Festival de Veneza 2023: conheça as diretoras que concorrem aos principais prêmios

Festival de Veneza 2023: conheça as diretoras que concorrem aos principais prêmios

Começa nesta quarta-feira (30) a 80ª edição do Festival de Veneza, um dos mais antigos e prestigiados eventos cinematográficos da indústria. No entanto, nenhum renome isenta um festival como esse de se envolver em polêmicas devido à escolha de alguns diretores presentes na programação.

Quando a seleção foi anunciada em julho desse ano, nomes como Woody Allen, Roman Polansky e Luc Besson geraram considerável controvérsia, e com razão. Todos os três cineastas enfrentaram acusações de abuso sexual na justiça, com Polanski, inclusive, sendo condenado nos anos 70 pelo estupro de uma menina de 13 anos.

Dessa forma, um mês antes de seu início, o Festival de Veneza já se tornou objeto de debates públicos e divisão de opiniões. Entretanto, deixando as polêmicas de lado, é importante destacar a interessante mostra competitiva deste ano, especialmente devido à presença feminina, ainda que tímida, porém sólida.

Jane Campion, Laura Poitras, Mia Hansen-Løve e Shu Qi são as juradas do Festival de Veneza 2023.
Jane Campion, Laura Poitras, Mia Hansen-Løve e Shu Qi são as juradas do Festival de Veneza 2023 | Reprodução

As diretoras do Festival de Veneza 2023

No júri deste ano, temos a diretora Jane Campion (Ataque dos Cães), vencedora do Oscar 2022, como um dos principais nomes da bancada. Ela é acompanhada pela documentarista Laura Poitras (Citizenfour), a cineasta Mia Hansen-Løve (A Ilha de Bergman) e a renomada atriz asiática Shu Qi (Viva Erotica).

Dos 23 longas-metragens indicados para concorrer ao Leão de Ouro, apenas cinco são dirigidos por mulheres. Essa disparidade injusta persiste também nas demais mostras fora da competição principal. No entanto, apesar do número menor, todas essas cineastas possuem filmografias sólidas e muito diversas.

A seguir, apresentamos as diretoras que estão concorrendo aos principais prêmios do Festival de Veneza 2023:

Diretoras que concorrem à Competição Principal

A diretora Agnieszka Holland está concorrendo ao Festival de Veneza deste ano.
A diretora Agnieszka Holland | Imagem: Boriana Pandova

Agnieszka Holland

A diretora e roteirista polonesa Agnieszka Holland ficou conhecida, principalmente, por contribuições altamente políticas para o cinema polonês. Um deles é Filhos da Guerra (1990), que se baseia na história real de um judeu que, para escapar do Holocausto, se passa por um nazista na Juventude Hitlerista.

Como roteirista, Agnieszka é conhecida por colaborar nos roteiros de dois dos filmes da Trilogia das Cores, de Krzysztof Kieślowski (A Liberdade é Azul e A Igualdade é Branca). Entre seus trabalhos em Hollywood se destacam a direção de episódios de House of Cards e do filme O Jardim Secreto (1993).

Cena do filme "The Green Border", indicado no Festival de Veneza 2023
Cena do filme The Green Border | Imagem: Festival de Veneza 2023

Durante sua carreira, Agnieszka já recebeu um Prêmio da Crítica no Festival de Cannes por Atores Provincianos (1979) e três indicações ao Oscar. A primeira veio em 1986 por Colheita Amarga, como Melhor Filme em Língua Estrangeira, assim como Na Escuridão (2011). Filhos da Guerra foi indicado ao Oscar de Melhor Roteiro Adaptado em 1991.

A veterana chega ao Festival de Berlim com o filme The Green Border, sobre uma família síria que deixa a violência de seu país esperando chegar à Suécia. Lá, dão de cara com um turbilhão político que eles não esperavam.

A diretora Ava DuVernay é uma das diretoras que concorrem ao Festival de Veneza de 2023
A diretora Ava DuVernay | Imagem: Instituto de Cinema

Ava DuVernay

A americana Ava DuVernay é uma das diretoras mais conhecidas da lista, devido aos inúmeros trabalhos que já realizou no cinema e na televisão. Seu filme mais marcante talvez seja Selma (2014), que a tornou a primeira diretora negra a ser indicada a um Globo de Ouro, abordando a marcha realizada por Martin Luther King.

Desde o princípio, o cinema de Ava traz uma forte representatividade negra, tanto em seus protagonistas quanto em suas histórias. Ao explorar questões sociais agravadas pelo racismo, ela dirigiu e escreveu títulos premiados, como o documentário A 13ª Emenda e a minissérie Olhos que Condenam, ambas lançadas pela Netflix.

Cena do filme Origin, indicado no Festival de Veneza 2023
Cena do filme Origin | Imagem: Festival de Veneza 2023

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Em Origin (2023), filme que concorre ao Leão de Ouro, ela faz uma adaptação do livro escrito pela vencedora do Prêmio Pulitzer, Isabel Wilkerson. O longa, que aborda o sistema racial americano sob a perspectiva de uma sociedade baseada em castas, será o primeiro filme de uma mulher afro-americana a concorrer no Festival.

Fien Troch
Fien Troch | Imagem: Cineville

Fien Troch

Possivelmente, você ainda não tenha se deparado com o nome da diretora belga Fien Troch, mas vale a pena saber que ela já desempenhou um papel significativo no cenário do Festival de Veneza. Em 2016, seu filme Lar fez parte da Mostra Orizzonti, que busca destacar novos e promissores cineastas. Além da indicação a Melhor Filme, Fien conquistou o prêmio de Melhor Direção.

Dona de um estilo cinematográfico intimista e provocador, Fien, que também assume o papel de roteirista, se destaca em obras que exploram o microcosmo. Enquanto Lar (2016) traz à tona a história de um jovem que encontra abrigo na casa da tia após sair de um reformatório, Kid (2012) tem como protagonista uma criança abandonada por seus pais.

Cena do filme Holly, indicado no Festival de Veneza 2023
Cena do filme Holly | Imagem: Festival de Veneza 2023

Seu trabalho mais recente, Holly (2023), que compete na categoria principal, aborda uma comunidade traumatizada por um incêndio escolar, buscando conforto em Holly. O adolescente de 15 anos acaba se tornando involuntariamente uma figura de resgate para a cidade, à medida que a linha entre apoio e abuso se entrelaça rapidamente.

A diretora Malgorzata Szumowska
A diretora Malgorzata Szumowska | Imagem: wyborcza.pl

Malgorzata Szumowska

A diretora e roteirista polonesa Malgorzata Szumowska já recebeu prêmios em diversos festivais ao redor do mundo. No Festival de Berlim, por exemplo, conquistou um Teddy Award de Melhor Filme com Em Nome De… (2013), um Urso de Prata de Melhor Direção por Body (2015) e um Grand Prix do Júri por O Rosto (2018).

Além de ter sido membro do júri em diversos festivais, incluindo Berlim e Cannes, Malgorzata teve um de seus filmes selecionados na categoria de Melhor Filme Estrangeiro no Oscar (Nunca Mais Nevará, em 2021). Porém, talvez seu trabalho mais reconhecido seja Elas (2011), no qual Juliette Binoche interpreta uma jornalista escrevendo sobre prostituição infantil.

Cena do filme Woman Of, indicado no Festival de Veneza 2023
Cena do filme Woman Of | Imagem: Festival de Veneza 2023

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No Festival de Veneza deste ano, Malgorzata Szumowska concorre com Woman Of, co-dirigido por Michal Englert, seu parceiro de longa data no cinema. O enredo do filme gira em torno de Adam, um homem que luta para ser um bom marido e pai em uma pequena cidade polonesa. No entanto, ele começa a se sentir cada vez mais desconfortável em seu próprio corpo, o qual já não reflete sua verdadeira identidade.

A diretora Sofia Coppola
Sofia Coppola | Imagem: Salada de Cinema

Sofia Coppola

A cineasta e roteirista Sofia Coppola não precisa de apresentações. Desde sua estreia em 1999 com As Virgens Suicidas, ela tem se destacado como uma das diretoras mais influentes de Hollywood. Sua filmografia abrange uma variedade de histórias, todas com um elemento em comum: protagonistas femininas fortes e memoráveis.

Em 2003, com Encontros e Desencontros, Sofia recebeu suas primeiras indicações ao Oscar. Ela foi a terceira mulher a ser indicada nas categorias de Melhor Filme, Direção e Roteiro Original, tendo conquistado o prêmio nesta última. Alguns anos depois, Um Lugar Qualquer (2010), co-protagonizado por Elle Fanning, conquistou o Leão de Ouro no Festival de Veneza.

Cena do filme "Priscilla", indicado no Festival de Veneza 2023
Cena do filme Priscilla | Imagem: Festival de Veneza 2023

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Este ano, ela retorna à cidade para apresentar seu novo projeto: o drama biográfico Priscilla, baseado nas memórias de Priscilla Presley sobre sua vida com Elvis. Mesmo com a forte concorrência de outros filmes notáveis, é inegável que Priscilla é um dos filmes mais aguardados do Festival, graças à dedicada base de fãs de Sofia.

Diretoras que concorrem à Mostra Orizzonti no Festival de Veneza

O Festival de Veneza define a Mostra Orizzonti como uma competição voltada para “filmes que representam as últimas tendências estéticas e expressivas“. Nesta categoria, podemos esperar encontrar jovens talentos e filmes independentes menos conhecidos.

A diretora francesa Céline Rouzet, que também é jornalista, deu início à sua carreira no cinema com o documentário A Distant Thud In The Jungle. Após contar a história de uma família que decide deixar sua tribo na Papua Nova Guiné, ela chega ao Festival com o drama En Attendant La Nuit (2023).

Cenas dos filmes "En Attendant La Nuit" e "A Cielo Abierto", respectivamente, indicados no Festival de Veneza 2023
Cenas dos filmes En Attendant La Nuit e A Cielo Abierto, respectivamente | Imagem: Festival de Veneza 2023

No filme A Cielo Abierto, a mexicana Mariana Arriaga co-dirige ao lado de seu irmão, Santiago. A trama acompanha a jornada de três irmãos em busca de vingança pela morte de sua família. O roteiro, escrito por seu pai nos anos 90, marca o primeiro longa da carreira de ambos.

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A sueca Mika Gustafson ganhou reconhecimento em festivais com seu debut Silvana, que aborda a artista sueca feminista Silvana Imam. Seu segundo longa, Paradiset Brinner (2023) foca em duas irmãs que vivem sozinhas após o desaparecimento de sua mãe por um longo período.

Cena do filme "Paradiset Brinner", indicado no Festival de Veneza 2023
Cena do filme Paradiset Brinner | Imagem: Festival de Veneza 2023

E, sim, também temos uma diretora brasileira em Veneza! A alagoana Nara Normande dirigiu seu primeiro curta em 2011 (Dia Estrelado) e desde então acumula prêmios ao redor do mundo. Sem Coração, seu primeiro longa, é uma adaptação do curta homônimo lançado em 2014, co-dirigido por Tião.

Cena do filme Sem Coração, indicado no Festival de Veneza 2023
Cena do filme Sem Coração | Imagem: Festival de Veneza 2023

O filme parte das memórias da infância e adolescência de Nara no litoral alagoano. A trama segue Tamara, que aproveita suas últimas semanas em Alagoas antes de partir para estudar em Brasília. Ao ouvir sobre uma adolescente apelidada de “Sem Coração” devido a uma cicatriz em seu peito, Tamara passa a se sentir atraída por essa misteriosa jovem.

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Para encerrar a lista, temos o retorno de Zar Amir Ebrahimi aos festivais após receber a Palma de Ouro de Melhor Atriz por sua atuação em Holy Spider (2022). A atriz iraniana é bastante experiente e, em Tatami (2023), ela se desafia ao atuar tanto na frente quanto por trás das câmeras.

Cena do filme "Tatami", indicado no Festival de Veneza 2023
Cena do filme Tatami | Imagem: Festival de Veneza 2023

No filme, co-dirigido por Guy Nattiv, a atriz interpreta Maryam, uma treinadora da judoca iraniana Leila. Em pleno Campeonato Mundial, que pode resultar na primeira medalha de ouro para o Irã, a República Islâmica exige que Leila simule uma lesão e perca a partida. É nesse momento que a jovem se vê diante de uma escolha crucial: obedecer ao regime iraniano ou desafiá-lo e continuar a lutar.

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Jornalista recifense que passa metade do tempo vendo filmes sem continuação e a outra metade lendo romances de pessoas que já morreram. Também reviso textos, pratico yoga e treino minhas habilidades de confeiteira para sustentar meu vício em bolos gostosos.
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