É chegado o tão aguardado momento: The Sandman, série adaptada da obra-prima em quadrinhos do multifacetado autor britânico Neil Gaiman, estreia hoje, dia 5 de agosto, na Netflix. A obra, que conta com dez episódios de aproximadamente sessenta minutos, acompanha Morpheus (Tom Sturridge), o Rei dos Sonhos e dos Pesadelos, em busca da restauração de seu poder e do próprio reino, após passar anos aprisionado na Terra. Assistimos aos três episódios iniciais e trazemos aqui as nossas primeiras impressões. Confira!
Aviso: texto livre de spoilers
The Sandman é uma série de quadrinhos da Vertigo, um antigo selo da DC Comics, lançada na década de 80 e escrita por Neil Gaiman, com cocriação de Mike Dringenberg e Sam Kieth, que vem conquistando inúmeros fãs ao longo dos anos por sua magnitude e importância dentro da nona arte. Por meio de referências literárias, históricas, mitológicas e à cultura pop no geral, a obra mais famosa do autor agora ganha uma excelente – e muito esperada – versão para as telinhas, com produção de Allan Heinberg, David S. Goyer e do próprio Gaiman.
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Faltando poucos dias para a estreia da série, assistimos, a convite da Netflix, aos episódios “O sono dos justos”, “Anfitriões imperfeitos” e “Sonhe comigo” e podemos garantir: The Sandman é incrível! Muito fiel ao material original, a adaptação vem com força total e tem uma potência gigantesca para se tornar um dos fenômenos de sucesso da Netflix! Confira abaixo a sinopse oficial do streaming:
Há outro mundo que nos espera quando fechamos os olhos e dormimos – um lugar chamado Sonhar, onde Sandman, o Mestre dos Sonhos (Tom Sturridge), dá forma aos nossos medos e fantasias mais profundos. Mas quando Sonho é capturado de forma inesperada e passa um século aprisionado, sua ausência desencadeia uma série de eventos que mudarão tanto o Sonhar quanto o mundo desperto para sempre.
Para restaurar a ordem, Sonho precisará viajar por mundos e linhas do tempo diferentes, a fim de consertar os erros cometidos por ele ao longo de sua vasta existência, revisitando velhos amigos e inimigos, e encontrando novas entidades – cósmicas e humanas – pelo caminho.
A trama começa em 1916, com Sonho no encalço de Coríntio (Boyd Holbrook), um de seus pesadelos que fugiu do Sonhar para o mundo desperto (na série, o que os humanos chamam de “mundo real” é apresentado por Sonho como “mundo desperto”, uma vez que o Sonhar é tão real quanto o mundo material, pois tudo o que existe é concebido ali – pessoas, vontades, medos e os demais aspectos presentes na existência de tudo o que os rodeia), onde está causando uma série de assassinatos, indo de encontro ao propósito de sua criação.
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Contrariando o mau pressentimento de Lucienne (Vivienne Acheampong), a bibliotecária do Sonhar que o aconselha a não procurar pelo Coríntio, pois correria o risco de não voltar, Sonho segue o plano de capturar a criatura. Porém, no processo, acaba confinado em Wych Cross, Inglaterra, pelo magus Roderick Burgess (Charles Dance), o líder de uma seita ocultista que, na verdade, desejava aprisionar a Morte.
Sonho passa um século preso em uma redoma de cristal protegida por um sigilo. Sua ausência do Sonhar ecoa tanto no reino, que passa a desmoronar e a perder suas criaturas, quanto no mundo desperto, onde inúmeras pessoas são acometidas pela doença do sono (algumas delas entram em coma profundo, enquanto outras não conseguem dormir).
Cada dia mais enfraquecido e sem perspectivas de escapatória, Sonho se afunda em um sentimento de profunda tristeza e saudade de seus pares. Isso servirá de combustível para que ele, enfim, consiga se desvencilhar de seus algozes e, com a liberdade em mãos, buscar restaurar todos os erros do passado e as consequências causadas pelo seu cerco. Além disso, encontrará no percurso os seus itens de poder que foram roubados: a algibeira de areia, o elmo e o rubi.
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A série já começa com um fôlego excelente! Quem leu os quadrinhos sabe muito bem a quantidade de conteúdos presentes em cada um dos dez volumes da HQ. No entanto, a adaptação consegue focar muito bem no que é necessário desenvolver em um primeiro momento para, depois, preencher detalhes que faltam ao longo dos demais episódios.
O piloto de The Sandman, em pouco mais de cinquenta minutos, cumpre muito bem a função de introduzir o essencial daquele universo, de forma dinâmica e objetiva, mas sem perder a subjetividade do texto de Gaiman que é tão importante para a obra.
A trama, ainda, se preocupa em contar, por meio de flashbacks, as histórias de alguns dos demais personagens que cruzam o caminho de Sonho, para que no tempo presente da série a dinâmica entre eles e Morpheus seja compreendida da melhor maneira.
Mudanças significativas (e criativas) no roteiro de The Sandman
Além das mudanças nos gêneros e etnias de alguns dos personagens, os produtores de The Sandman, junto a Gaiman, adaptaram de forma criativa mais aspectos interessantes da narrativa que valerão a sua atenção, principalmente se você já leu os quadrinhos.
Na HQ, Roderick Burgess barganha o Livro Místico de Madalena com o Dr. John Hathaway (na série, interpretado por Bill Paterson), pois o antiquário perdera o filho em um naufrágio e o queria de volta. Portanto, Burgess prenderia a Morte para que pudesse reviver o rapaz e fizesse com que ele próprio se tornasse imortal e desfrutasse de uma vida de infinitas riquezas.
Porém, o Roderick Burgess da série tem outra motivação, íntima e familiar, para querer prender a irmã mais velha de Sonho. Trata-se de algo que acrescenta mais camadas à construção psicológica do personagem e de sua relação com Alex Burgess, seu filho (quando criança, interpretado por Benjamin Evan Ainsworth).
Além disto, a personagem Ethel Cripps (interpretada quando jovem por Niamh Walsh e, já adulta, por Joely Richardson), mãe de John Dee, um dos personagens mais importantes na jornada de Sonho, ganha um arco próprio e mais destaque dentro da série. Ela garante reviravoltas surpreendentes e ligações importantes com os demais capítulos de The Sandman.
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Mas talvez a mudança mais significativa em The Sandman, apresentada nestes primeiros episódios, seja o foco em Coríntio e em sua relação com Sonho. No quadrinho, o terrível personagem tem muito destaque no arco “A casa das bonecas”, que também será adaptado na série nos episódios finais desta primeira temporada.
No entanto, na adaptação da Netflix, os produtores decidiram colocá-lo em foco desde o primeiro episódio. Aqui ele se torna um arqui-inimigo importante do protagonista e um dos fio condutores na relação entre Sonho, o Sonhar, o mundo desperto e as pessoas e criaturas presentes nos dois lugares. É o Coríntio quem também explica aos espectadores o conceito dos Perpétuos e da importância deles para toda a existência.
The Sandman é uma série com muita representatividade!
O elenco de The Sandman se mostrou diverso desde o primeiro anúncio. Na série, além de Lucienne e Johanna Constantine (Jenna Coleman) assumirem seus papéis em gêneros diferentes aos dos personagens da HQ, há muita representatividade étnica, sobretudo de personagens negros, como a família inteira de Rose Walker (Kyo Ra), a Morte (Kirby Howell-Baptiste) e a própria Lucienne.
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Há também na série espaço para a representatividade LGBTQIA+: a série apresenta, já no início, personagens abertamente gays e bissexuais. O protagonismo feminino, algo tão marcante na obra de Gaiman e fator importante para que diversas meninas e mulheres se interessem pelo quadrinho, está muito presente na série. Johanna Constantine e Ethel Cripps, por exemplo, são dotadas de força e dinamismo em cena, o que torna suas aparições memoráveis.
Morpheus se torna mais humano em The Sandman
Tom Sturridge está excelente no papel de Sonho. O personagem dos quadrinhos, que reluta em demonstrar suas emoções por reviver diariamente seus traumas do passado, ganha profundidade na pele do ator. Desde a primeira aparição, mesmo sendo uma criatura séria e sóbria, ele convence os espectadores de toda a sua fragilidade e medo. Através da angústia do olhar, ora cansado, ora emocionado, o ator transmite tudo aquilo que Sonho não consegue verbalizar, por conta do peso de suas responsabilidades e aflições.
Suas interações com os demais personagens, principalmente Lucienne, seu braço direito no Sonhar, e com o núcleo dos irmãos Caim (Sanjeev Bhaskar) e Abel (Asim Chaudhry) são emocionantes (separe os lencinhos, desde o começo, para uma ou mais cenas).
Aspectos técnicos de The Sandman
Para além dos temas, referências e texto da série, The Sandman é também uma obra visualmente bela. A fotografia transporta os telespectadores para os universos fantásticos do quadrinho, onde é possível conviver com gárgulas gigantes, castelos imensos e portais entre mundos inimagináveis. É uma experiência complementada ainda pelos excelentes efeitos especiais.
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O Sonhar é um destes exemplos. Os telespectadores, portanto, são apresentados à extensão do reino dos sonhos e dos pesadelos pelos olhos de Jessamy, a ave guardiã de Sonho, em uma sequência de tirar o fôlego pelo mágico território e toda a sua amplidão. Cada plano-sequência e transição de cena são magníficos e ajudam a promover os aspectos oníricos da trama.
A trilha sonora original, presente em quase todas as cenas, nos envolve na atmosfera de sonhos e imaginação, o que potencializa a imersão na obra.
Dave McKean, o famoso capista do quadrinho, está presente em cada um dos episódios com uma arte diferente e interativa para os créditos finais, como já adiantara Gaiman em seu Twitter – uma linda homenagem ao artista e aos fãs da HQ.
The Sandman tem tudo para ser um grande sucesso de público, sobretudo para quem ama uma boa história de fantasia, com personagens bem-trabalhados, diversificados e cativantes, subtramas bem-desenvolvidas e um texto comovente: obra originalíssima desde o princípio, tem agora, nesta adaptação, mais uma forma de mostrar toda a potência da mente criativa de Neil Gaiman para os novos e antigos fãs do quadrinho, através da emoção e da magia que somente o audiovisual pode proporcionar. Uma série que, com toda certeza, povoará nossos sonhos por muito tempo!