Certos períodos e aspectos da história refletem diretamente no comportamento da sociedade em relação às mulheres. Desde o início dos tempos, as jornadas femininas ora foram cultuadas, sendo as mulheres o centro das mais variadas ações e protagonistas em seus grupos, ora tornaram-se alvo da violência patriarcal que tanto as machuca até hoje.
Voltar ao passado é importante para se manter a memória ancestral viva e para que os erros cometidos sejam evitados no presente e no futuro. Nos livros Quando Deus era Mulher, História da Bruxaria e Mulheres, Mitos e Deusas, obras indispensáveis da Editora Goya, partimos do culto à Grande Deusa e o apagamento das divindades femininas até a onda feminista, que busca resgatar os símbolos e a essência ancestral transgressora e poderosa das mulheres.
O culto à Grande Deusa e o declínio das sociedades matrilineares em “Quando Deus era Mulher”
Merlin Stone, autora de Quando Deus era Mulher (traduzido por Angela Lobo de Andrade), após investigar por anos as ruínas das sociedades primitivas, apresenta nesta obra uma visão pouco difundida das formas de culto e do papel das mulheres na Antiguidade: na aurora dos tempos, Deus era mulher.
A Grande Deusa era cultuada por homens e mulheres, sem distinção, sendo estas últimas suas sacerdotisas e que, para além dos aspectos religiosos da sociedade, eram figuras centrais nas dinâmicas entre os grupos ao assumirem papéis de guerreiras, comerciantes e grandes líderes de suas comunidades.
“A divindade feminina, reverenciada como guerreira ou caçadora, combatente corajosa ou ágil artilheira, às vezes era descrita como possuidora dos ‘mais curiosos atributos masculinos’, com a implicação de que Sua força e Seu valor faziam Dela algo como uma aberração, uma anormalidade psicológica.” (pág. 22)
Metamorfoseada na pele de deusas como Astarte, Ísis, Diana e Hécate, a Deusa sobreviveu por um longo período na história — até que a interferência e a perseguição de grupos dominados por homens fez com que toda a sua glória ruísse.
Templos e estátuas podem até ter sido derrubados e reerguidos em nome de deuses masculinos, no entanto, a essência da Grande Deusa perdura até os dias de hoje e cada vez mais é resgatada e colocada sob a luz que outrora ela própria emanava.
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No documentário Goddess Remembered, dirigido por Donna Read em 1989, Stone aparece ao lado de outras especialistas no assunto, como Starhawk, escritora, bruxa e ecofeminista, para relembrar pontos fundamentais dos períodos em que a Grande Deusa era peça fundamental na religião e nas demais trocas culturais entre as pessoas.
Você pode assisti-lo no link abaixo:
Nunca mais queimaremos nas fogueiras: “História da Bruxaria” e a importância de se compreender a bruxaria e a feitiçaria como elementos históricos e religiosos
Nesta versão revisada e ampliada de História da Bruxaria (tradução de Álvaro Cabral e William Lagos), Jeffrey B. Russell e Brooks Alexander esmiúçam os diversos elementos relacionados à feitiçaria e à bruxaria, e os aspectos que partem de ambas e refletem diretamente na violência patriarcal que assassinou milhares de mulheres ao longo dos séculos.
Os autores, logo de início, promovem a reflexão sobre o que é, de fato, ser uma bruxa: longe de serem criaturas pintadas pelo imaginário coletivo com chapéus pontudos, narizes avantajados e pele esverdeada, como a Bruxa Má do Oeste do filme O Mágico de Oz (1939) — algo que reforça um estereótipo extremamente problemático —, uma bruxa pode ter as mais diversas feições e, não necessariamente, estar atrelada ao oculto.
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Uma bruxa pode, sim, se conectar com espíritos e demônios, como também pode, apenas em comunhão com a natureza, prezar pelo próprio bem-estar e o de seus pares; cada bruxa é consciente de que seus atos, para o bem ou para mal, terão consequências — e há também os casos em que mulheres foram julgadas bruxas sem terem sequer contato com estes aspectos.
Neste sentido, Russell e Alexander retornam à raiz da caça às bruxas a partir do período Renascentista, passando pela Idade Média e, em 1484, abordam o surgimento do Martelo das Feiticeiras, manual cruel criado pelos inquisidores Heinrich Kramer e James Sprenger com o intuito de incriminar homens e mulheres suspeitos de bruxaria por meio de métodos de tortura.
Os autores também comentam acerca dos fatídicos tribunais nas colônias inglesas da América do Norte, sobretudo o mais famoso deles, os julgamentos de Salém, a fim de dar voz às pessoas perseguidas pela cegueira do delírio coletivo e fanatismo religioso da época.
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Outra preocupação dos autores é a de desmistificar termos relacionados às bruxas e feiticeiras, a começar pela diferença entre “feitiçaria” e “bruxaria”. Sobre isto, eles pontuam:
“‘Feitiçaria’ é a magia das trevas (ou baixa magia) praticada em todo o mundo, quer seja benéfica ou maléfica, quer seja mecânica ou envolve a invocação de espíritos. ‘Bruxaria’ significa tanto a chamada bruxaria diabólica da caça às bruxas quanto a moderna bruxaria neopagã.” (pág. 21)
Ademais, Alexander e Russell também investigam o surgimento da bruxaria europeia e o seu resgate na modernidade por um viés neopagão, por meio de nomes conhecidos como Gerald Gardner, Aleister Crowley, Doreen Valiente, Z Budapeste e a própria Starhawk.
Há espaço no livro, ainda, para a reflexão acerca do impacto da bruxaria na mídia: um dos filmes citados como importantes para o reconhecimento da religião, sobretudo a Wicca, e responsável por alimentar a curiosidade do público acerca do culto às bruxas é o clássico Jovens Bruxas (1996).
A série Charmed (1998-2006) e Sabrina, Aprendiz de Feiticeira (1996-2003) também são citadas como exemplos de obras do audiovisual que aguçam até hoje o imaginário das pessoas sobre o fantástico mundo da bruxaria, outrora palco de preconceitos e perseguições.
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Como sugestão complementar à leitura, deixamos o documentário A Bruxa de Kings Cross (2020), disponível no Prime Video, obra que conta a história da artista e bruxa neozelandesa Rosaleen Norton (1917-1979) que, na década de 1950, revolucionou a sociedade conservadora australiana com sua crença no deus Pã, seus desenhos pagãos, práticas de bruxaria e por ser abertamente bissexual.
Transgressora e criativa desde a infância, Rosaleen foi uma das personagens históricas mais importantes de sua época e liga-se ao que é apresentado em História da Bruxaria por sintetizar o que bruxas são de verdade: mulheres destemidas e livres para serem quem almejam ser.
Mulheres, Mitos e Deusas: um panorama importante acerca das mais variadas mulheres históricas
Martha Robles, em Mulheres, Mitos e Deusas, une os temas de Quando Deus era Mulher e História da Bruxaria ao apresentar diversos perfis de mulheres importantes para a história mundial, partindo de deusas e criaturas responsáveis por diversos aspectos da criação do mundo, como Nix, Lilith e as Moiras, passando por fadas conhecidas no imaginário popular e na literatura de cavalaria, como a famosa Dama de Shalott e a Dama do Lago, até chegar em nossos tempos e nas mulheres que marcaram época, como a escritora Virginia Woolf e a filósofa Simone de Beauvoir.
Robles encontra entre cada uma delas um fio condutor para promover a reflexão sobre o papel das mulheres no mundo e as dificuldades que as acompanham desde o nascimento. Por meio dos mitos e lendas, a autora busca explicar as nuances da personalidade de mulheres da vida real e como as histórias e os fatos muitas vezes parecem não ter começo ou fim: se tratando de vivências femininas, a mitologia consegue muito bem descrever aquilo que se sente e se vivencia até hoje:
“Mulheres e deusas, compartilhamos do mesmo destino, entrançado com a fatalidade. Não importa quando nem como um membro de nosso sexo se subleve, sonhe ou batalhe, sempre irá se deparar com o invariável desafio da subcondição de debilidade que lhe é atribuída pelos homens, quiçá porque tenha sido tão lenta e acidentada nossa própria aceitação do compromisso que sela o poder de criar, outrora atribuído somente a Deus.” (pág. 19)
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Outro ponto importante da obra de Martha é a presença de personalidades latinas pouco conhecidas do público, como María Izquierdo, primeira pintora mexicana a expor suas obras de arte nos Estados Unidos, e Sóror Juana Inés de la Cruz, poeta barroca mexicana e defensora dos direitos das mulheres.
Três obras indispensáveis para se compreender o ontem, o hoje e o amanhã
Os três livros são indispensáveis para quem busca todos os dias entender o próprio papel no mundo e, sobretudo, transformá-lo em um lugar mais justo, igualitário e amigável para que meninas cresçam e se tornem mulheres com opinião própria, capazes de erguerem outras mulheres e nunca se deixarem diminuir pelo patriarcado.
A fim de possibilitar ainda mais este debate, a Editora Goya lançou três kits para quem quer aprender mais sobre bruxaria, mitologia e a importância de se celebrar as mulheres destes e de outros tempos, agora com brindes para lá de especiais!
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