O Urso (The Bear) precisou desacelerar para encontrar o fôlego necessário para continuar. Nossos personagens queridos retornaram e tiveram, assim como o restaurante, uma ótima reforma. Cada um ganhou um arco individual feito com cuidado, e até mesmo Mike (Jon Bernthal) conseguiu nos surpreender mais uma vez.
“Propósito” é a palavra que guia essa nova temporada. Ela conduz o roteiro, sempre buscando dar valor a cada detalhe da narrativa, e também guia os personagens, impelindo-os a encontrar razões para continuar.
Entrada
Para aqueles que se acostumaram com o frenesi da primeira temporada, o ritmo mais lento dos acontecimentos nessa nova fase pode parecer estranho. No entanto, isso demonstra respeito pelo próprio roteiro. Os personagens se desenvolvem individualmente, contribuindo para um elenco mais seguro e envolvente. Até mesmo um episódio natalino foi incluído!
Assim, o ritmo e a montagem permanecem como pontos positivos na nova temporada, surpreendendo-nos novamente. No último episódio, o ritmo alucinante e apaixonante que nos impressionou na temporada inicial retorna. Os ingredientes preparados ao longo da temporada formam um verdadeiro banquete.
Curiosamente, os episódios levam nomes de pratos que são preparados: “peixes”, “omelete”, entre outros. A própria série mostra consciência de sua construção. O processo de narração é metaforizado através do ato de cozinhar.
Tina (Liza Colón-Zayas) e Ebraheim (Edwin Lee Gibson) aparecem menos, mas a produção da série, ciente disso, faz com que eles tenham consciência de seus papéis na trama (na série e na existência do restaurante). Dessa forma, muitos traumas são explorados na tela, mas há também muito amor e cuidado.
A qualidade da série reflete a qualidade do conteúdo. Aquilo que está profundamente inserido na obra se revela aos poucos, mas desde o princípio já nos cativa. Dentro da história e sobre a própria criação dela, há uma frase muito importante da temporada: “Cada segundo conta”. E de fato, cada segundo de cada cena tem seu valor. Cada personagem tem sua relevância, pois cada história é, afinal, importante.
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Prato principal
Os personagens, como mencionado anteriormente, passaram por ótimos desenvolvimentos. Entre eles, Carmy (Jeremy Allen White) e Sidney (Ayo Edebiri), os chefs, são as cerejas do bolo! Nesse momento, Carmy tenta se abrir, o que exige tanto dele que afeta suas outras relações.
Carmine aprende a cada dia como permitir que o amor o alcance. Entra em cena Claire (Molly Gordon, de Shiva Baby), alguém que Carmy sente não merecer. Claire é uma pessoa boa que parece não se encaixar com a confusão dos jantares em família de Carmy ou suas constantes crises.
E há também Sidney. A verdade é que a história dos dois não seria a mesma sem o outro. Um dos pontos altos da temporada é a amizade entre Carmen e Sidney.
Carmy e Sidney em The Bear: uma amizade que transforma a narrativa
Inicialmente, baseada na admiração profissional, a relação deles se desenvolve e se transforma em uma bela amizade. Essa relação nos leva a refletir sobre o papel da amizade, especialmente entre homens e mulheres, considerando como um romance jamais poderia ser um substituto adequado.
A confiança construída é delicada, e percebe-se o quanto Carmy precisa de Sidney, talvez mais do que ela precisa dele. Os dois se complementam. E com um gesto de afago no peito, utilizando a linguagem de sinais, notamos o amor ali presente, mesmo no caos de uma cozinha.
Assim, é importante destacar que, além de Carmy, protagonista do show, boa parte do porquê The Bear é o que é deve-se a Sidney! Ela é uma personagem apaixonante, para dizer o mínimo. Sua atriz é a incrível Ayo Edebiri, que tem se destacado em diversas produções, além de O Urso, como Abbott Elementary” e o filme Bottoms (sem previsão de estreia no Brasil).
Embora seja uma mulher negra cujo trabalho envolve o cuidado e o serviço, Sidney não fica restrita a um estereótipo. No mundo de seus sonhos, há sobremesas coloridas, bifes servidos com Coca-Cola, aventais bordados e um pai orgulhoso.
É com essas ideias que Sydney conquista Carmy e, ao mesmo tempo, nos conquista também, demonstrando sua determinação e talento. A cada episódio, ela se torna maior, e ao seu redor, os outros personagens crescem, guiados por sua autenticidade.
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Sobremesa
Se outra palavra, além de “propósito”, guia essa narrativa, certamente é “servir”. Em um conto de Raymond Carver (“A Small, Good Thing”), um personagem diz:
“Comer é uma pequena boa coisa a se fazer em tempos como esse”¹
Cozinhar para o outro é cuidar. O alimento e a companhia são essenciais para nossa sobrevivência, e O Urso demonstra isso da forma mais delicada possível.
Na verdade, a própria etimologia da palavra “companhia” nos dá pistas de que onde é possível compartilhar uma boa refeição, é possível ter amigos, e onde é possível ter amigos, é possível chamar de lar. Por isso, “companheiro” vem do latim: “cum” + “pannis” — aquele com quem se divide o pão.
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Mas a fome não é a única fragilidade abordada na série, assim como a comida não é o único nutriente necessário. A vulnerabilidade dos personagens opera em harmonia com a montagem lenta e atenciosa: um homem negro que cuida da mãe viaja para a Dinamarca para aprender a fazer doces que exigem paciência e cuidado; um pai divorciado à beira de um ataque de nervos precisa aprender a servir as pessoas (e até a cantar músicas da Taylor Swift para agradar a filha!).
O impacto emocional da segunda temporada de O Urso
Se The Bear já parecia uma obra exemplar com a montagem da primeira temporada, a segunda temporada chega para confirmar que é uma das melhores séries da atualidade. Se já foi desafiador narrar uma história tão cruel e visceral, é ainda mais complexo acalmar as emoções e retratar aspectos da tristeza letárgica, das pequenas conquistas e das saudades do cotidiano. Além disso, a segunda temporada traz participações de renomados atores e apresenta atuações poderosas de talentos recém-descobertos.
A primeira temporada de The Bear já se destacava como uma obra exemplar devido à sua montagem cuidadosa. Agora, a segunda temporada chega para afirmar que a série é uma das melhores produções atuais.
Se narrar uma história tão cruel e visceral foi um desafio na primeira temporada, equilibrar as emoções e abordar os aspectos da tristeza letárgica, das pequenas conquistas e das saudades do cotidiano torna-se ainda mais complexo. Além disso, a nova temporada traz breves participações de renomados atores e apresenta atuações marcantes de intérpretes recém-descobertos.
Por fim, o que pode parecer inatingível se desenrola diante de nossos olhos: a segunda temporada de O Urso se firma como igualmente extraordinária. E por que não dizer que talvez seja até melhor? Ela nos proporciona uma sensação de calor no coração, um saboroso desejo e uma saudade agradável, daquelas que anseiam por uma continuação.
¹Tradução nossa
