Helô D’Angelo fala sobre “Boy Dodói: Histórias ilustradas sobre masculinidade tóxica”

Helô D’Angelo fala sobre “Boy Dodói: Histórias ilustradas sobre masculinidade tóxica”

Helô D’Angelo é uma cartunista e ilustradora paulistana. Jornalista de formação, encontrou nos quadrinhos a linguagem ideal para expressar-se e abordar pautas como os direitos das mulheres e das comunidades LGBTQIA+.

Atualmente, Helô é uma das editoras do projeto Boy Dodói: Histórias ilustradas sobre masculinidade tóxica, em financiamento pelo Catarse. Para colocar o projeto em prática, as editoras abriram uma chamada nas redes sociais para que as pessoas compartilhassem suas experiências com homens cis dodóis do patriarcado.

Financiamento coletivo de “Boy Dodói”

Boy Dodói: histórias ilustradas sobre masculinidade tóxica

Foram recebidas mais de 300 narrativas, conforme a descrição no Catarse, contendo “relatos doloridos, absurdos ou tragicômicos“. A equipe selecionou 11 histórias que serão narradas e ilustradas por 11 ilustradoras de diversas partes do Brasil. Algumas narrativas não incluídas no livro estão sendo publicadas no Instagram, com a gentil permissão da Helô.

A campanha encerra em dia 06/08/2023 e você pode apoiá-la através do link >> Boy Dodói – o livro

Todas as contribuições receberão recompensas, como a versão em PDF do livro, a versão impressa, ecobags, canecas, camisetas, etc.

Na entrevista a seguir, Helô fala sobre sua carreira e, claro, sobre o projeto que inspirou este post.

A jornada de Helô D’Angelo nos quadrinhos

Delirium Nerd: Fale um pouco sobre sua relação com os quadrinhos na infância e adolescência e como surgiu a necessidade de desenhar e narrar histórias sobre mulheres, especialmente da perspectiva de resistência contra o machismo e em favor da vida e dignidade das mulheres e das comunidades LGBTQIA+.

Helô: Sempre adorei quadrinhos, especialmente tirinhas de jornal, como Laerte e Turma da Mônica. Queria trabalhar nesse meio, então criei minhas próprias tirinhas e quadrinhos, aprendendo assim.

Na faculdade, integrei a Frente Feminista e compreendi melhor o feminismo e minha conexão com o tema. Isso inspirou meus quadrinhos, pois gosto de abordar minhas experiências e aprendizados.

Trecho de "Boy Dodói: Histórias ilustradas sobre masculinidade tóxica"

Suas influências

DN: Seu trabalho de conclusão na Faculdade de Jornalismo foi a HQ “Quatro Marias”, uma reportagem sobre histórias de abortos clandestinos. Você se inspira em autores/cartunistas do new journalism, como Marjane Satrapi, Art Spiegelman e Joe Sacco? Fale sobre suas influências.

Helô: Sim, sou leitora e admiro muito esses autores, eles foram minhas grandes influências quando comecei o jornalismo em quadrinhos na faculdade. Não tinha interesse em ser repórter, mas ao descobrir o jornalismo em quadrinhos, percebi que era um nicho promissor e comecei a pesquisar mais sobre o assunto.

O primeiro quadrinho que me encantou foi Persépolis, mesmo não sendo uma reportagem, mas uma obra autobiográfica. Isso me motivou a pensar que eu poderia fazer algo semelhante.

Depois, li Maus, Notas sobre Gaza e outros quadrinhos no mesmo estilo. Descobri talentosos artistas brasileiros como Alexandre de Maio, Carolina Ito e Pablito Aguiar, que me inspiraram muito. O Brasil possui uma comunidade incrível nessa área, e o apoio e troca de ideias com essas pessoas também têm sido estimulantes e enriquecedores.

Trecho de "Boy Dodói: Histórias ilustradas sobre masculinidade tóxica"

Uma tirinha incomoda muita gente

DN: Suas tirinhas já foram derrubadas no Instagram? Pode nos contar essa história?

Helô: Sim, aconteceu várias vezes; é comum. Uma vez, fiz uma tirinha sobre feminismo, a fada do feminismo. Ela questionava a necessidade do movimento feminista e mostrava situações sem lutas das mulheres.

Essa tirinha foi derrubada, mas acabou beneficiando-me. Ao repostá-la e explicar o ocorrido, ganhei muitos seguidores. A tirinha viralizou, o tiro saiu pela culatra. Infelizmente, é comum ter problemas assim. Algumas palavras ativam o bloqueio do Instagram, e pessoas denunciam sem entender. Acontece demais.

Boy Dodói: Histórias ilustradas sobre masculinidade tóxica

DN: Fale um pouco sobre o projeto Boy Dodói. Como surgiu a ideia do livro e por que convidar 11 ilustradoras para participarem?

Helô: A ideia nasceu de conversas com a Bebel Abreu, uma das editoras – somos três, eu, a Carol Ito e a Bebel Abreu. Discutíamos nossas experiências com homens cis, que muitas vezes se mostram tóxicos, irresponsáveis emocionalmente, entre outros problemas. Conforme compartilhávamos nossas histórias, percebemos o potencial de transformá-las em um livro.

Cansadas de apenas comentar entre nós mesmas, optamos por uma coletânea. Queríamos apresentar perspectivas diversas, já que nós três somos mulheres brancas ou percebidas como brancas. A Carol, apesar de ter ascendência japonesa, frequentemente é lida como branca. Moramos em São Paulo, região considerada central.

Enfim, temos uma série de privilégios, então quisemos trazer outras artistas, incluindo uma pessoa não binária, de diferentes regiões do Brasil, como Pará e Recife, representando diversas sexualidades.

O ponto em comum é que todas tiveram relacionamentos com homens cis, possibilitando esse ponto de vista. Abrimos para histórias online e recebemos mais de trezentas narrativas anônimas, contando experiências absurdas. Foi um projeto que surgiu de muito cansaço.

Trecho de "Boy Dodói: Histórias ilustradas sobre masculinidade tóxica"

DN – O que você está lendo atualmente?

Helô: Atualmente, estou lendo o quadrinho Brega Story, do Gidalti, publicado pelo ProAC. É incrível e já queria ler há muito tempo. Um quadrinho lindo que vale muito a pena, assim como todo o trabalho do Gidalti.

Além disso, estou lendo Dragon Hoops, do autor sino-americano Gene Luen Yang, conhecido por seu quadrinho famoso O chinês americano. Dragon Hoops é sobre basquete, acabei de começar, mas parece muito bom.

Para seguir as – incríveis – cartunistas responsáveis pelo projeto Boy Dodói:

Colagem em destaque: Isabelle Simões para o Delirium Nerd.

Escrito por:

2 Textos

Gaúcha de Porto Alegre radicada em Curitiba. Sou professora de Filosofia e doutoranda em Teoria Literária pela UFPR. Gosto de cultura greco-romana e cultura pop. Tenho dois gatos e tento não matar minhas plantas. Vou até onde as pernas aguentam de bicicleta.
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