Na segunda parte de Relembrando Sandman, veremos o desenrolar das narrativas apresentadas nos primeiros números do quadrinho, acompanhando o que acontece com Morpheus, seus irmãos e demais personagens que surgem na história, partindo do volume 6 ao 10 (“Fábulas e Reflexões”, “Vidas Breves”, “Fim dos Mundos”, “Entes Queridos” e “Despertar”). Você pode conferir a primeira parte do resumo aqui.
Sandman, Volume 6: Fábulas e Reflexões
Em “Fábulas e Reflexões”, Neil Gaiman optou por escrever pequenas histórias que acompanhassem novos e diferentes personagens, fugindo da narrativa central, contos nos quais Morpheus os demais Perpétuos aparecem mais como coadjuvantes e servem como um auxílio para o enfrentamento das diversas problemáticas envolvendo os protagonistas das histórias.
Neste sentido, ele buscou fazer jus à característica que o quadrinho possui desde os seus primórdios de ser uma história sobre histórias, ampliando os universos sob domínio de Morpheus.
Os temas dos contos giram em torno da noção de prisão e liberdade, um resgate do tom que “Prelúdios e Noturnos” apresenta aos leitores de Sandman. Outro ponto importante é a inserção de personagens históricos famosos, como é o caso do imperador romano Caius Augustus, em “Agosto”, e Robespierre, em “Thermidor”.
“Medo de Cair”: Todd Faber é um dramaturgo que sofre de ansiedade e não se sente preparado e capacitado para colocar suas histórias no mundo, uma vítima da famigerada “Síndrome do Impostor” (ou, como Amanda Palmer, cantora e esposa de Gaiman chama, a “Polícia da Fraude”). É por meio de um sonho, em que ele precisa escalar uma imensa montanha, que encontra Morpheus e Matthew, o corvo de estimação do Perpétuo, esperando por ele no topo.
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A figura da montanha é uma metáfora para a escalada que, em vida, o autor precisa fazer para alcançar os seus objetivos, mesmo carregando consigo o medo de altura, o medo de cair. Eles conversam sobre as inseguranças de Todd e, no decorrer do sonho, o homem se dá conta de que deve encarar o seu ofício de contar histórias de qualquer maneira. Morpheus ainda brinda os leitores com a famosa citação:
Morpheus: “Às vezes é um erro subir. Mas é sempre um erro nunca tentar… Se você não subir, não vai cair. Isso é verdade. Mas é tão ruim e tão difícil assim cair? Às vezes você acorda e às vezes, sim, você morre. Mas há uma terceira alternativa.”
Todd, ao acordar: “Às vezes você acorda. Às vezes a queda te mata. E às vezes, quando você cai… Você voa.”
“Três Setembros e um Janeiro”: Ambientado na São Francisco de 1859, acompanhamos Joshua Abraham Norton, um homem que está aflito e sem saber qual rumo tomar na vida. Ele é induzido por Desespero a tirar a própria vida, mas Morpheus intervém e propõe que eles disputem a vida dele. Delirium e Desejo também entram na aposta, Norton decide continuar a viver e, para tanto, se autoproclama Norton I, o Primeiro Imperador dos Estados Unidos.
Os Perpétuos passam o conto inteiro tramando uns contra os outros para conseguirem ele para si. O personagem de fato existiu e foi visto como uma grande piada para os cidadãos estadunidenses, se tornando uma figura excêntrica amplamente divulgada pela mídia e inspiração para esta história.
“Thermidor”: Johanna Constantine, antepassada de John Constantine, recebe a visita de Morpheus, que lhe pede um perigoso favor: ela terá de enfrentar os terrores da Revolução Francesa, também conhecida como o período de Thermidor, para recuperar a cabeça de Orfeu, filho de Sonho. Ela se disfarça e perambula pelas ruas, conferindo montanhas de corpos para encontrar a cabeça do rapaz, mas acaba sendo capturada pelos guardas franceses e é presa no Palácio de Luxemburgo, onde enfrenta Robespierre e, do embate, tem-se o fim da era de trevas e horrores da França.
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“A Caça”: Para entreter a neta adolescente que está entediada, um avô decide contar uma história sobre tempos e lugares longínquos, onde vivia o jovem Vassily, um rapaz humilde que, certo dia, se depara com uma senhora vendendo artigos diversos. Ela carrega uma miniatura com a foto de uma bela jovem, pela qual Vassily se apaixona perdidamente. Ele decide, portanto, roubar o objeto da mulher e, de quebra, carrega consigo um estranho livro. Lucien, o bibliotecário do Sonhar, aparece repentinamente e insiste para que o rapaz devolva o exemplar, uma vez que ele havia sumido de seu reino e Morpheus não poderia sequer cogitar o seu desaparecimento.
Para tanto, o jovem devolveria o livro a Lucien com uma condição: que lhe desse a garota dos seus sonhos. No entanto, nem tudo sairá como planejado para ele. O conto fala sobre memória e a importância do ato contar histórias, que dentro da relação entre o avô e a neta tornou-se algo prazeroso à medida que ela se permitiu ouvir o que o avô tinha para lhe contar.
“Agosto”: Nesta história, os leitores acompanham o imperador da Roma Antiga, Caius Augustus, já idoso, pedindo ajuda a Lícius, um ator, para se transformar em morador de rua por um dia. Caius relata ao jovem que, uma vez ao ano, ele se disfarça e perambula pelas praças do local, por conta de um pedido que recebera em sonho, do que ele acreditava ser um deus (na verdade, se tratava de Morpheus).
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De acordo com a entidade de seu sonho, no dia do disfarce Caius também ficaria invisível para os deuses. Conforme relembra seus anos de glória, batalhas e dificuldades, ele revive também o fantasma da convivência com seu tio, Júlio César, responsável por um trauma gigantesco de sua infância e por quem ele nutre um ódio profundo.
“Regiões Brandas”: O jovem explorador Marco Polo perde-se de sua caravana em um deserto e encontra Rustichello de Pisa, o famoso escritor das aventuras e explorações de Marco. Ambos estão em uma dimensão do Sonhar, acompanhados pelo personagem Verde do Violinista (Gilbert, que aparece também em “A Casa das Bonecas”), e os três conversam sobre a natureza dos sonhos e o real significado da realidade como achavam conhecer.
“A Canção de Orfeu”: Gaiman resgata nesta história o personagem que fora apresentado em Thermidor como sendo filho de Morpheus, Orfeu, cuja mãe é a musa Calíope. A narrativa apresenta o enlace entre o jovem rapaz e Eurídice, sua amada, antes dos desdobramentos trágicos na vida de ambos e de Orfeu perder a cabeça. Ele apresenta a jovem para a família dos Perpétuos, que aqui aparecem com suas personificações de entidades gregas, sendo elas Teleute (Morte), Aponoia (Desespero), Mania (Delirium), Epitúmia (Desejo), Oleteros (Destruição) e Potmos (Destino).
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“O Parlamento das Gralhas”: Nesta história, Daniel, filho de Lyta Hall gerado no Sonhar, viaja para lá e conhece Eva, Caim e Abel, que contam a ele algumas histórias. Eva fala sobre as três mulheres de Adão, ela mesma, Lilith e Aquela sem Nome. Além disso, Caim e Abel se revezam para narrarem a história que dá título ao quadrinho, em que diversos pássaros pretos se reúnem para decidir o futuro de um deles. Fica evidenciado que algumas das histórias bíblicas mais famosas aconteceram na dimensão do Sonhar.
“Ramadã”: Por fim, em “Ramadã”, mês sagrado de jejum que ocorre no nono mês lunar muçulmano, acompanhamos uma das histórias favoritas de Gaiman, que foi contada, ilustrada e escrita de forma que contemplasse a cultura árabe. Tudo começa quando Haroun al-Raschid, um califa de Bagdá, chama por Morpheus para que os dois negociem um bom lugar para ele na eternidade: ele deseja comprar um cidade no Sonhar, contanto que este lugar nunca venha a perecer, o que Morpheus aceita.
Volume 7: Vidas Breves
Dividido em nove capítulos, “Vidas Breves” volta a acompanhar a rotina dos Perpétuos, sobretudo os problemas envolvendo Morpheus.
Já no capítulo um, os leitores reencontram Delirium tentando a qualquer custo convencer Desejo e Desespero a lhe ajudarem a encontrar Destruição, que continua desaparecido.
Em outro lugar, Andros, um novo personagem, vai a um templo e encontra o túmulo de Johanna Constantine. A cabeça de Orfeu também o espera e conversa com o homem, estando conservada ali há milênios.
No capítulo dois, os leitores voltam ao Sonhar para acompanharem Morpheus novamente em estado de profunda tristeza por ter terminado com uma namorada. É aí que Delirium, ainda em busca de Destruição, aparece e intervém na tristeza do irmão, fazendo-o sair com seus amigos e evitar ter pensamentos ruins.
Já no terceiro capítulo, Morpheus e Delirium decidem sair em busca de Destruição, porém, aparentemente, criam uma onda no tecido do cosmos que passa a matar, de formas catastróficas, os chamados “os antigos”, pessoas que sobreviveram ao milênio ao redor do mundo.
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Os dois, em busca de entender o que está acontecendo, viajam inicialmente para Dublin, a fim de encontrarem Pharamond, um antigo deus que assumira a persona de sr. Farrell, dono de uma agência de viagens. Em uma ilha, em outro lugar, Destruição está acompanhado de seu cachorro, Barnabé, enquanto faz uma pintura do lugar. Quando termina o desenho, observa que em seu “sistema de alerta iminente” há um grande perigo chegando, e que os irmãos Morpheus e Delirium estão indo ao seu encontro.
Na continuação de “Vidas Breves”, no capítulo quatro, conhecemos Alder Man, um homem que também pertencia aos antigos e que recebe um alerta de que, na verdade, o abalo no cosmos partira de uma amostra não natural de Luzes do Norte. Ele se preocupa com o alerta, se transforma em urso, arranca de si a sua sombra, que passa a existir no mundo normalmente, enquanto ele, em forma de animal, foge para uma floresta.
Delirium e Morpheus vão ao funeral de um dos antigos, chamado Bernie Capax, que morrera esmagado por um prédio. Lá eles encontram Danny, o filho do falecido, que conta aos dois que descobrira os inúmeros disfarces que o pai carregava em vida.
Em um hotel, Delirium tenta localizar o grupo de antigos que são amigos de destruição, enquanto Ruby DeLonge, uma motorista arranjada pelo sr. Farrell, fuma na cama. Delirium encontra apenas Ishtar, uma dançarina. Morpheus consulta Lucien para saber dele qual foi a última vez em que viu Destruição. Havia sido em 1685.
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Os pensamentos de Sonho são interrompidos quando ouve a sirene dos bombeiros e descobre que Ruby havia adormecido e seu cigarro incendiara todo o prédio, causando, também, a morte dela. Morpheus questiona a coincidência das mortes de Bernie e Ruby.
Seguindo adiante, no quinto capítulo somos apresentados brevemente à vida de Ishtar, acompanhando, depois, Morpheus e Delirium dirigindo um carro alugado para eles por Farrell. Por estar em alta velocidade, a garota é parada por um policial e acaba induzindo-o a pensar que estava com o corpo coberto de insetos para que conseguisse fugir.
Morpheus pede ajuda a Matthew para que ele auxilie Delirium a dirigir e os três vão parar em Suffragette City, em um clube de strip, onde a deusa Ishtar trabalha como dançarina. Ela conta a eles que não saberia dizer o paradeiro de Destruição e, quando os Perpétuos e o corvo vão embora, ela dança pela última vez e se desfaz em um brilho descomunal, que mata a todos naquele lugar, menos sua amiga Tiffany, a quem ela permitiu sobreviver.
No capítulo seis, temos um vislumbre do esconderijo de Destruição, que a cada hora que passa fica mais aflito com a chegada inevitável de seus irmãos Perpétuos. Morpheus desiste de procurar pelo irmão e se isola no Sonhar, onde passa a pensar em todo o mal que estavam causando às outras pessoas. Ele decide, então, visitar a deusa Bast, que no arco “Estação das Brumas” contara a ele que sabia do paradeiro de Destruição.
Voltando ao Sonhar, e após conversar com Lucien e Mervyn sobre uma pequena contenda entre os dois, Morpheus recebe a visita da Morte, que está muito brava com ele por ter abandonado Delirium nas buscas pelo irmão.
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Morpheus vai ao reino de Delirium, e após constatar que a irmã estava em um estado crítico, decide retomar as buscas e continuar ajudando.
Sonho e Delirium encontram Destino em um parque de diversões, no capítulo sete. O irmão diz a Morpheus que não sabe do paradeiro de Destruição, e que ele deve procurar um oráculo, ao que Morpheus se enfurece.
Destino lembra ao irmão que Orfeu, seu filho, é um oráculo, a quem Morpheus pode consultar. Ele vai até Orfeu e o rapaz lhe diz que Destruição está morando em uma ilha ali perto.
Delirium e Morpheus partem para a ilha e, chegando lá, são recebidos com festa por Destruição, que admira a mudança que os irmãos sofreram ao longo dos anos em que estiveram separados. O anfitrião, então, os convida para jantar e conversar.
A conversa se desenvolve no capítulo oito, quando eles relembram acontecimentos do passado, e Morpheus insiste para que Destruição volte com eles. Eles não conseguem convencê-lo a sair da ilha e acabam indo embora, deixando Destruição para trás.
No entanto, Morpheus teria uma tarefa ainda mais difícil para realizar em seguida: na conversa que tivera com Orfeu no templo, prometera, em troca da informação sobre o paradeiro do irmão, matar Orfeu a pedido dele próprio.
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No desfecho do arco, no nono capítulo, Morpheus tira a vida de Orfeu, um acontecimento importante que une tudo o que aconteceu antes em Sandman e o que ocorrerá dali para frente.
Volume 8: Fim dos Mundos
Na primeira história do arco, “Um conto de duas cidades”, acompanha-se, como o nome sugere, duas histórias que se passam em locais distintos, unidos pela natureza do Sonhar: na primeira, dois viajantes de carro precisam se abrigar de uma tempestade de neve e decidem entrar na estalagem Fim dos Mundos, um local considerado uma zona branda entre o tempo e o espaço, que reúne diversas pessoas, criaturas e contadores de histórias, que chegam ali por acaso ou escolhem estar no lugar.
Já em “Conto”, uma narrativa claramente lovecraftiana, um homem procura entender se está dormindo trancado em uma cidade de sonhos, ou se passeia desperto pelos sonhos que a própria cidade tem no momento. Uma conversa entre ele e outro personagem busca analisar se as cidades, assim como os organismos vivos, também têm consciência e, portanto, também sonham.
Em “Cluracan’s Tale” temos o resgate do personagem Cluracan, que aparece pela primeira vez em Sandman no arco “Estação das Brumas”, sendo enviado pela Rainha Titânia para a cidade de Aurélia em missão diplomática. Lá, ele participa de uma reunião organizada pelo povo das planícies, mas acaba desacatando Inocente XI, psicopompo da Igreja Universal Aureliana, e termina se tornando prisioneiro no local.
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Nuala, sua irmã que ficara no Sonhar desde os eventos em “Estação das Brumas”, pede intercessão pela prisão de Cluracan a Morpheus, que acata o pedido da jovem. Cluracan, então, toma o poder do psicopompo para si e causa enormes problemas em Aurélia.
Na história seguinte, intitulada “Leviatã de Hob”, Margareth, uma menina de 13 anos, se veste de menino e embarca em diversas aventuras marítimas, a bordo de três barcos: o primeiro deles, chamado O Espírito de Whitby, o segundo Pyramus e, por fim, A Bruxa do mar, cujo dono era Hob Gadling, o amigo imortal de Morpheus.
Jim, como a garota se apresentava às tripulações, é aceita como membro da embarcação e, certa vez, chega a avistar uma enorme serpente em alto mar. A garota tem vontade de contar esta história na estalagem Fim dos Mundos, mas é advertida por Hob para que guarde consigo o segredo.
A história de Prez Richard, o primeiro presidente adolescente dos Estados Unidos, é contada para Brant Tucker por um homem que se denomina “o procurador”, em um dos quartos da estalagem Fim dos Mundos. Segundo ele, o jovem e idealista Prez se torna presidente dos Estados Unidos e promove diversas melhorias no país, o que irrita Boss Smiley, o arqui-inimigo dele. Smiley tenta a qualquer custo atrapalhar os planos de governo do garoto, inclusive mata a sua namorada, o que faz com que Prez fique extremamente desmotivado.
Quando Prez morre, é acolhido por Morpheus, que concede a ele o poder de transitar pelos mundos, ajudando os mais necessitados e continuando seu plano de melhoria social.
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Litharge é a protagonista da próxima história, “Sudários”, sendo ela uma cidade de ritos funerários. A história dela é contada por Destruição na estalagem, disfarçado de “O Viajante”. Os Perpétuos, inclusive, utilizam Litharge para velar seus mortos, uma vez que o local é extremamente eficiente no que faz.
O tema da morte e do fechamento de ciclos vai se tornando cada vez mais constante deste ponto até o final do quadrinho, assim como na última história do arco, “Fim dos Mundos”, em que os demais frequentadores da estalagem vivenciam um acontecimento surpreendente e que, devido à sua força, causa uma tempestade que reverbera em todos os mundos. Tal acontecimento culmina, mais adiante, no processo funeral do próprio Morpheus.
Volume 9: Entes Queridos
É chegado o penúltimo volume de Sandman. Em “Entes Queridos” temos o ápice da história de Morpheus. Aqui há uma carga emocional muito forte no quadrinho, justamente por acompanhar o personagem e suas difíceis questões psicológicas, que ao longo da obra vão piorando gradativamente, enquanto Sonho se deteriora, de dentro para fora, cada vez mais.
Neste volume, personagens de arcos anteriores, como Rose Walker e Lúcifer reaparecem, e desfechos precisarão acontecer – para o bem ou para o mal.
Em “O Castelo”, prólogo de “Entes Queridos”, um homem passeia pelo Sonhar sendo guiado por Lucien, o bibliotecário. Ele conhece algumas das figuras marcantes do local, como Caim e Abel, e termina seu passeio conversando com Morpheus, antes de ser acordado na Terra pelo operador do hotel em que trabalha.
Assim começa o arco; no capítulo um, As Três aparecem brevemente fiando, medindo e cortando o fio da vida das criaturas vivas; em outra cena, Lyta Hall conversa com a amiga Carla em seu apartamento, sobre a preocupação que tem com o filho, Daniel, agora com três anos, e que seria capaz de qualquer coisa caso o filho dela, algum dia, fosse machucado.
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Um tempo depois, ela está na boate Lux, criada por Lúcifer em Los Angeles, onde ele é também pianista. Lyta vai atrás de uma vaga de emprego, mas tem um pressentimento de que algo ruim aconteceu em casa. Chegando lá, percebe que Daniel sumira.
No Sonhar, Morpheus está recriando o Coríntio e conversa com Matthew sobre a existência de outros corvos antes dele. O corvo pergunta a Morpheus sobre o seu próprio destino, mas o Perpétuo não responde e Matthew vai se abrigar na caverna de Eva.
Na segunda parte de “Entes Queridos”, acompanhamos Lyta sendo ouvida por dois detetives, Fellowes e Pinkerton, sobre o desaparecimento de Daniel. Ela conta que chegara em casa e encontrara a babá dormindo e o filho havia sumido. Questionada pelos dois homens sobre o interesse de alguém em sequestrar Daniel, ela diz que “ninguém real” teria este interesse, o que deixa subentendido que ela pensa em Morpheus como o primeiro suspeito (Daniel é uma criança gerada e nascida no Sonhar; logo, Morpheus acreditava que ela também tinha parte de si).
Na dimensão do Sonhar, Cluracan aparece e, após procurar Morpheus em uma sala em que não poderia entrar, se depara com um espelho cuja imagem reflete a de Morpheus, porém, no decorrer da história, saberemos que aquele era Daniel, na verdade.
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Cluracan sente-se mal, vomita um cervo selvagem, que o ataca, mas é salvo por Nuala, sua irmã. O personagem conta a ela sobre sua visita à cidade de Aurélia e à estalagem Fim dos Mundos, e que quando contou sobre suas andanças e o que vira na estalagem à Rainha Titânia, ela ordenou que ele resgatasse a irmã do Sonhar.
Os dois conversam com Sonho sobre a possibilidade de ele libertar Nuala, o que acontece.
Mesmo receosa por sair do local, afinal, havia se apaixonado por Morpheus, a garota parte com o seu irmão, mas antes recebe de Sonho um amuleto que poderia ser usado para invocá-lo em qualquer momento e lugar.
No mundo real, Lyta Hall está enlouquecendo com a ausência do filho; quando sonha, encontra As Três em um porão e elas a chamam de “neta” e dizem que a encontrarão novamente.
Seguindo o arco, na parte três vemos Loki, o deus nórdico da trapaça que também aparecera em “Estação das Brumas”, e Puck, criatura do reino das fadas, conversando em uma sala e alimentando uma fogueira com lenha. Descobrimos, através da conversa, que foram os dois que sequestraram Daniel e planejavam jogá-lo no fogo.
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Em um cemitério, acompanhamos Hob Gadling parado em frente ao túmulo de sua última amada, completamente desnorteado. Ao sair do local, ele encontra Morpheus que o convida para ir a uma taverna, onde conversam, mas Sonho logo vai embora por ficar angustiado.
No trecho seguinte, há um vislumbre de como os Perpétuos estão naquele momento: Destino, em seu jardim, vê a si mesmo caminhando ao longe, Desejo se tranca em seu reino, Desespero percebe que o selo de Delirium ficara preto e ela se transforma em peixinhos coloridos, mas depois volta ao seu normal para procurar Barnabé, o cachorro que Destruição deu a ela de presente, mas que estava desaparecido.
No fim do capítulo, a polícia procura por Lyta a fim de mostrar a foto de um corpo carbonizado, que possivelmente seria o de Daniel. Ela sucumbe ao desespero e pensa em Morpheus e em sua intromissão na vida dela e do filho, e que ele havia prometido que um dia retornaria para buscar a criança. Enquanto vaga sem rumo, pensa em quais atitudes deverá tomar.
Remiel, um dos anjos que recebeu a chave do Inferno em “Estação das Brumas”, procura por Lúcifer e o questiona se ele não voltaria a governar o lugar. Lúcifer não responde, apenas ri de Remiel.
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Na passagem seguinte, Lyta começa a sua estranha peregrinação em busca de respostas sobre o desaparecimento do filho. No caminho, encontra criaturas mágicas, como um herói tentando libertar de uma torre a sua amada, uma rainha que foi transformada em ciclope, e uma mulher/gata que estava indo enfrentar um ogro metamorfo.
No apartamento de Rose Walker, ficamos sabendo que era ela a babá de Daniel no momento do sumiço da criança; Carla, a amiga de Lyta, diz à garota que a polícia quer conversar com ela. Rose acha suspeito o cartão que recebeu estar totalmente em branco.
Seguindo em sua jornada, Lyta encontra duas mulheres, chamadas Stheno e Euryale, que estão vestidas de noiva e a oferecem uma maçã. Elas a levam até uma árvore em um jardim, onde encontram Geryon, uma serpente de três cabeças, que explica à Lyta que aquela era a árvore da vida, ao contrário da árvore do conhecimento que aparece na Bíblia. Contrariando o que pedem, a mulher morde a maçã da árvore da vida.
No Sonhar, Morpheus finaliza o Coríntio e aguarda a que Lyta chegue.
Stheno e Euryale observam Lyta adormecida no capítulo cinco; ela, agora, tem serpentes no lugar dos cabelos. Quanto mais tempo passar com as duas mulheres, mais ficará parecida com Medusa, a irmã górgona que foi morta.
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Rose fica sabendo que Zelda, uma das Mulheres-aranha que aparece em “A Casa das Bonecas”, desenvolveu complicações devido à AIDS e está morrendo. Ela vai visitá-la e Zelda, após um cochilo, acorda com uma mensagem da falecida avó de Rose, Unity, que pede para que ela durma onde ela costumava repousar e, assim, encontrará seu coração.
Enquanto isso, no Sonhar, Morpheus, que havia finalizado o Coríntio, conversa com a nova versão da criatura. Sonho pede que ele se una a Matthew e resgate Daniel.
Carla procura por Fellowes e Pinkerton, mas aparentemente nenhum dos dois existe de fato. Daniel tenta se comunicar com ela por meio de fotografias de seu corpo, e mais tarde Loki, transformado em Pinkerton, a mata.
Na parte seis, o foco da história é voltado para Rose, que viaja para a Inglaterra e vai ao asilo em que Unity vivera por toda a vida, enquanto estava adormecida. Lá ela encontra a representação d’As Três, que lhe contam uma história, e Paul McGuire, proprietário do local. Paul é o esposo de Alex Burgess, que ainda vive ali, adormecido há cinco anos desde os eventos de “O sono dos justos”.
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Já na parte sete, Thessaly retorna à trama e vai até Los Angeles encontrar Lyta, que está vagando no mundo real, mas com a mente em outro lugar, ainda com As Fúrias. Thessaly a envolve em um círculo de proteção para que fique segura.
Quando conversa com Stheno e Euryale, Lyta pede que elas a ajudem a se vingar de Morpheus pela morte de seu marido e pelo rapto e assassinato de Daniel, mas As Fúrias contam que isto não é o suficiente para trazer-lhe a vingança. Elas, no entanto, dizem que Morpheus pode ser castigado por ter matado Orfeu.
Morpheus recebe a visita de Odin no Sonhar, que conta a ele que não foi o verdadeiro Loki que se libertou da prisão no núcleo da Terra, e o deus acredita que Morpheus tenha relação com isto. Morpheus, no entanto, não confirma nem nega que soltou Loki, e de qualquer forma é alertado por Odin que, se o plano dele é ter poder sobre o deus da trapaça, algo catastrófico poderia acontecer.
Na parte oito, Coríntio e Matthew analisam o corpo de Carla e descobrem que ela foi morta por Loki. Morpheus recebe a visita d’As Fúrias, pensando se tratar de Lyta Hall. As três figuras, no entanto, são denominadas Entes Queridos, e estão ali para buscar vingança. Elas querem que Morpheus se submeta a elas, do contrário, destruiriam tudo aquilo que ele mais amava.
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Rose visita a antiga mansão da família Burgess acompanhada de Paul McGuire. Ela visita os cômodos que apareceram pela primeira vez em “Prelúdios e Noturnos”, conhece a enorme biblioteca de Roderick e desce ao porão, onde Morpheus fora aprisionado. Lá ela encontra Desejo, que se apresenta a ela como seu avô. Rose conversa brevemente com elu, dizendo que odeia o amor, pois não gosta da vulnerabilidade que o sentimento carrega. Quando Paul a procura, encontra Rose adormecida no chão, com um isqueiro em art déco em formato de coração ao seu lado.
Coríntio e Matthew encontram Loki em Svartalfheim. Coríntio tortura o deus até que ele lhe entregue Daniel.
As Fúrias matam O Verde do Violinista no Sonhar, e Morpheus, temendo que a situação piore, viaja para a Terra e encontra Lyta envolvida pelo círculo de proteção de Thessaly. Os dois conversam e Morpheus descobre que foi a feiticeira quem causou a perturbação sentida por ele no começo do arco “Vidas Breves”.
Após libertarem Daniel, na parte dez de “Entes Queridos”, o Coríntio precisa, ainda, combater Puck, parceiro de Loki no rapto da criança, que surge na cena, mas ele acaba fugindo para a Terra das Fadas. Quando o Coríntio vai embora, Thor e Odin aparecem e trancam novamente Loki em sua antiga prisão.
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Enquanto isso, as Fúrias continuam barbarizando o reino do Sonhar; elas matam Abel e Mervyn Pumpkinhead, e Morpheus percebe que elas só descansarão quando o matarem.
Na parte onze, acompanhamos o Coríntio voltando ao Sonhar com Daniel. Lá, ele encontra Caim, que conta sobre o ataque das Fúrias e as mudanças trágicas que aconteceram no lugar até então. Eles aguardam a chegada de Morpheus, que pouco depois volta para o seu reino e é atacado pelos Entes Queridos com um chicote cheio de escorpiões. Tendo seu corpo e a moral feridos, Morpheus tenta ao máximo resistir sem se alterar.
No fim desta parte, os Entes Queridos somem, mas sabemos que Morpheus ainda os enfrentará.
Portando o elmo e o manto, Morpheus viaja ao lado de Matthew para o limiar do pesadelo, a fim de encontrar os Entes Queridos, na parte doze. Ao chegar lá, percebe que as criaturas não chegarão a um acordo; elas querem realmente a sua morte. Morpheus ordena que Matthew volte ao Sonhar carregando os seus pertences e que avise Morte para encontrá-lo.
Rose Walker avisa Hall, o dono do casarão em que morou na Flórida, sobre a morte de Zelda e Delirium pede ajuda a Lúcifer e Mazikeen em frente ao clube Lux.
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Por fim, no capítulo treze, relembrando a famosa cena de “O som de suas asas” em que conversam em um parque de Nova York, Morte vai ao encontro do irmão em um precipício. Ele diz estar muito cansado e Morte tenta convencê-lo a não se entregar, o que não surte efeito algum.
Morte pede que Morpheus segure em sua mão e o carrega. Ele morre, e sua morte reverbera em todos os cantos; Delirium percebe que o irmão morreu ao mesmo tempo em que encontra Barnabé, Lyta volta à consciência, assim como Alex Burgess no asilo na Inglaterra e Daniel, que brincava com uma esmeralda no Sonhar, vê a pedra se tornar um colar e ele se transforma na nova faceta do Sonho, que aparece agora vestido inteiramente de branco.
Sandman, Volume 10: Despertar
É chegada a hora de se despedir definitivamente de Morpheus e de seus irmãos Perpétuos. “Despertar” é um epílogo para a morte de Sonho, em que ocorre um funeral e o reaparecimento de diversos personagens que fizeram parte da jornada do personagem. O arco é dividido em três história sobre o velório, o funeral e o que veio depois do desfecho de Morpheus e, para que os fãs não se sentissem tão desamparados com o final da série, Gaiman criou mais três histórias envolvendo personagens marcantes de Sandman, como Hob Gadling e William Shakespeare.
“Despertar, capítulo um: que acontece no velório do que partira anteriormente” – Todas as criaturas que uma vez tiveram contato com Morpheus, sentem a sua Morte. Em Litharge, a necrópole, os Perpétuos, com exceção de Destruição, se reúnem e enterram um golem representando Morpheus para que, assim, iniciem o processo do funeral dele no Sonhar.
No mundo desperto, as pessoas dormem e sonham com o Sonhar, preparando-se para a cerimônia. Figuras importantes em Sandman, como a Rainha Titânia e Nuala, Rose Walker e Alex Burgess, participam da ocasião.
Daniel, que agora tomara o posto de Morpheus, dá os primeiros passos como o novo Sonho e percebe as responsabilidades que teria de encarar pela frente.
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“Despertar, capítulo dois: no qual acontece o velório” – Personagens continuam chegando ao Sonhar e discursos são feitos para que se despeçam de Sonho. Daniel pergunta se pode comparecer à cerimônia, mas Lucien diz que, pelas regras, a família não poderá recebê-lo enquanto o funeral não terminar.
“Despertar, capítulo três: no qual despertamos” – O funeral se encerra e o corpo de Morpheus é colocado em um navio, que some ao navegar, fazendo com que a antiga faceta do Sonho ganhe seu lugar entre as estrelas. Daniel conversa com Matthew, diz perdoar sua mãe pelas atitudes impensadas que tomara e conhece a sua família pela primeira vez.
“Domingo de Luto” – Hob Gadling, o imortal amigo de Morpheus, está em uma feira sobre a Renascença com sua nova namorada. Eles conversam sobre o período e as atrocidades da escravidão, que Hob vivenciara ao longo dos seus mais de 600 anos.
Pouco depois, ele encontra Morte em um prédio abandonado. Ela o informa sobre a morte de Morpheus e pergunta se ele também deseja partir. Após pensar na proposta, Hob decide continuar a viver e testemunhar o que o futuro reservaria para a humanidade.
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“Exílios” – Um homem chamado Li viaja por uma região branda, sendo exilado pelo imperador do local em que morava por conta de seu filho, que havia trazido inúmeros infortúnios ao povo. No caminho, encontra a antiga faceta de Morpheus e, logo depois, Daniel, que pede para que o homem, notoriamente sábio e sério, se torne seu conselheiro. O homem nega o pedido e diz apenas querer voltar para a cidade de Wei, onde passa o resto da vida como exilado.
“A Tempestade (com material adicional por William Shakespeare)” – Em “A Tempestade”, vemos uma continuação da história “Sonho de uma noite de verão”, em que Morpheus assiste à peça de Shakespeare com a comitiva da Terra das Fadas. Nesta nova aparição de Shakespeare, ele e Sonho conversam sobre a criação literária e, sobretudo, a graça de contar histórias. Alguns aspectos presentes na obra de Shakespeare que dá título à história são levemente pincelados ao longo do conto, assim como acontece em “Sonho de uma noite de verão”. O ciclo se fecha.
Assim, Morpheus e suas demais criaturas mágicas encerraram seu ciclo nos quadrinhos. Com sua metaficção envolvida em tramas instigantes e acontecimentos surpreendentes, Sandman continuará sendo atemporal e um imenso presente de Neil Gaiman para os fãs de quadrinhos, literatura e mitologias no geral.