadrinhos lançados em 2022 para ler no Halloween

O traço do quadrinho é muito lindo e monocromático como a vida das próprias personagens. Ele é assinado por Frederik Peeters, também autor de “Pílulas Azuis” (Editora Nemo, 2015, tradução de Fernando Scheibe). A mitologia construída na obra é única e apresentada aos poucos, unindo criaturas já conhecidas do folclore mundial para criar um universo completamente novo e simbólico.

Todas as personagens de destaque são mulheres, e até mesmo as coadjuvantes contribuem e muito para o desenvolvimento da narrativa, sobretudo para os reencontros vivenciados por Betty. “O homem rabiscado” é um excelente quadrinho sobre a força feminina, o poder da palavra e do contar histórias e a importância da ancestralidade.

3. “A Mão Verde e Outras Histórias”, de Nicole Clavelaux e Édith Zha

A Mão Verde e Outras Histórias, de Nicole Clavelaux e Édith Zha

Nicole Clavelaux tem publicada, pela primeira vez no Brasil pela Comix Zone, sua obra-prima, “A Mão Verde e Outras Histórias”, lançada em 1970 na importantíssima revista francesa Metal Hurlant.

O quadrinho antológico apresenta histórias surreais, insólitas e brilhantemente metafóricas, repletas de criaturas em busca de autoconhecimento, corvos falantes e madrastas más, tudo isso envolto por um traço marcante e cores vibrantes, em narrativas que apavoram, encantam e promovem a reflexão dos leitores.

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4. “Era outra vez – O lado sombrio dos contos de fadas”, de Carlos Trillo e Alberto Breccia

Era outra vez - O lado sombrio dos contos de fadas, de Carlos Trillo e Alberto Breccia

Trillo e Breccia são conhecidos pela excelência de suas obras que denunciam, muitas vezes, as hostilidades de determinados períodos históricos da Argentina, sobretudo o da ditadura militar, e, neste quadrinho, traduzido por Jana Bianchi, não seria diferente.

Aqui, os leitores reencontram Branca de Neve, Cinderela, João e Maria, Chapeuzinho Vermelho e A Bela Adormecida em versões diferentes das açucaradas histórias contadas pela Disney; os personagens passam a ser atormentados pelos anos de chumbo e envoltos pelas origens sombrias dos contos de fadas, que, no fim das contas, em suas violências, conversam muito com o mundo contemporâneo.

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A arte do quadrinho é feita com a junção de pinturas e colagens, acrescentando textura à arte dos autores. Para quem é fã de Mariana Enriquez e se interessa por leituras de terror por um ponto de vista social, “Era outra vez” é uma excelente (e importante) pedida, também publicada pela editora Comix Zone.

5. “Mooncakes”, de Suzanne Walker e Wendy Xu

Mooncakes, de Suzanne Walker e Wendy Xu

 

A doce história “Mooncakes” (traduzida por Aline Zouvi) finalmente chega em terras brasileiras pela DarkSide Books, e conta a história de Nova Huang, uma bruxinha que tem deficiência auditiva e está em treinamento na casa do casal de avós, também bruxas e donas de uma loja de livros antigos.

Tudo muda na vida das três quando os moradores da cidade passam a avistar um lobo imenso na floresta dos arredores e ficam apavorados. Nova, então, decide procurá-lo por conta própria, e descobre se tratar de sue amigue de infância, el lobisomem não binárie (e paixão de Nova) Tam Lang, que voltara à cidade para acertar as contas com o seu passado e tentar desvendar um mistério envolvendo um demônio de outra dimensão.

Trecho do quadrinho "Mooncakes"

De narrativa doce e aconchegante, “Mooncakes” é um abraço quentinho em um dia frio e uma história muito propícia para o Halloween (inclusive, ela se passa perto da data).

A doçura dos bolinhos em formato de lua, de origem chinesa, assim como a família de Nova, permeia uma história com muita representatividade asiática (a assinatura das belíssimas ilustrações também fica por conta da ilustradora chinesa Wendy Xu, co-criadora do quadrinho com Suzanne), feminina e LGBTQIA+ sobre autodescobertas e o poder do amor e da amizade.

6. “Satânia”, de Fabien Vehlmann e Kerascoët

Satânia, de Fabien Vehlmann e Kerascoët

Quem já conhece “Aurora nas Sombras”, quadrinho de terror publicado pela DarkSide em 2019, se encantará pela história de “Satânia”, também roteirizado e lindamente ilustrado por Fabien Vehlmann e Kerascöet (com tradução de Maria Clara Carneiro) e publicado pela editora neste mês.

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Charlotte, mais conhecida como Charlie, decide juntar um grupo de expedidores e liderar uma viagem ao centro da Terra para encontrar o irmão, Christopher, há muito desaparecido após partir em busca da verdadeira origem do Inferno, a fim de provar a sua teoria de que o local realmente existia e os demônios, na verdade, eram apenas pessoas que seguiram a teoria da evolução de Darwin, longe das sociedades da superfície. Quanto mais Charlie e seus parceiros se aprofundam em cavernas e lugares inóspitos, mais o cenário fica estranho e coisas horripilantes vão surgindo em seu caminho.

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“Satânia”, assim como “Aurora nas Sombras”, é uma obra que conversa muito com a Jornada da Heroína, da autora Maureen Murdock, em que as narrativas de personagens femininas precisam passar por diversas etapas psicológicas para que elas se tornem aquilo que realmente são.

Charlie é uma personagem forte, com perfil de liderança e muito verossímil, que precisa enfrentar seus demônios — internos e externos — para resgatar o único membro de sua família que ainda se importava com ela. O quadrinho é uma excelente jornada psicológica sobre amadurecimento em meio às cores e formas surreais da dupla Kerascöet.

7. “O Fantasma de Anya”, de Vera Brosgol

O Fantasma de Anya, de Vera Brosgol

Anya é uma adolescente e imigrante russa que se muda com a mãe e o irmão mais novo para os Estados Unidos, local totalmente diferente de suas origens. Deslocada e com apenas uma amiga na escola, Anya tenta a qualquer custo apagar os traços do seu país natal dos seus comportamentos, histórias e até mesmo do sotaque, em uma fase da vida em que as crises de identidade são muito reais e desencadeiam problemas diversos.

Tendo de se equilibrar entre o medo do bullying, da falta de aceitação e de pertencimento, os amores não correspondidos e a montanha de notas baixas na escola, Anya tenta fugir de tudo isto e, certo dia, acaba caindo em um buraco no meio da floresta, descobre uma ossada humana e, no mesmo local, o fantasma de uma garota, Emily, que ali vivia há anos. A fantasminha acompanha Anya até em casa e as duas se tornam muito amigas, e Emily passa a influenciar diretamente a vida e os comportamentos da garota.

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“O Fantasma de Anya” é uma história incrível sobre o terror que é crescer e amadurecer em um lugar novo e, por vezes, hostil.

8. “Até aqui tudo ia bem”, de Ersin Karabulut

Até aqui tudo ia bem, de Ersin Karabulut

A Comix Zone já havia trazido em 2021 a magnífica obra de estreia no Brasil do autor turco Ersin Karabulut, intitulada “Contos Ordinários de uma Sociedade Resignada” (com tradução de Fernando Paz e Érico Veríssimo) e, em 2022, “Até aqui tudo ia bem” (também com tradução de Fernando Paz) chegou para colocar ainda mais o dedo na ferida do horror evocado pelos diversos problemas políticos e sociais enfrentados nos dias de hoje.

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Assim como em “Contos Ordinários de uma Sociedade Resignada”, quadrinho antológico que apresenta quinze microcontos aterradores que narram aspectos sociais envoltos por acontecimentos absurdos e que escalam rápido para desfechos indigestos, “Até aqui tudo ia bem” apresenta diversos problemas que, mesmo envoltos pelo insólito kafkiano, ou pelo terror de Edgar Allan Poe, espelham muitos aspectos que infelizmente já vivemos atualmente.

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Sendo lido como uma continuação do primeiro quadrinho, “Até aqui tudo ia bem” também é onírico, poético, perturbador e triste, pois carrega um pessimismo aterrador muito concreto. Os dois quadrinhos são ideais para quem gosta de histórias estranhas e, de quebra, críticas sociais extremamente pertinentes ao nosso contexto atual.

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E você? O que vai ler nesse Halloween? Nos conte nos comentários as suas dicas de quadrinhos horripilantes. Feliz Halloween!

Lista desenvolvida com curadoria das redatoras Laís Fernandes e Isabelle Simões.

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