Uma das séries originais da Netflix que tem se destacado nos últimos anos é Warrior Nun. Baseada em uma série de HQ’s em estilo mangá do autor norte americano Ben Dunn, a série conta a história de Ava Silva (Alba Batista), uma órfã tetraplégica que acaba se juntando a uma ordem secreta de freiras guerreiras após ressuscitar dos mortos.
Aviso: o texto contém spoilers da 1ª e 2ª temporada de Warrior Nun
A origem de Warrior Nun nos quadrinhos
O seriado é baseado nos quadrinhos Warrior Nun Areala, publicado pelo artista Ben Dunn em 1994, tendo sua primeira série com três volumes Warrior Nun Vol.1 e, posteriormente, uma série sequência bimestral de seis volumes, todos publicados de meados dos anos 90 a início dos anos 2000. Mesmo a ideia original sendo de Ben, outros autores foram convidados para criarem spin-offs ou focar em outras personagens da série.
Em 2000, Dunn teve que vender os direitos autorais de Warrior Nun para poder pagar o tratamento médico de sua esposa. Quem comprou foi a Perfect Circle Productions, que mais tarde vendeu os direitos para a Netflix. Mesmo abrindo mão de seus direitos autorais sobre sua criação, Ben disse estar feliz por ver a série ser adaptada para a TV e por ter seu nome nos créditos.

Diferenças entre a HQ e a série da Netflix
A adaptação da Netflix tomou um rumo bem diferente do material original. Nas HQ’s, a história foca na Irmã Guerreira Shannon Masters, que é o avatar de Areala, uma valquíria que se converteu ao catolicismo no ano de 1066 e fundou a Ordem da Espada Cruciforme. Para continuar com seu trabalho, encarna em uma nova Irmã Guerreira a cada geração.
Já na série, o plot sofreu uma grande mudança: a Ordem da Espada Cruciforme existe e é uma seita secreta de freiras guerreiras do Vaticano, que combatem demônios vindo do outro mundo.
A ordem foi fundada por Areala (Guiomar Alonso), uma freira que lutou durante as cruzadas até se deparar com o Anjo Adriel (William Miller), que fugia de alguns demônios. O anjo entrega seu halo a Areala, que lhe dá super poderes, se tornando a primeira Irmã Guerreira e fundadora da ordem.
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No presente, a Irmã Guerreira Shannon é morta em uma emboscada dentro de uma igreja. Como manda a tradição, o halo tem ser passado para a próxima irmã na linha de sucessão, no caso, a Irmã Lilith (Lorena Andrea). Porém, a freira e as demais irmãs estavam ocupadas enfrentando demônios conhecidos como tarascas, então o halo acaba sendo implantado em Ava, cujo corpo morto estava sendo velado na sacristia do local.

Uma produção e elencos curiosos
Warrior Nun é uma série que possui uma grande variedade de pessoas de vários países em sua produção. A série é de origem norte-americana, porém seu diretor e roteirista é o canadense Simon Barry. As cenas são gravadas na Europa, principalmente na Espanha, em cidades como Madri e Toledo e algumas cenas da segunda temporada foram feitas nos Alpes Suíços.
Seu elenco também possui atores de países diferentes. A própria atriz principal, Alba Batista, é de luso-brasileira, filha de mãe portuguesa e pai brasileiro. Warrior Nun é seu primeiro grande papel internacional, mas Alba vem de uma sólida carreira de atriz em Portugal, onde atua desde adolescente em novelas e filmes.

Outra origem curiosa é da atriz Kristina Tonteri-Young, que também possui dupla nacionalidade: finlandesa e neozelandesa, mas que tem se mudado de país desde sua infância, morando em Nova York, depois estudando o ballet bolshoi na Rússia para posteriormente viver em Londres, onde se formou em teatro. Com apenas atuações em peças de ballet e teatro, Warrior Nun é seu primeiro grande papel: Kristina dá vida a badass Irmã Beatrice, uma das personagens mais queridas pelos fãs.
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Outros personagens da série são a Irmã Camila, vivida pela atriz espanhola Olivia Delcán, que também já atuou em outra série da Netflix, Vis a Vis; a rígida Madre Superiora Suzanne, cuja atriz é a italiana Sylvia De Fanti e o Padre Vicent, vivido pelo ator espanhol Tristán Ulloa. Citada anteriormente, a atriz Lorena Andrea é britânica, bem como o ator Peter de Jersey, que faz o personagem Kristian Schafer.
O ator português Joaquim de Almeida é o Cardeal Duretti e a atriz alemã Thekla Reuten é a Dra. Jillian Salvius, também personagens recorrentes da série. Para fechar o roll de personagens mais marcantes, a atriz norte-americana Toya Turner dá vida a Irmã Mary, também conhecida como Shotgun Mary, outra personagem forte no enredo que também veio da HQ, só que com origem modificada para a série.
Jillian Salvius e seu assistente Kristian Schafer, bem como o Cardeal Duretti também são personagens inspirados na HQ, mas que tiveram seus gêneros e personalidades modificados.
A primeira temporada de Warrior Nun
Warrior Nun estreou em 2 de julho de 2020 na Netflix. Já na primeira semana de exibição, a série ficou no Top 10 mundial e no Brasil Warrior Nun ficou em quarto lugar em seu Top 10 por vários dias.
Com dez episódios, a primeira temporada nos apresenta Ava Silva, uma garota de 19 anos que desde os sete vive em um orfanato católico, administrado por freiras. Tetraplégica desde o acidente de carro que também matou sua mãe, Ava passou todos os seus dias presa numa cama, tendo apenas a companhia de outros órfãos com saúde debilitada, atormentada por freiras rígidas. Muito doente e fraca, Ava acaba falecendo após fazer aniversário.
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Após uma série de batalhas envolvendo mercenários da Arch-Tech e tarascas, a Irmã Guerreira Shannon (Melina Matthews) é morta em combate e o halo acaba sendo escondido no corpo falecido de Ava. O que ninguém contava é que o halo é tão poderoso que é capaz de ressuscitar os mortos: Ava acorda, com todos os movimentos de seu corpo.
Confusa, a garota foge da igreja e também descobre que possui alguns poderes, como atravessar objetos sólidos e soltar uma forte onda de energia que despedaça até pedras. Ava não entende nada do que está acontecendo, mas só tem uma certeza: quer aproveitar ao máximo essa nova vida que ganhou do nada.

Uma heroína diferente
Parte do que faz Warrior Nun ser uma ótima série é complexidade moral que guia sua protagonista. Ava era uma órfã que não tinha absolutamente nada, sequer podia se movimentar. Passou toda a vida privada de tudo e ainda era maltratada por uma das freiras do orfanato.
Por mero acaso, acaba ganhando uma nova vida, onde finalmente pode andar, correr e explorar o mundo como sempre sonhou. Ela ainda conhece JC (Emílio Sakraya), um mochileiro que viaja pela Europa com seus amigos e é o interesse amoroso de Ava na primeira temporada.

Mas, infelizmente, as coisas não são tão simples assim: carregar o halo significa suportar o fardo se ser uma Irmã Guerreira e liderar a OCE na luta contra demônios vindo do outro mundo. Como alguém que não teve nada a vida toda e quando finalmente consegue poder tem que ser obrigada a assumir uma luta que não é sua?
O conflito interno de Ava é o que dá liga a todo enredo. Compreendemos sua vontade de viver e de experimentar todos os prazeres do mundo que lhe foram negados. E mesmo com uma nova chance de viver, descobre que não está exatamente livre, mas com uma responsabilidade que jamais imaginou receber e que caí do nada em seu colo. Não dá para dizer que a garota é uma mera egoísta em não querer se juntar a uma ordem de freiras guerreiras, cuja taxa de mortalidade é altíssima e ainda por cima é um trabalho com zero reconhecimento.
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Ainda assim, mesmo que enfrente resistência na OCE, como a da Madre Superiora, a Irmã Lilith e o Cardeal Duretti, Ava encontra companheirismo e irmandade na ordem, como no Padre Vicent, Shotgun Mary, Irmã Camila e na Irmã Beatrice, principalmente com esta última, no qual Ava se aproxima bastante no final da primeira temporada.

A segunda temporada de Warrior Nun
Após dois anos de estreia e parte do atraso devido a pandemia, a segunda temporada estreou em 10 de novembro deste ano, 2022, agora com oito episódios. Porém, tivemos um salto gigantesco aqui: não só na qualidade das atuações, como na ambientação, efeitos especiais, coreografia das lutas, mas também um grande salto no enredo.

No final da primeira temporada, Ava e a OCE acabam libertando sem querer uma ameaça que estava presa nas catacumpas do Vaticano. Com metade da humanidade se convertendo a um falso e perigoso messias e a OCE perdendo boa parte de suas combatentes, Ava e Beatrice treinam escondidas na Suíça, enquanto aguardam instruções da Madre Superiora e Irmã Camila.
Nesta temporada, a atriz Toya Turner não retorna como Mary, uma pena, porém, temos dois personagens novos: a Irmã Yasmine (Meena Rayann), que pertence a uma outra ordem secreta, que possui um segredo que pode ajudar a Irmã Guerreira e o misterioso Miguel (Jack Mullarkey), um rapaz que também está na Suíça e parece estar ligado ao passado de Ava e com a missão de derrotar Adriel. Também temos Richard Clothier como Cardeal Foster, que auxilia o agora Papa Duretti.
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Na metade da temporada passada, Jillian Salvius e a Arch-Tech acabou virando aliada de Ava e da OCE e agora com Adriel tendo o apoio de Schafer com metade da empresa, a Dra. Salvius volta a ajudar Ava, agora para tentar descobrir o paradeiro de seu filho. A OCE terá também que confiar no Papa, uma vez que toda a cúpula da igreja parece estar sendo corrompida rapidamente pelos Primogênitos.
Se Ava deseja viver livremente com sua melhor amiga Beatrice, precisa dar um jeito de parar Adriel, mas vai descobrir que por trás do anjo maligno, há uma trama maior ainda, envolvendo seres e poderes que jamais imaginou.

Parte do sucesso dessa temporada se deve a excelente interação do elenco, que já na primeira temporada funcionou muito bem. Essa relação entre elenco e a produção de diversos países evoluiu consideravelmente, refletindo na qualidade da série: até o momento em que esse texto foi escrito, a 2ª temporada de Warrior Nun está com 100% de aprovação da crítica especializada e 99% de aprovação de público no Rotten Tomatoes! Ainda não há confirmação de uma 3ª temporada pela Netflix, mas é uma questão de tempo.
Curiosidades da série
- Na primeira temporada, há uma atriz trans, a May Simón Lifschit, que faz uma das amigas de JC e dá dicas de moda para Ava.

- Todo nome de um episódio é um versículo da bíblia, que sincretiza o conflito de cada episódio;
- Warrior Nun tem apostado na diversidade e representatividade: além de Lifschit no elenco de apoio, alguns personagens são LGBTQ+: a própria Ava é bissexual, enquanto a Irmã Beatrice é lésbica. A personagem também menciona sobre uma Irmã Guerreira, na época da 2ª Guerra Mundial, que também era lésbica.
- Se no final da primeira temporada, Ava e Beatrice se aproximaram, na segunda o relacionamento das duas evolui bastante, um dos maiores destaques da temporada e um deleite para quem ama shippar casais!
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- As atrizes que interpretaram as freiras guerreiras viraram amigas na vida real. Em suas redes sociais, é possível ver cada uma postando fotos com elenco em momentos de descontração nos bastidores, todo mundo parecendo se divertir bastante.
Conclusão
Warrior Nun é uma daquelas produções que surgiu sem prometer nada e acabou entregando tudo. A evolução de qualidade da primeira temporada para a segunda é muito nítida. A produção soube muito bem aproveitar o tempo e os recursos da plataforma para melhorar grande parte dos aspectos.
Não é apenas uma série no bom e velho estilo “tiro, porrada e bomba” ou sobre mulheres empoderadas, apenas sobre personagens que se encontram e se fortalecem na irmandade. E embora tenha o fundo sobre a igreja católica, Warrior Nun não gira em torno da fé, mas sim na força e no companheirismo de mulheres que lutam não por um bem comum ou pelo bem da igreja, mas pela humanidade e por uma pelas outras.
Você ainda precisa de mais motivos para ver Warrior Nun?